“Naquela Mesa”. A saudade de um filho (Sergio Bittencourt) após a morte do pai (Jacob do Bandolim

Consta que esta música foi composta pelo filho no dia da morte do pai, escrita num guardanapo. Apenas isso seria suficiente para que essa música tivesse uma história. Mais ainda quando o seu compositor, Sérgio Bittencourt, é filho de Jacob do Bandolim, um verdadeiro ícone da música brasileira de todos os tempos.

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Está relatado no sítio digital do próprio Jacob que, No dia em que Jacob estaria completando 60 anos (que completaria em 14 de fevereiro de 1978, se vivo fosse), o jornalista Jésus Rocha, de Última Hora, à época editor do “Segundo Caderno”, pediu ao filho, Sérgio, um depoimento sobre o pai.

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Jacob do Bandolim

Ao correr da máquina, Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, escreveu comovente texto acerca da pessoa de Jacob do Bandolim. Trago aqui três pequenos trechos do filho sobre o pai:

O que fiz por ele, fiz e não digo. O que fez por e de mim, foi um tudo. Me lembro: jamais me mentiu. Era capaz de esbofetear um mentiroso, apenas pela mentira. Fosse de que gravidade.

De tudo que me ensinou, certo ou errado, hoje, dentro dos meus já então parcos e paupérrimos preconceitos, retiro, inapelavelmente, uma solução, uma saída, uma parada para pensar, um pouco de coragem para enfrentar, muita coragem para não “aderir” – na última das hipóteses, um sofisma, uma frase feita – estamos conversados!


Aos 37 anos de idade, descrente e exausto, sem Deus nem diabo, é que posso afirmar: Jacob Pick Bittencourt foi mais do que um pai. Do que um amigo. Do que um Ídolo. Foi e é, para mim, um homem.

Com todas as virtudes, fraquezas, defeitos e rastros de luz que certos homens, que ainda escrevemos com “agá” maiúsculo, souberam ou sabem ser. E homem com H maiúsculo, para mim é Gênio.

Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do Amor, da Loucura, da Irrealidade e da Lucidez de um Gênio.

Um belo depoimento de um filho sobre o pai, sem sombra de dúvida… mas, como digo, as notas de uma canção podem, numa fração de segundo, exprimir sentimentos que mil palavras não conseguem descrever. E a maior homenagem do filho para o pai foi a canção “Naquela mesa”;

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Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquele mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade ele ta doendo em mim

É inevitável: ouvir essa música e lembrar do seu pai, do seu avô, de alguém querido que se foi. A música materializa a saudade numa mesa. Na mesa onde o pai sentava e, dono da verdade, dava conselhos sobre a vida e contava histórias. O pai que reunia as pessoas em volta de si e carregava consigo a admiração do filho.

E a mesa é uma metáfora, uma personificação, um metonímia, ou quantas figuras de linguagem quisermos, da saudade. A mesa vazia traz as lembranças e a dor do pai que se foi. E a saudade do pai dói….

Reparem como na primeira parte da música se faz referência nostálgica de tudo o que o pai fazia na mesa, e na segunda parte, só resta a dor da saudade e da mesa vazia.

A música foi gravada inicialmente pela “Divina” Elizeth Cardoso, depois por Nelson Gonçalves, e, mais recentemente, pelo cantor Otto.

Tristemente, Sérgio Bittencourt morreu pouco mais de um ano após escrever o texto para o pai, no dia 9 de julho de 1979

sábado 08 outubro 2011 08:20 , em Músicas e Homenagens

No meu pé de serra. A primeira parceria de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

No meu pé de serra” é um forró que consagra a primeira parceria de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.  A música faz referência à saudade da vida no sertão. É escancaradamente nostálgica, numa alusão  ao coração deixado lá no “pé de serra”. Parece que o forró clássico, tradicional, à moda de Luiz Gonzaga, tem algo de nostálgico, inocente, tem-se a impressão que a canção de amor em ritmo de xote é mais singela, a saudade do baião é mais intensa, a alegria do xaxado é mais pura.

E quando a gente ouve essa música, parceria de Gonzagão com  Humberto Teixeira, gravada em 1947, a gente sente viva essa nostalgia do sertão. A canção retrata uma visão romântica, idílica, da vida no sertão, onde o trabalho é duro, mas ali se tinha tudo o que quisesse, com especial destaque para o xote de toda quinta-feira, em que se gruda numa cabocla, enquanto o fole começa… e parece não parar.

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No livro  O Fole roncou – uma história do Forró, dos jornalistas Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, há um pouco da história da canção:

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“Cearense de Iguatu, radicado no Rio de Janeiro desde os 15 anos, o advogado Humberto Teixeira conseguiu fazer Gonzaga perder a vergonha de ‘mostrar as coisas que tinha trazido do mato” e parar de pensar que ‘ninguém na cidade iria se interessar por aquelas musiquinhas’.

Na verdade, era a terceira tentativa do sanfoneiro de arranjar um letrista constante para as melodias que carregava na memória. (…) 

Chegou Humberto Teixeira por meio do cearense Lauro Maia, convidado a se tornar parceiro Luiz Gonzaga a partir de um desafio

 –  Eu quero cantar as coisas da minha terra e preciso de alguém que me ajude a decantar a vida da minha gente” (Luiz Gonzaga)

Lauro Maia respondeu:

– Gonzaga, gosto muito de sua voz, só que não sou letrista para os motivos que você tem. Mas tenho um cunhado que vai resolver seu problema”.

