30 anos da morte de Raul. A crônica de Marcelo Moreira

No dia 21 de agosto de 1989 completam-se  30 anos da morte de Raul Seixas. Um artista que se notabilizou por carregar o estandarte do rock nos anos 70 e 80, sendo o pioneiro de um gênero em que tinha poucos concorrentes de peso na década de 70. Raul não era grande músico, mas era um grande letrista, e embora fosse roqueiro, brincava com outros ritmos.

Suas letras, seus bordões, sua postura iconoclasta se tornaram um símbolo.

É certo que, por vezes, após a sua morte, suas palavras foram messianizadas por determinadas pessoas que passaram a repetir os refrões de suas letras como se fossem mantras religiosos.

Resultado de imagem para raul seixas

Mas não se pode, pela postura de alguns fãs, descaracterizar a obra do artista.

Falo disso porque, há 5 anos, perto da ocasião dos 25 anos da morte de Raul,  li um artigo de Marcelo Moreira, no blog Combate Rock,que me pareceu ter uma certa má vontade com Raul Seixas, e uma visão relativamente simplista da música brasileira nos anos 70 (por exemplo, considera a MPB engessada e o Tropicalismo como uma “farsa de pseudointelectualismo barato”)

No artigo, em síntese, ele resume o sucesso de Raul Seixas quase que exclusivamente à falta de concorrentes. Analisa a obra de Raul como razoável do ponto de vista musical (o que é verdade), mas ignora sua qualidade como letrista, sua habilidade em misturar rock com ritmos regionais.

Resultado de imagem para raul seixas

Reconhece o legado, reconhece o seu caráter transgressor, mas procura, na verdade, atingir, por intermédio de Raul, um certo público universitário que se apropria de alguns refrões adaptáveis de sua música, e que grita “Toca Raul” em apresentações de outros conjuntos musicais.

É uma análise fria, em certos momentos verdadeira; em outros, revela uma má vontade com uma obra que claramente o blogueiro não gosta. Foi massacrado nos comentários pelos fãs de Raul (não poderia ser diferente), mas acho que não merece tanto. Não foi o objetivo aprofundar-se em sutilezas na obra do artista.

Assim, a obra do artista foi examinada a partir do seu legado, e não o contrário.

Mas vale o debate.

http://combaterock.blogosfera.uol.com.br/2014/08/05/25-anos-da-morte-de-raul-seixas-um-artista-reduzido-a-um-bordao/

25 anos da morte de Raul Seixas: um artista reduzido a um bordão

A essência do rock nacional pode ser resumida apenas a um bordão. Ou melhor, o artista que simboliza o rock brasileiro ficou reduzido a um bordão. Por uma dessas injustiças históricas que às vezes abalroam um mito, o famigerado e inacreditável “Toca Rauuuuullll” que se ouve em bares e em shows, em tom de chacota, a cada dia se torna mais forte, a ponto de, em alguns momentos, suplantar a importância de Raul Seixas, que morreu há 25 anos em São Paulo. Não há como negar: a chatice do bordão, tornando-o insuportável e pejorativo, colou no artista de uma forma desagradável. Raul Seixas não merecia isso.

A coisa é tão complicada que, dependendo da situação, o pedido de “Toca Raul” provoca brigas e confusões, como narrei anos atrás o que ocorreu em um bar na região de Campinas, quando um bêbado encheu tanto a paciência da banda que estava no palco que provocou uma briga generalizada.

O mito superou a realidade? O bordão faz justiça à carreira do cantor baiano? Na verdade, isso tudo faz alguma diferença? Amado a ponto de ser considerado messias por uns, e contestado por outros, considerado um artista superestimado e superdimensionado por outros, Raul Seixas conseguiu o que só roqueiros ingleses e americanos obtiveram: tornou-se um símbolo de um gênero musical no Brasil.

Resultado de imagem para raul seixas

Não é possível falar de rock por aqui sem lembrar de Raul, tamanha a a sua onipresença – para o bem e para o mal. Diante da fragilidade do gênero musical no Brasil, em especial nos anos 60 e 70, e da falta de verdadeiros concorrentes à altura, ficou fácil para o cantor baiano tomar conta de tudo – só Rita Lee era capaz de rivalizar com ele.

