Dezessete e setecentos
.
Não se fazem mais músicas como essa. Essa Música é de Luiz Gonzaga e Miguel Lima, e dá origem à própria carreira de cantor de Luiz Gonzaga. Diz o próprio sítio oficial de Luiz Gonzaga (www.luizluagonzaga.com.br): “Nessa época (1943), irritado com a interpretação dada por Manezinho Araújo para a sua “Dezessete e Setecentos”, parceria com Miguel Lima, o sanfoneiro passa a cantá-la. Chovem cartas pedindo que ele continue cantando e a RCA acaba se convencendo a deixá-lo gravar com sua voz.”
Essa música me leva a uma reflexão. Numa época em que continuam pululando canções de amor, quando não descambam em alguns casos para a sexualidade explícita – bem interessante é cotejar a música Canção de Protesto, de Caetano (De minha parte/Às vezes não aguento/Noventa e nove e um pouco mais por cento/Das músicas que existem são de amor/E quanto ao resto) com a conhecida Silly Love songs, de Paul McCartney (You’d think that people would have had enough of silly love songs. But I look around me and I see it isn’t so.), todas as pessoas que conheço, ao ouvir a antiga música Dezessete e setecentos, de Luiz Gonzaga, inevitavelmente abrem um sorriso, gostam dela, querem ouvi-la de novo.
https://www.youtube.com/watch?v=B064YfdTpMw
Fico imaginando o momento de criação dessa música, um matuto, achando-se o senhor da matemática, “metido a besta”, como se fala no Nordeste, que acha que, pagando vinte mil-réis uma conta de três e trezentos o troco seria de dezessete e setecentos, enquanto o comerciante afirma, de modo categórico, “dezesseis e setecentos”. O “cabra” acredita piamente que a sua conta está certa, terminando por ceder apenas porque “não gosta de discutir com gente ignorante”.
E a interpretação de Gonzagão para essa música é fenomenal… você tem a sensação, quase certeza, de que ele é o matuto da história, como mais do que um cantor, alguém que dá vida ao personagem contido na música.
Uma música a partir de uma pequena quizila por causa de um troco numa conta… parece que não se fazem mais músicas leves e descomprometidas como essa… continuamos com ‘Silly Love Songs”, quando não há coisa pior….
Dezessete e setecentos
Eu lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
– Dezesseis e setecentos!
– Dezessete e setecentos!
– Dezesseis e setecentos!…
Mas se eu lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
– Dezesseis e setecentos!
– Mas dezesseis e setecentos?
– Dezesseis e setecentos!
Porque dezesseis e setecentos?
Dezesseis e setecentos!…
Sou diplomado
Freqüentei academia
Conheço geografia
Sei até multiplicar
Dei vinte mango
Prá pagar três e trezentos
Dezessete e setecentos
Você tem que me voltar…
– É dezessete e setecentos!
– É dezesseis e setecentos!
– É dezessete e setecentos!
-É dezesseis e setecentos!
Eu acho bom
Você tirar os nove fora
Evitar que eu vá embora
E deixe a conta sem pagar
Eu já lhe disse
Que essa droga está errada
Vou buscar a tabuada
E volto aqui prá lhe provar…
Não, pera aí
Mas se lhe dei vinte mil réis
Prá pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
– Dezesseis e setecentos!
– Mas porque
Dezesseis e setecentos?
– Dezesseis e setecentos!…
Mas olha aqui rapá
– Dezesseis e setecentos!
– Dezesseis e setecentos?
– Dezesseis e setecentos!
– Mas não é dezessete e setecentos?
– Dezesseis e setecentos!
– Dezesseis e setecentos?
– Dezesseis e setecentos!…
Então deixa
É por isso que não gosto
De discutir com gente ignorante
Por isso é que o Brasil
Não “progrede” nisso..
