O Brasil é um caldeirão de ritmos musicais, mas poucos discordam que o ritmo que marca e identifica o Brasil é o samba. No entanto, para uma parte do Brasil, que começa no sertão da Bahia, passando por Sergipe, Alagoas, Pernambuco (sem esquecer o frevo e o maracatu), Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, o ritmo é o forró
O forró, no nordeste, parece um gênero em que se encontram xote, xaxado, baião, maxixe, galope, todos eles regidos, não pelo pandeiro do samba nem pelo violão da bossa-nova: mas pelo acordeon, popularmente conhecido como sanfona.
Aproveitando a semana mais efervescente das festas juninas, vou fazer uma homenagem inusitada a uma das personagens mais curiosas do Forró, que ganhou fama após 20 anos de carreira com um gênero, que na época, parecia ofender a “moral e os bons costumes”, mas hoje parece até inocente: O forró de duplo sentido. Trata-se de Clemilda.
Nascida Clemilda Ferreira da Silva, natural de Palmeiras dos Índios, Alagoas. Quando adolescente, decidiu ir para o Rio de Janeiro. Chegando lá, trabalhou como garçonete, e mesmo sem fazer planos para seguir a carreira artística, nas horas de folga freqüentava programas de rádio e auditórios de TV.
Em 1965, conseguiu cantar pela primeira vez num programa que apresentava calouros e profissionais, o “Crepúsculo Sertanejo”. Acabou conhecendo Gerson Filho, famoso pelo fole dos oito baixos, que na época era sanfoneiro contratado de uma gravadora, e com quem veio a casar-se depois. Fizeram shows pelo Nordeste, começando uma carreira que fez sucesso regional, sobretudo em Alagoas e Sergipe. Até a década de 80,seu maior sucesso era o politicamente incorreto “Forró sem briga”, em que ela afirmava (“eu não gosto de forró que não tem briga, forró que não tem briga não me diga que é forró) até estourar com o sucesso “Prenda o Tadeu”, em 1985 (“Seu delegado prenda o Tadeu,m ele pegou minha irmã e….”.
“Prenda o Tadeu” é um dos gêneros que fez muito sucesso no Nordeste nos anos 70 e 80, que é o forró de duplo sentido, forró malícia, cujo mote principal são trocadilhos absolutamente ordinários, em que toda a letra é um pretexto para insinuar palavrões ou sugestões eróticas (interessante é que, na mesma época e com o mesmo estilo de trocadilhos, Quim Barreiros fazia sucesso em Portugal).
O forró de duplo sentido era tido como música chula, a despeito de amiúde haver belos arranjos para forró. Nos últimos 20 anos, todavia, o caráter explícito de algumas letras faz parecer o forró de duplo sentido uma brincadeira adolescente bem-humorada.
Clemilda cantou diversas músicas que eram marcados pelo gênero. Para citar alguns, “Forró Cheiroso”, mais conhecida como “Talco no salão”, “Recado para Zetinha” (Só quero Nambu Zetinha…”), “Com ‘menas’ Gente” (“ele só quer trabalhar ‘com menas gente”), “Coitada da Tonheta” (“ele só vive batendo em Tonheta”), “Seu Tuzinho”.
Clemilda sempre se apresentava com seu cabelo curto e crespo, com uns vestidos que lembravam vestidos de Chita típicos de festas juninas, sua voz levemente anasalada compactuava com um estilo de música cuja marca maior era o humor.
Hoje, Clemilda vive em Aracaju, continua sendo lembrada pelos seus forrós de duplo sentido.
Fontes: http://www.infonet.com.br/saojoao/2005/ler.asp?id=36146&titulo=forrozeiros;http://www.dicionariompb.com.br/; Dicionário Houaiss ilustrado da Música Popular Braisleira
Publicado no http://www.musicaemprosa.musicblog.com.br em 22 de junho de 2010