Mutantes e Secos & Molhados? Não tiveram metade do carisma e da presença artística do cantor baiano. Falta de competência da concorrência? Pode ser, mas isso não era problema de Raul, que teve os seus méritos para aglutinar a cativar a aura mítica de messias e de gênio, ainda que não o fosse. Em terra arrasada, qualquer vestígio de competência é um grande impulso para o estrelato eterno.

Culpa de Raul? Sim, por ter demonstrado competência e e inteligência em um mercado que quase nunca soube entender o que era rock, o seu poder e o seu significado. Mesmo a aproximação frequente com artistas da MPB não foi suficiente para nublar a postura e a imagem que ele assumiu para si: a do roqueiro esperto, malandro, inteligente, astuto e ousado, com pitadas de maluquice beleza.

Resultado de imagem para raul seixas

Sua relevância pode ser medida pela escolha de Bruce Springsteen quando tocou no Brasil no ano passado: o cantor e guitarrista norte-americano, em cada país onde tocou em sua turnê mundial, abria os shows com uma música importante de um artista importante do país local. Nos shows de São Paulo e no Rock in Rio 2013, abriu suas apresentações com “Sociedade Alternativa”, um hit de Raul Seixas.

Ninguém melhor do que ele fez isso no Brasil, e nada mais justo do que Raulzito se tornar sinônimo de rock nacional no Brasil – para o bem e para o mal, seja pelo pioneirismo , seja pela esperteza ou mesmo inteligência mercadológica. Esses méritos são indiscutíveis, mesmo que tenha dado origem a um messianismo insuportável e a uma deificação injustificável.

Legado incontestável, obra nem tanto

Músico razoável e cantor nem tanto, Raul Seixas teve o grande mérito de cair de cabeça no rock and roll primeiro do que todo mundo neste país tropical e de avançar até onde nenhum artista brasileiro na época ousou.

Seixas era radical e culto, tinha estofo para se mostrar contestador sem ser revolucionário. Tinha jeito e coragem (ou inconsequência) para ser provocador como Chico Buarque foi em algumas de suas letras.

Se os Secos & Molhados chocavam e posavam de transgressores por conta das maquiagens e posturas de palco, Seixas e seu jeitão de hippie deslocado mostrava que ia muito mais além na transgressão com o mergulho fundo no rock e nos aditivos ilícitos – em vários momentos ao lado do amigo doidão e letrista ocasional Paulo Coelho.

O problema é que Raul Seixas foi o único a fazer isso, a fazer rock realmente em uma era dominada por uma música popular supostamente de protesto mas que pouco ou nada serviu de alento, ao menos culturalmente.

Era a mesma MPB engessada de sempre, calcada na canção e no samba, com ecos da bossa nova encardida e plagiada do jazz norte-americano e na farsa do Tropicalismo, envolto em pseudo-intelectualismo barato.

Raul foi muito mais além do que qualquer um em sua época, e tem méritos por isso. Se é que existiu alguma forma de transgressão nos anos 70, época de chumbo do regime militar, essa transgressão era Raul Seixas.

E o músico baiano teve a sorte grande de ter sido o único a fazer isso de forma tão intensa, e usou o rock, o melhor instrumento para esse tipo de transgressão (ou suposta transgressão). E grande parte de sua fama decorre justamente disso, da falta de concorrentes à altura.

Por conta disso, o mito Raul Seixas – artista radical, maldito, marginal – se sobrepõe à real qualidade de sua obra musical, que nunca passou de mediada. Sua melhor música é no máximo razoável. Ok, nunca foi a ambição dele, em termos musicais, de ser inovador, ambicioso ou ousado em demasia. Inovação não era com ele, e isso fica claro em sua obra.

O trabalho do cantor baiano, que  foi executivo de gravadora no começo dos aos 70, é milhões de vezes superior ao de qualquer artista que achava que fazia rock na época, como Secos & Molhados e os Mutantes, mas ainda assim não passava de razoável.