Colocou Gonzaga em contato com Humberto Teixeira, que tinha alguma experiência como letrista de sambas e outros ritmos. No primeiro encontro, o sanfoneiro pediu:

– Eu tenho um tema aqui pra você botar uma letrinha: No meu pé de serra.

Na mesma hora Humberto Teixeira pôs uma folha de papel em cima do joelho e escreveu uma letra. Gonzaga leu e gostou. Teixeira advertiu:

– Mas essa não é a letra definitiva”

Gonzaga respondeu:

– Peraí, nessa você não vai bulir mais não! A letra é essa!”

E Teixeira retrucou:

– Não, depois eu lhe dou a letra definitiva”

E assim fez, para a contrariedade de Gonzaga, que queria de todo jeito a letra original.

Na música, gravada em novembro de 1946 e lançada em março de 1947. Humberto Teixeira desenvolve uma temática que se tornaria recorrente: a dor da ausência.

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É inevitável a comparação com o romantismo literário do século XIX, na primeira fase indianista:  a música passa a sensação de que a vida lá no sertão era muito melhor… afinal, se esquecem as agruras, a seca, a fome, a pobreza da vida no agreste, e só restam aquelas noites de quinta-feira, após um dia cansativo de trabalho, com um xote e uma cabocla… pra que mais?

Por isso que a nostalgia vem da alegria, do xote que é bom (e lá vem as palmas)/ de se dançar (mais palmas)… Talvez por isso o forró (que muitos chamam de “pé de serra”)guarda aquele veio de ternura nas suas canções… elas remetem ao amor, às saudades, ao interior, ao sertão, ou seja, remetem à pureza de sentimento… muito bom pra se dançar….

As canções , Humberto Teixeira enfatizava, não eram propriamente criadas, mas resgatadas de algum lugar da memória de Luiz Gonzaga.

 

A letra…

Lá no meu pé de serra
Deixei ficar meu coração
Ai, que saudades tenho
Eu vou voltar pro meu sertão
No meu roçado trabalhava todo dia
Mas no meu rancho tinha tudo o que queria
Lá se dançava quase toda quinta-feira
Sanfona não faltava e tome xote a noite inteira
O xóte é bom
De se dançar
A gente gruda na cabôcla sem soltar
Um passo lá
Um outro cá
Enquanto o fole tá tocando,
tá gemendo, tá chorando,
Tá fungando, reclamando sem parar.. 

terça 21 junho 2011 04:13 , em Forró

That Thing You Do!! A história da maior banda que nunca existiu

Com o título em português “The Wonders: o sonho não acabou”, o filme “That Thing You Do”, gravado em 1996, conta de maneira divertida a história da ascensão de uma banda de rock em meados dos anos 60.

O filme foi produzido e dirigido por Tom Hanks, contagiado pelo clima “beatlemaníaco”. A película narra a história de ascensão de uma banda de rock do interior da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

O conjunto musical se chama inicialmente “Oneders“, numa alusão ao número 1 (one), mas que terminou se chamando “The Wonders”.

Os quatro atores que formavam a banda The Wonders no filme tocaram juntos durante várias semanas antes do início das filmagens, para que pudessem se entrosar como se fossem uma banda verdadeira. Porém, pa maioria das cenas do filme eles são dublados por músicos verdadeiros.

A cena abaixo é clássica, quando a música da banda toca na rádio pelo primeira vez…

O filme tem personagens e suas funções bem marcadas: tem um vocalista talentoso e egoísta, um guitarrista interessado apenas em mulheres e um baixista que está apenas esperando para se alistar no exército. O vocalista tem uma namorada, interpretada por Liv Tyler, que é apaixonada por música.

O baterista original da banda quebra o braço, e é chamado Guy Patterson (interpretado por Tom  Everett Scott) para substituí-lo numa competição de bandas. Guy trabalha numa loja de eletrodomésticos, também adora música e namora uma bela e tradicional moça (interpretada por Charlize Theron).

Na hora da apresentação, quando o novo baterista vai “puxar” o ritmo da canção-título (That Thing You Do), originalmente uma balada romântica, faz uma batida típica do rock dos anos 60, no que é inicialmente repreendido pelo compositor-vocalista, mas, no decorrer da apresentação, se torna o maior sucesso.

“That thing you Do”,  então, começa a se tornar um hit. 

 

Daí, surgem as primeiras apresentações, a prensagem do primeiro disco, a cena em que a música toca na rádio pela primeira vez, até a banda ser contratada (pelo personagem interpretado por Tom Hanks), a escalada do sucesso na Billboard e as crises internas a partir dos traços de personalidade de cada um dos membros da banda, tudo isso mesclado com uma série de canções que evocam o clima dos anos 60.

O roteiro não é imprevisível, o filme não é uma obra de arte, mas não deixa de ser uma celebração aos anos 60 e suas músicas, tanto que That Thing you do foi indicada ao Oscar de melhor canção original no ano de 1996.

Escrita e composta por Adam Schlesinger, baixista dos grupos Fountains of Wayne e Ivy, e lançada na trilha sonora do filme, a canção se tornou um genuíno hit da parada de sucessos com o disco The Wonders de 1996 (a música chegou a 41ª no Billboard Hot 100, 22ª no Adult Comtemporary, 18ª no Adult Top 40, e 24ª na Top 40 Mainstream).

Em abril de 1997, o elenco voltou a se reunir para cantar “that thing you do!” em Londres

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Vale não só pela canção-título, mas pela trilha sonora… e por trazer e manter vivo aquele sonho adolescente de formar uma banda de rock de sucesso…

 

 

domingo 17 junho 2012 05:36 , em Música e cinema