A “homenagem” e a recusa de Tom Zé na São Paulo Fashion Week em 2004

 

No ano de 2004, o estilista mineiro Ronaldo Fraga resolveu fazer uma homenagem ao compositor “Tom Zé” na São Paulo Fashion Week do mesmo ano. O seu desfile seria intitulado “São Tom Zé”, numa expressa referência à canção “São, São Paulo Meu Amor”, vencedora do Festival da canção da Record em 1968.

Considerado pelo estilista como “genuíno tropicalista”, e que confere “estatuto de arte e vanguarda à cultura popular”, Ronaldo Fraga desejava fazer uma homenagem a Tom Zé, só que se esqueceu de combinar com ele, que, ao saber da homenagem, pediu R$ 30 mil pela utilização de sua obra no desfile.

 

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O estilista, contrariado, disse à Folha de São Paulo:  ‘Não entendi, eu estava fazendo uma homenagem. Fiquei muito triste, mas respeitei. Não adiantaria eu discutir que arte é arte e que, uma vez que ele fez uma música, não é mais dono dela. Ele é gênio, pode fazer o que quiser.’

E isso coloca em voga a questão (recentemente bem abordada, sobre o ponto de vista jurídico, pelo também professor e amigo Rodrigo Moraes no seu blog), sobre a questão da propriedade da arte, da ideia, da inspiração.

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Por mais que se discuta se a arte é criação, recriação, transformação, compilação, é certo que ela representa algo valioso e caro para o artista. E isso tem um preço, que será pago se o público entender que isso tem valor. Até porque, ao contrário do que muitos pensam, não é fácil sobreviver de ideias…

E, nessa linha, Tom Zé divulgou um texto na Folha de São Paulo, como resposta ao episódio, intitulado “Isso que está acontecendo me deixa muito humilhado”. No texto, após elogiar o trabalho do estilista Ronaldo Fraga, Tom Zé desabafa:

 Pela lei brasileira, um trabalho musical passa a ser considerado de domínio público 150 anos depois da morte do autor. É verdade que fui enterrado vivo em 1970, na divisão do espólio do tropicalismo. Mas, mesmo de acordo com essa contagem, só tenho 34 anos de morto. Então minha música ainda não é de domínio público.

Cacilda Becker que me ajude: não posso dar de graça a única coisa que tenho para vender. Senti muita humilhação com esse episódio. Tenho 67 anos, e o assunto da sobrevivência é tema de pensamento de grande parte dos meus dias, pois até hoje não descobri ainda outro meio de ganhar a vida, de sustentar minha família, de ter dignidade e respeito próprio, a não ser vendendo o que faço

Ronaldo Fraga alega que está fazendo divulgação de minha obra. Divulgação, é claro, é necessária em qualquer ramo. Ora, várias vezes comprei na loja de Ronaldo Fraga e sempre paguei o que comprei. Apresentei-me em programas de Serginho Groismann e de Ana Maria Braga, por exemplo, usando roupas dele, nem por isso me considerando divulgador visual da marca. Jamais me passou pela cabeça pedir abatimento, quando da compra, porque estaria fazendo divulgação. Quanto mais, alegando que eu estava me convertendo em passivo modelo da loja, argumentar que ele deveria me dar as roupas de graça.

Isso que está acontecendo com a minha música me deixa realmente muito humilhado. Não sou uma vedete, mas imagine se Ana Paula Arósio, que é naturalmente muitíssimo divulgada pela Embratel, não recebesse um honrado pagamento pelo seu trabalho.
Pedi R$ 30 mil, mas, quando João Marcello Bôscoli, presidente da Trama, minha gravadora, me chamou ao telefone, compreendi que, do ponto de vista de artista da gravadora, eu deveria levar em consideração o problema da divulgação. Tanto que autorizei João a negociar com Ronaldo Fraga e aceitar um preço a que chegassem, por acordo.
Para estudantes, cineastas, dramaturgos, encenadores, profissionais iniciantes, concedo uma média superior a dez autorizações por mês, abrindo mão de quaisquer direitos autorais, quando eles me consultam para inserir minhas músicas em seus trabalhos. Em tais casos, estou dialogando com a nova geração, ainda desprovida de recursos, e concedendo-lhe, na minha medida, o que considero meu dever, um mínimo de possibilidades.”