Resultado de imagem para raul seixas

Suas músicas se tornaram trilha sonora da contracultura e de certa pseudointelectualidade de esquerda por ser palatável e adaptável aos lugares comuns dos discursinhos chatos e vazios de estudantes equivocados.

Também era a trilha sonora perfeita para ambientes pseudopolíticos infectos, como centros acadêmicos de faculdades – a maioria de quinta de categoria – e botecos de pinga nas proximidades das mesmas faculdades. E, com certeza, 85% dessa gente que se apropriou da obra de Raulzito ignorava por completo o significado das letras – e, dependendo da música, acho que até o próprio autor desconhecia.

Ainda que a importância da obra de Raul Seixas seja incontestável, assim como sua figura como símbolo máximo/sinônimo do rock brasileiro, em termos musicais não para constatar: é artista superestimado e cujo mito é muito maior do que a qualidade de sua obra. E o mito ainda tem mais força do que se imagina, pois ainda é capaz de impregnar duas gerações após a sua morte com “sua mensagem”.

Não creio que era esse o destino que o músico baiano imaginava para o seu legado: quase ser suplantado por um bordão e virar trilha sonora de gente equivocada e com pouca bagagem intelectual de um lado; de outro, de se tornar sinônimo de chatice e inconveniência com o bordão “Toca Raul!”.

Ele merecia isso? Eu achava que sim, por conta da chatice de muitas de suas músicas. Mudei de ideia: reavaliando, ele não merecia passar por isso, justamente porque, goste-se ou não (e eu não gosto que seja assim, a a vida é assim), ele se tornou sinônimo de rock brasileiro. Jamais poderia ter sido reduzido a um bordão. Quem sabe não seja por isso, entre tantas outras coisas, que o rock nacional tenha mergulhado em tamanho ostracismo?

Quando Rod Stewart foi acusado de plagiar Jorge Bejnjor

 

Às vezes nos deparamos com que certos artistas brasileiros façam versões, se inspirem  ou copiem descaradamente músicas ou trechos de músicas estrangeiras. Mas, vez por outra, percebemos situações constrangedoras que envolvem também artistas estrangeiros copiando artistas nacionais.

Um caso que ganhou repercussão mundial foi a acusação de que Rod Stewart teria, na sua canção “Do you think I’m sexy?”, copiado acintosamente o conhecido refrão do “tê-tê-teteretê” de Taj Mahal. É certo que boa parte da composição foi creditada ao baterista de Rod, Carmine Appice.

 

Imagem relacionada

Carmine, num depoimento que consta do sítio digital http://www.songfacts.com, passou ao largo da discussão:

“Estávamos no estúdio e Miss You, dos Rolling Stones, era sucesso na época. Rod sempre foi um cara que costumava ouvir o que acontecia ao redor dele. Estava sempre de olho nas paradas musicais, ouvindo tudo, e era fã dos Rolling Stones. Então, quando eles lançaram Miss You, o som discoteca era a sensação do momento. Rod queria gravar uma espécie de canção com influência da disco music, algo mais ou menos como Miss You, mas que não fosse tão disco como Gloria Gaynor”.

Carmine continua: “Ele sempre nos falava, ‘quero uma canção desse jeito’ ou ‘quero uma canção daquele jeito’. Fui para casa e bolei uma melodia. Apresentei ao Rod através de um amigo, Duane Hitchings, um compositor que tinha um pequeno estúdio. Fomos para o estúdio dele com as baterias e teclados e ele deu uma lapidada na melodia. Entregamos ao Rod um demo dos versos e a estrofe e Rod criou o refrão. Tocamos repetidas vezes com a banda antes de acertarmos os arranjos com Tom Dowd” (lendário produtor musical).

Acontece que, em 1978, seis anos após o lançamento de Taj mahal, sai Blondes Have More Fun, nono disco de Rod Stewart. O álbum marcou a passagem definitiva do artista para o mundo do pop/disco e vendeu mais de 14 milhões de cópias no mundo todo, puxado pelo sucesso de faixas como a divertida “Da Ya Think I’m Sexy”e seu refrão contagiante.

