Dez razões para admirar Gal Costa

 Existem muitas razões para admirar Gal Costa. E tantas outras para considerá-la a maior cantora do Brasil. Gal poderia, ao longo de sua vida, ter se conformado com sua voz, que não é uma “mera voz”, como ela reconheceu recentemente numa entrevista dada juntamente com Caetano Veloso a Jô Soares. Já foi chamada, justamente por isso, de “João Gilberto de saias”.

Mas Gal Costa foi além. Como disse na sua entrevista no Roda Viva, em 1995: “Quem conhece a minha história sabe que eu sou ousada e que eu faço essas coisas. Eu sei que elas têm um preço, mas eu encaro”.

E ela, no decorrer da sua história arriscou, e arriscou bastante, e justamente por sua capacidade de arriscar e não se conformar com sua voz fenomenal que a coloca no patamar mais alto de qualquer lista de grandes cantoras do Brasil. 

Faço aqui uma lista de dez momentos e razões para considerar Gal genial. 

1 – Divino Maravilhoso. Quando Gal apresentou a canção “Divino Maravilhoso”, em novembro de 1968, no 4º Festival de música Brasileira, da TV Record, todos se surporeenderam: ela, considerada um João Gilberto de saias, por sua voz suave, Gal cantou a música com um cabelo estilo black power, com um enorme colar de espelhos no pescoço comportando-se de maneira agressiva e explorando os agudos, num estilo totalmente chocante e anti-bossa nova. Entre aplausos e vaias,  a música ficou em 3º lugar no festival. 

2 – FA-TAL. Gal a Todo vapor. Um marco na carreira de Gal. Gravado a partir de uma turnê de shows entre 1971 e 1972. Com um repertório que passava por Roberto Carlos e Caetano Veloso, ao estrondoso lançamento de Pérola Negra, de Luiz Melodia, e Vapor Barato, de Jards Macalé e Waly Salomão,  Com passagens de samba-de-roda, Jorge Ben, Ismael Silva, Geraldo Pereira e Luiz Gonzaga,  é overdadeiro disco solo tropicalista de Gal, que, novamente, não teve medo de arriscar.

3 – Índia. Em 1973, no auge da ditadura militar, Gal arrisca-se mais uma vez. A capa do disco contém a foto em close da região do umbigo às coxas de Gal, que veste somente uma pequena tanga vermelha.  Na contracapa, duas fotos de Gal fantasiada como índia, com os seios a mostra. O resultado foi o disco ser um dos censurados do ano, tendo sido vendido nas lojas coberto por um invólucro preto. E a própria gravação de Índia, uma versão em português da guarânia paraguaia “Índia”, clássico sertanejo gravado originalmente pela dupla Cascatinha e Inhana, mostra que ela não tinha medo de flertar com o chamado “brega”, numa época de patrulhamento ideológico musical.  

4 – Folhetim. Wagner Homem conta, no livro que escreveu sobre as canções de Chico, que a  música “Folhetim”,  foi composta entre 1977/78 para a peça “Ópera do Malandro”.  Mas Chico disse que a música tinha a cara de Gal. E quando ela canta: “Se acaso me quiseres, sou destas mulheres que só dizem sim“, parece que ela se veste no eu-lírico da canção, ela se transforma naquela mulher que na manhã seguinte, vira a página do folhetim. Gravado no disco “Água Viva”, de 1978. 

5 –Tom, Caymmi, Ary, Chico, Caetano. Ao mesmo tempo em que se arrisca, Gal consegue reeternizar clássicos gravando discos com canções de grandes compositores. Foi com Caymmi (1976), Ary Barroso (1980) Tom Jobim (1999), Chico e Caetano (1995). Algumas músicas parecem ter sido feitas para Gal gravar. Talvez seja dela a versão definitiva de Aquarela do Brasil…

6 –O Convite a Elis Regina. Diziam que gal e Elis eram rivais. O que Gal fez:  convidou Elis para seu especial da série Grandes Nomes, e para quem se lembra foi um dos melhores momentos da televisão, Elis cantava de olhos fechados,  não conseguia encarar os olhares carinhosos de Gal. 

7. Brasil. No show O sorriso do Gato de Alice, idos de 1993/94, Durante a música Brasil (Brasil, mostra a tua cara / Quero ver quem paga pra gente ficar assim), de Cazuza, Gal, que cantava com algo que parecia um pijama, abriu a blusa e cantou com os seios à mostra. Foi praticamente capa de todos os jornais do Brasil. Vieram inúmeras críticas, piadas; alguns, mais moralistas, indignados; outros, fãs de Gal, aturdidos.

8. Autotune autoerótico. Já consagrada, conseguiu explorar os limites de sua voz em Autotune Autoerótico,sem medo de brincar com música eletrônica. 

9. Um dia de domingo. No show ao vivo do álbum Recanto, ela consegue cantar “um dia de domingo”, primeiro, com sua voz; em seguida, com a voz de Tim Maia. Imitando os trejeitos de Tim Maia. Não é para qualquer um. 

10 – Sua voz. Não se trata de uma mera voz. Cada um desses itens mereceria uma postagem por si só. Alguns já viraram, outros virão. Mas a voz de Gal Costa é única e inconfundível. Quando ela canta, não há dúvida de que se trata dela. Pela voz e por muito mais. 

domingo 21 abril 2013 13:52 , em Listas