Todos os dias diversos blogs fazem divulgações de músicas, numa multiplicação virtual do efeito boca a boca. Mas ainda não temos uma cultura de valorização da obra intelectual. E deve ter doído ainda mais a Tom Zé a ciência de que, se ele estivesse em plena evidência, ninguém discutiria o pagamento de direitos autorais. O certo é que ele é dono, e somente ele pode distinguir o que é homenagem e o que é enriquecimento ilícito da sua obra.

 

P.S. 1. Na verdade, os direitos  patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil. (Lei 9.610/98, artigo 41)

P.S. 2. O desfile não se chamou ‘São Tom Zé’, mas ‘São Zé’. As músicas da trilha não foram do bardo tropicalista, mas de Hermeto Pascoal e Cordel do Fogo Encantado.

P.S. 3. Acho Tom Zé Genial

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u45405.shtmlhttp://www.rodrigomoraes.adv.br/artigos.php

sexta 23 dezembro 2011 19:39 , em Pol?micas

 

“How do you sleep”: de John para Paul

 

É absolutamente natural que o fim de uma banda decorra de um desgaste nas relações pessoais entre seus membros.

É normal também, de igual modo, que após a dissolução do conjunto, haja ressentimento nas relações pessoais entre os ex-integrantes da banda.

Vez ou outra os ressentimentos decorrentes do fim da banda se transformam em canções. Naturalmente polêmicas.

E quando se trata da maior banda de rock de todos os tempos?

Todos sabem que o fim dos Beatles acarretaram um afastamento, para não dizer rompimento, entre John Lennon e Paul McCartney. E daí veio a polêmica.

Tudo começou quando Paul gravou o disco “RAM”, sendo que em diversas músicas haveria indiretas (após a morte de John, Paul confirmou algumas dessas “alfinetadas”), tanto a John Lennon quanto a Yoko Ono. Pode-se citar a canção “Too many people”, “The Back Seat Of My Car” e “Dear Boy”.

Na canção Too many people, lançada por Paul, há uma crítica a pessoas que tentam doutrinar as outras

 “Havia uma pequenina referência a John na coisa toda. Ele estava fazendo um monte de pregação.”

 

Na mesma entrevista ele ainda conta: “O trecho “Too many people waiting for that lucky break/ That was your first mistake/ You took your lucky break/ And broke it in two/ Now what can be done for you?/ You broke it in two” (Um bocado de gente esperando por uma boa oportunidade/ Esse foi o seu primeiro erro/ Você pegou a sua oportunidade/ E a partiu no meio/ Agora, o que pode ser feito por você?/ Você a partiu no meio) também foi pra John”.

 

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Em resposta, John, no seu disco Imagine, incluiu a música “How do you sleep?”, expressamente dirigida a Paul McCartney.

O sentimento que se percebe nessa gravação é que Lennon se sentiu atacado por McCartney, com quem tinha discutido muito no último estágio dos Beatles. Consta que N Ringo Starr visitou o estúdio durante a gravação da música e teria ficado chateado com a situação, dizendo. “Pare com isso, John !!!”

Tempo após a dupla de sucesso Lennon e McCartney se reconciliaram e foram tão bons amigos como antes …

Se analisarmos a letra percebemos a raiva e a picardia comque Lennon escreveu uma carta cheia de ironia misturada com raiva.

“So Sgt. Pepper took you by surprise”, numa referência ao revolucionário disco dos Beatles, Sgt. Pepper Lonely Hearts club Band.

Mais adiante, faz referência aos boatos de que Paul teria morrido em 1966 “Those freaks was right when they said you was dead“, complementando que o único erro de Paul está na sua cabeça (“The one mistake you made was in your head”)

Critica Paul, por andar rodeado de gente certinha que dizem ser ele (Paul) o Rei, (“You live with straights who tell you you was king”), e faz em seguida um jogo de palavras. Diz que a única coisa que ele fez foi “Yesterday”, que pode ser uma referência tanto à canção “Yesterday”, como ao passado, dizendo que tudo que ele fez foi ontem… John, em entrevistas, chegou a dizer que Yesterday tinha sido o primeiro trabalho solo de Paul.