Ocorre que a parte da canção (que foi um dos maiores sucessos de Rod Stewart, chegando a figurar na lista das 500 maiores canções da Revista Rolling Stones) era manifestamente uma cópia do refrão de Taj Mahal, de um disco gravado por Jorge Ben em 1972. É só reparar a sequência harmônica e melódica. O assunto foi reportagem no Fantástico de fevereiro de 1979, e se discutia um processo que Jorge Ben moveria contra Rod Stewart.

Na sua autobiografia, Rod Stewart confessou:

Só para complicar as coisas, o músico brasileiro Jorge Ben Jor apontou a semelhança da melodia do refrão com uma canção dele, de 1972, chamada ‘Taj Mahal’. E reivindicou direitos autorais.

Levantei a mão imediatamente. Tinha como me defender.

Não que eu tivesse me levantado no estúdio e dito: ‘Aqui, já sei, vamos usar aquela melodia do Taj Mahal como o refrão e pronto, acabou. O autor mora no Brasil, nunca vai descobrir’.

Mas por acaso eu tinha passado o Carnaval no Rio em 1978, com Elton [John] e Freddie Mercury, e lá duas coisas significativas aconteceram:

1. Desenvolvi uma breve e impossível paixão por uma atriz de cinema lésbica, que não me deixava chegar perto dela;

2. Eu tinha escutado várias vezes, por toda parte, ‘Taj Mahal’, de Jorge Ben Jor. Ela fora relançada naquele ano, e evidentemente a melodia ficou registrada na minha memória e ressurgiu quando eu tentava encontrar uma frase que ajustasse aos acordes. Plágio inconsciente, pura e simplesmente. Cedi os direitos e mais uma vez imaginei se por acaso “Da ya think I’m sexy?’ não seria um tato amaldiçoada.”

 

Para livrar-se dessa situação (até porque o disco que continha a canção, Blondes Have More Fun, já vendera mais de 4 milhões de cópias), Rod Stewart terminou cedendo os direitos autorais da canção à UNICEF, o que fez com que Jorge Ben não tivesse recebido nada pela cópia da canção….

Imagem relacionada

 

Fontes:

Stewart, Rod. Autobiografia. Globo, 2013

http://fantastico.globo.com/platb/fantastico30anosatras/tag/plagio/

http://danielcouri.blogspot.com.br/2011/08/o-que-rod-stewart-e-jorge-benjor-tem-em.html

http://www.songfacts.com/detail.php?id=1306

https://omusicologo.wordpress.com/2012/09/04/originais-originados-jorge-ben-x-rod-stewart-taj-mahal-da-ya-think-im-sexy/

domingo 21 outubro 2012 18:32 , em Polêmicas

Negro Gato

“Negro Gato” foi um dos sucessos de Roberto Carlos da primeira fase da Jovem Guarda, e que durante algum tempo, virou um tabu no repertório de Roberto, haja vista que, por conta do seu TOC, ele, por mais de 30 anos deixou a música fora do seu repertório, voltando a cantá-la somente em 2013, isto é, 47 anos após a sua gravação original, em 1966.
A música é uma versão  da música “Three Cool Cats”, da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Foi originalmente lançada pelo The Coasters em 1958. (Uma curiosidade é que a música foi gravada pelos Beatles para sua audição na Decca Records no dia de Ano Novo em 1962 em Londres, e que seria lançada apenas muitos anos depois, já que os Beatles jamais assinaram contrato com a Decca) .
Resultado de imagem para negro gato
No Brasil, a versão foi composta por Getúlio Côrtes e tem uma séria de conotações distintas. Se a versão original remonta a “três gatos legais” (three cool cats) que andam de carro, dançando e atrás de algumas garotas (“chicks”), a história criada por Côrtes termina remetendo a questões de desigualdade e racismo, embora não fosse esta a intenção original do compositor
Getúlio Côrtes, o compositor da versão, conheceu a turma de Roberto e Erasmo Carlos em um programa de rádio em 1961. Embora roqueiro de primeira hora, fã de Elvis Presley e Little Richard, ele gostava de outros gêneros, tanto assim que dublava na ocasião uma gravação de Sammy Davis Jr.
Resultado de imagem para negro gato roberto
Numa Entrevista, Getúlio disse:

Antes disso, eu compunha mais no amadorismo. Fui me infiltrando na antiga CBS e, na época, o Renato estava gravando lá. Estavam faltando músicas e falei: “Renato, será que você pode ouvir isso aqui, sem compromisso?”. Era Negro gato.

P- A música foi gravada por ele antes do Roberto, então?

Foi, sim. Ele ouviu, falou: “Pô, legal, é uma faixa diferente, vou gravar”. Alguns músicos da banda não ficaram contentes, não… Teve gente que falou: “Pô, a gente tá gravando Menina linda e você vai querer botar Negro gato?”. Mas ele gostou. Na mesma época o Roberto ouviu ‘Pega ladrão’ e gravou.

Assim, em 1966, Getúlio fez uma música para o disco de Roberto Carlos, na época, no auge por conta do programa “Jovem Guarda”. A música era “O Gênio”, um rock bem-humorado e ingênuo.  Erasmo e Evandro Ribeiro, diretor artístico da CBS, também sugeriram que ele gravasse ‘Negro Gato’, que já havia sido gravada por Renato e Seus Blue Caps.
Imagem relacionada
A música preserva o estilo brincalhão de Getúlio, carioca de Madureira. Consta que, após o fim da Jovem Guarda, Getúlio praticamente parou de compor. No entanto, “negro Gato ficou marcada como um de seus maiores sucessos.
Muitos identificaram na canção uma espécie de protesto relacionado com discriminação, mas a história da canção é mais simples. Conta Getúlio numa entrevista ao Jornal do Commércio:
Construí um anexo no quintal da minha casa, em Madureira. Ficava lá, fazendo minhas coisas, e tinha um gato que não parava da me perturbar. Eu tacava pedra nele, ameaçava matar, e nada. O bicho lá, me olhando. Terminei me inspirando nele para fazer uma música. Não pensei que fosse gravar porque gato preto dá azar. Renato dos Blue Caps, ouviu e disse que iria gravar. Naquele tempo o conjunto tinha Erasmo Carlos como Crooner. A música serviria mais como enchimento de linguiça do disco do conjunto. Roberto Carlos, depois de gravar algumas músicas minhas, disse que iria gravar o negro gato do jeito dele”

 

Noutra entrevista, ele conta:

Negro gato era um gato que ficava miando perto da sua casa, não? Como surgiu essa música? O gato tem uma história… Eu morava em Madureira numa casa e não tinha acesso a disco, não tinha toca-disco, não tinha nada. Não dava para cantar as vitórias, tinha que cantar as derrotas, não é mesmo? (rindo). O meu quarto tinha um teto de zinco e ficava lá um gato preto andando em cima do teto e miando. Cara, já imaginou gato andando em cima de teto de zinco, a barulheira que é? E isso toda madrugada. Duas horas da manhã, ele tava lá enchendo meu saco. Eu tacava pedra, não adiantava nada. Só que um dia ele ficou me olhando no escuro, aqueles dois olhos me olhando no escuro. E me pus no lugar dele: pô, todo mundo diz que o bicho dá azar, machuca o gato. Aí fiz uma música em homenagem a ele.

O gato preto te deu sorte, então. Deu mesmo! O Luiz Melodia, quando foi gravar a música, me falou: “Pô, que legal que você fez uma música contra o racismo, a música tem essa conotação, etc”. Nem era nada disso, a música era pra um gato mesmo.

Imagem relacionada

Outra curiosidade, que diz respeito às superstições de Roberto, foi a mudança da letra, para tirar a palavra “azar”

CE – Roberto mudava muito as suas músicas?
GC – A única música em que ele fez modificações foi “Negro gato”. Havia uma frase que dizia “…e nessa minha vida sempre dei azar”. Roberto a mudou para “…essa minha vida é mesmo de amargar”. Fora isso, que eu me lembre, ele não mexeu em nenhuma outra. Eu o conhecia muito e sabia exatamente as palavras que ele gostava e qual era o seu estilo de cantar.

A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34

Getúlio Côrtes chega hoje aos 80 anos, lançando primeiro álbum solo

Getúlio Côrtes: “O Roberto Carlos me ajudou bastante”

http://www.gumarc.com/entrgetuliocortesmo1998.html