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Em seguida, faz uma piada com outra canção de Paul, já na carreira solo, dizendo que desde que ele se foi era outro dia (“another day”), numa clara referência à canção “Another Day”.

Conclui que a música de Paul é como “música de elevador” (muzak) para seus ouvidos, e que ele deveria ter aprendido alguma coisa depois de tantos anos.

As referências foram tão expressas que Ringo recusou-se a tocar bateria nesta canção. George Harrison, no entanto, não hesitou em tocar a guitarra solo na canção.

Em várias oportunidades, John foi questionado sobre a canção. Vale a pena citar três dessas referências:

Eu ouvi as mensagens de Paul em Ram – sim, elas existem, caro leitor! Muitas pessoas vão para onde? Perdemos qual nossa sorte? Qual foi o nosso primeiro erro? Não pode estar errado? Huh! Quero dizer, Yoko, eu e outros amigos não podem estar ouvindo coisas. Então, para nos divertir, devo agradecer Allen Klein publicamente pela linha ‘apenas mais um dia’ (Just another day). Um verdadeiro poeta! Algumas pessoas não veem o lado engraçado disso. Muito ruim. O que eu devo fazer, causar riso? É o que se pode chamar de uma “carta furiosa ‘, cantado – sacou? (Crawdaddy magazine)

Noutra entrevista junto com Yoko Ono, dada a david Sheff, John fez referência à canção Like a rolling stone,de Bob Dylan, de que maneira as pessoas usam alguém como objeto para criar alguma coisa.

Eu não estava realmente sentindo algo prejudicial no momento, mas eu estava usando o meu ressentimento em relação a Paul para criar uma canção. Vamos colocar dessa maneira. Foi apenas um estado de espírito. Paul tomou-o daquele jeito porque ela obviamente, claramente se refere a ele, e as pessoas só o perseguem, perguntando-o: “Como vocês se sentem sobre isso? ‘ Mas houve algumas pequenas coisas obscuras em seus álbuns, que ele mantinha. Então eu pensei, bem, deixe de ser obscuro! Eu vou ir direto ao âmago da questão”.

 

Na entrevista abaixo, ele admite que “How do you sleep” foi uma resposta ao que Paul disse em RAM:

 

 

Numa entrevista para Andy Peebles em 6 de dezembro de 1980, quatro dias antes de sua morte. Ele recorda:

Eu usei meu ressentimento contra Paul, que eu tenho como uma espécie de rivalidade entre irmãos, ressentimento da juventude, para escrever uma canção Era uma rivalidade criativa … Não foi uma vingança cruel … mas eu senti ressentimento, então eu usei. 

 A música ficou, a rivalidade não durou tanto. John e Paul, depois dos Beatles, nunca mais foram próximos…

 

 

So Sgt. Pepper took you by surprise

You better see right through that mother’s eyes

Those freaks was right

When they said you was dead

The one mistake you made was in your head

Ah, how do you sleep?

Ah, how do you sleep at night?

 

You live with straights who tell you you was king

Jump when your momma tell you anything

The only thing you done was yesterday

And since you’re gone you’re just another day

Ah, how do you sleep?

Ah, how do you sleep at night?

 

Ah, how do you sleep?

Ah, how do you sleep at night?

 

A pretty face may last a year or two

But pretty soon they’ll see what you can do

The sound you make is muzak to my ears

You must have learned something in all those years

 

Ah, how do you sleep?

Ah, how do you sleep at night?

Fontes: http://beatlescollege.wordpress.com/2011/03/22/a-briga-musical-entre-john-lennon-e-paul-mccartney/;

http://www.songfacts.com;

http://www.beatlesbible.com/people/john-lennon/songs/how-do-you-sleep/

Sheff, David, A última entrevista do casal John e Yoko. Trad. Vania Cury, Ediouro,

https://www.dtudoumpoucoblog.com/single-post/2016/09/07/A-hist%C3%B3ria-por-tr%C3%A1s-da-can%C3%A7%C3%A3o-How-do-You-Sleep-do-John-Lennon-e-Too-Many-People-do-Paul-McCartney

domingo 14 julho 2013 08:54 , em Beatles

 

Tô Voltando – Paulo César Pinheiro ( A canção da volta dos Exilados)

Uma música pode ser feita com um sentido e um propósito, mas quando ela sai para o mundo e ganha seu público, ela pode adquirir uma conotação bem diferente daquela imaginada por seu compositor. Tenho certeza que Milton Nascimento não esperava, por exemplo, que “Coração de Estudante” viraria um hino da redemocratização do país, em 1984.

Uma das músicas que ganhou essa importância e repercussão foi “Tô Voltando“, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós. A música, que é como uma carta do homem para sua mulher, ele está distante, viajou, e está pedindo que ela prepare a casa e se prepare para sua chegada

O Homem elenca uma série de coisas que ele gosta, desde o feijão preto, a cerveja Brahma, o chinelo na sala, a casa cheia de flor…

Passa em seguida a dizer de que maneira gosta de sua mulher sensual, com camisola nova, crianças e empregadas longe, quer que ela pegue uma cor e arrume o cabelo só para ele despentear e esquecer de tudo.

Na verdade, a música foi feita a partir de uma ideia de Maurício Tapajós, cansado das viagens depois de uma turnê de mais de um mês no Nordeste, que estava com saudade de casa, e começou o mote da canção “Tô voltando”.

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No entanto, na internet muita gente acha que essa música, ou foi composta por Chico Buarque, ou foi composta para Chico Buarque. Explico.

O ano era 1979, e o Brasil estava na campanha de Anistia dos exilados políticos da ditadura. Anistia que acabou saindo. E adivinha que música os primeiros exilados cantaram quando chegaram em solo nacional? Tô voltando!!! E como muitos identificam canções de combate à ditadura com Chico Buarque, muitos pensam hoje que a música é dele.  Paulo César conta isso no seu “História das minhas canções”  (Leya, 2010). O vídeo vem na voz de Simone, que eternizou o sucesso.

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TÔ VOLTANDO

Maurício (Tapajós)…me ligou pra falar sobre uma ideia que tivera no caminho de volta. Cansado da tensão de palco (sem o hábito de cantar pra o público) e de tanta farra, bateu nele, já no finalzinho, uma saudade imensa de casa, da mulher, dos filhos, do Leblon, do Rio. E de Tapajós pra Tapajós ele dizia, às vésperas do retorno:

– Nem acredito que eu tô voltando…

E esse mote não o abandonou mais. Só podia dar samba… Com o violão na mão e o fone preso entre o ombro e a orelha cantarolou pra mim rascunho da melodia em que se repetia o “tô voltando”.

– Quê que você acha, parceiro?

-Acho ótimo, gordo. Tô indo pra aí. Ainda aguentas mais um uísque?

Passamos o resto do dia dando a forma à composição.

Na manhã seguinte, já em meu escritório, fui burilando a letra. Era simples e popular a canção e os versos foram fluindo. Eu, que já passara tanto por isso, tantas as viagens que fizera, enormes as saudades de casa, sabia bem do assunto que devia abordar. O papo era recorrente à nossa profissão.Toda a classe artística sentia profundamente essa ânsia de regresso depois de cada temporada. E todos queriam as mesmas coisas que eu rabiscava agora naquele samba. Ficou lindo o que agente fez, e cheio de empatia.Era cantar uma vez e na segunda todos acompanhavam.Virava logo coro. Fácil de decorar. Senti imediatamente cheiro de sucesso.

Imagem relacionadaPaulo César Pinheiro


Simone estava escolhendo repertório para seu disco anual. Mostramos pra baiana. Ela veio que veio:

– Esse é meu!

Foi pro estúdio e arrebentou. Era 1979, e o samba ganhou o Brasil. Só dava ele nas rádios, “Estourou no Nordeste!” era a expressão bem-humorada que se usava na época, para designar a música que ganhava as paradas nacionalmente.

 

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Agora vocês vejam como a arte tem seus mistérios…

Pouco tempo depois, estava eu vendo o jornal nacional da TV Globo cujo tema central era o dia do retorno dos exilados políticos ao nosso país, tendo sido conquistado, com muita luta doa que ficaram encarando o regime militar, a anistia ampla, geral e irrestrita, quando, pra minha surpresa, no avião lotado por nossos companheiros, entre entrevistas e choros ao vivo, entoou-se, numa só voz, o “Tô voltando”. A cena foi uma pancada no meu coração.

A emoção tomou conta de mim e as lágrimas correram no meu rosto. Minha voz embargou. Os pelos eriçaram. Estufavam as veias e os nervos retesavam.

Tive que respirar fundo e sair da frente da tevê pra não enfartar.

A música tinha tomado outra conotação a partir dali. Virara o hino dos exilados. E é assim que é vista até hoje, pra meu regozijo. E é assim que pensam que ela foi feita, pra minha satisfação. O que mostra que o destino das canções não está em nossas mãos. Elas são o que elas quiserem ser, acima dos motivos por que foram feitas. Que bom que ela tenha virado o que virou.


Ergo um brinde a isso. Sempre.

sexta 01 outubro 2010 13:05 , em Samba

A história de Eleanor Rigby

Há algumas histórias curiosas por trás de Eleanor Rigby, gravada pelos Beatles e lançada no disco Revolver, em 1966. A música, que exorta as pessoas a olhar e prestar atenção às pessoas solitárias, conta a história de uma mulher que recolhe o arroz da igreja depois do casamento, e do Padre Mckenzie, que escreve um sermão que ninguém vai ouvir…O destino dos dois se encontra no dia em que Eleanor está morta, na igreja. Ninguém comparece ao enterro. O padre McKenzie se afasta do túmulo e limpa suas mãos.

A canção, que foi um grande sucesso, ainda hoje gera polêmicas, sobre a existência ou não de uma “Eleanor Rigby” real. Steve Turner conta um pouco disso no livro “Beatles- A história por trás de todas as canções”, quando revela que o nome original era Daisy Hawkins…

 

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Assim como aconteceu com muitas canções de Paul, a melodia e as primeiras palavras de “Eleanor Rigby” surgiram enquanto ele tocava piano. Ao se perguntar que tipo de pessoa ficaria recolhendo arroz em uma igreja depois de um casamento, ele acabou sendo levado à sua protagonista. Ela originalmente se chamaria Miss Daisy Hawkins, porque o nome encaixava no ritmo da música.

Paul começou imaginando Daisy como uma jovem, mas logo percebeu que qualquer uma que limpasse igrejas depois dos casamentos provavelmente seria mais velha. Se ela era mais velha, talvez fosse uma solteirona, e a limpeza da igreja se tornou uma metáfora para suas oportunidades de casamento perdidas. Então ele a baseou em suas lembranças das pessoas mais velhas que conheceu quando era escoteiro em Liverpool.

Paul continuou a pensar sobre a música, mas não estava confortável com o nome Miss Daisy Hawkins. Não parecia suficientemente “real”. O cantor de folk dos anos 1960 Donovan lembra que Paul tocou para ele uma versão da música em que a protagonista se chamava Ola Na Tungee. “A letra ainda não estava terminada para ele”, conta Donovan.

Ele sempre dizia que optou pelo nome Eleanor por causa de Eleanor Bron, atriz principal de Help!. O compositor Lionel Bart, porém, estava convencido de que a escolha tinha sido inspirada por uma lápide que Paul viu no Putney Vale Cemetery, em Londres. “O nome na lápide era Eleanor Bygraves”, conta Bart, “e Paul achou que se encaixaria na música. Ele voltou para o meu escritório e começou a tocá-la no clavicórdio.”

Eleanor Bron com os Beatles

O sobrenome surgiu quando Paul deparou com o nome Rigby em Bristol em janeiro de 1966, durante uma visita a Jane Asher, que estava fazendo o papel de Barbara Cahoun em The Happiest Days Of Your Life, de John Dighton. O Theatre Royal, casa do Bristol Old Vic, fica no número 35 da King Street e, enquanto Paul esperava Jane terminar o trabalho, passou por Rigby & Evens Ltd, Wine & Spirit Shippers, que ficava do outro lado da rua, no número 22. Era o sobrenome de duas sílabas que ele estava procurando para combinar com Eleanor.

A música foi concluída em Kenwood quando John, George, Ringo e o amigo de infância de John, Pete Shotton se reuniram em uma sala cheia de instrumentos. Cada um contribuiu com ideias para dar substância à história. Um sugeriu um velho revirando latas de lixo com quem Eleanor Rigby pudesse ter um romance, mas ficou decidido que complicaria a história. Um padre chamado “Father McCartney” foi criado. Ringo sugeriu que ele poderia estar cerzindo as próprias meias, e Paul gostou da ideia. George trouxe a parte sobre “as pessoas solitárias”. Paul achou que deveria mudar o nome do padre porque as pessoas pensariam se tratar de uma referência ao seu pai. Uma olhada na lista telefônica trouxe “Father McKenzie” como alternativa.

 


Depois, Paul ficou tentando pensar em um final para a história, e Shotton sugeriu que ele unisse duas pessoas solitárias no verso final, quando “Father McKenzie” conduz o funeral de Eleanor Rigby e fica ao lado de seu túmulo. A ideia foi desconsiderada por John, que achava que Shotton não tinha entendido a questão, mas Paul, sem dizer nada na época, usou a cena para terminar a música e reconheceu mais tarde a ajuda recebida.

 

Interessante que, na década de 80, foi encontrada uma lápide de uma Eleanor Rigby no cemitério de St Peter’s, Woolton, bem próximo ao local em que John e Paul tinham se conhecido no festival anual de verão, em 1957. Woolton é um subúrbio de Liverpool e Lennon conheceu McCartney em uma festa na Igreja de São Pedro. 

Eleanor Rigby

Assim, foram atrás da história da “real” Eleanor Rigby, que Nasceu em Eleanor, que nasceu em 29 de agosto de 1895, no 8 Vale Road, em Wolton.

Eleanor Rigby, que na verdade, era Eleanor Rigby Whitfield, morreu quando Eleanor ainda era criança. Sua mãe casou-se novamente, e teve duas filhas, irmãs de Eleanor: – Edith e Hannah Heatley.

Interessante que Eleanor, para os padrões da época, demorou-se a casar, o fazendo apenas em 1930, aos 35 anos de idade, com Thomas Woods, um capataz de ferrovia com 17 anos de idade.

Eleanor não teve filhos. Em 10 de outubro de 1939, um mês após o início da Segunda Guerra Mundial, sofreu uma enorme hemorragia cerebral.

 

Paul sempre deixou bem claro que Eleanor Rigby foi uma personagem fictícia, inventada, embora se especule que Paul tenha visto a lápide na adolescência, e o som do nome tenha ficado em seu inconsciente até vir à tona pelas necessidades da canção. Na época ele afirmou: “Eu estava procurando um nome que parecesse natural. Eleanor Rigby soava natural”.  

beatles

Há, em Liverpool, uma estátua da Eeleanor Rigby fictícia, numa homenagem a todas as pessoas solitárias…

 

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Outra Curiosidade: O Father Mckenzie iria se chamar Father McCartney, mas Paul teria ficado receoso que seu pai, convertido ao catolicismo, pudesse interpretar mal a referência, ele escolheu o sobrenome numa lista telefônica. 

A tradução:

 

 

Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!

Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!

 

Eleanor Rigby, apanha o arroz na igreja

Onde um casamento aconteceu

Vive em um sonho

Espera na janela

Vestindo um rosto que ela guarda num jarro perto da porta

Para quem é?

 

Todas as pessoas solitárias

De onde todas elas vêm?

Todas as pessoas solitárias

A que lugar todas elas pertencem?

 

Padre McKenzie, escrevendo as palavras de um sermão

Que ninguém vai ouvir

Ninguém chega perto

Olhe para ele trabalhando, remendando sua meias à noite

Quando não há ninguém lá

O que é importante para ele

 

Todas as pessoas solitárias

De onde todas elas vêm?

Todas as pessoas solitárias

A que lugar todas elas pertencem?

 

Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!

Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!

 

Eleanor Rigby morreu na igreja

E foi enterrada junto com seu nome

Ninguém veio

Padre McKenzie limpando a sujeira de suas mãos

Enquanto caminha do sepulcro

Ninguém foi salvo

 

Todas as pessoas solitárias

De onde todas elas vêm?

Todas as pessoas solitárias (Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!)

A que lugar todas elas pertencem?

 

 

 

 

 

Fontes:

http://www.dailymail.co.uk/femail/article-1088454/REVEALED-The-haunting-life-story-pops-famous-songs–Eleanor-Rigby.html

Steve Turner: Be