Johnny Alf

Johnny Alf é o nome artístico de Alfredo José da Silva, nascido no Rio de Janeiro em 19/05/29. Quando da sua morte, ocorrida na semana passada, Johhny Alf foi lembrado e saudado como precursor da bossa nova.

Mas, para aqueles que não estavam nascidos na década de 50 ou 60, como saber da importância de Johnny Alf para a Música Brasileira?

Em qualquer referência bibliográfica sobre ele, conta-se que era filho de um cabo do exército, que morreu quando Johnny Alf tinha 3 anos, e que sua mãe fora empregada doméstica. A patroa de sua mãe, segundo consta, gostava muito da criança e o matriculou, desde os nove anos, em aulas de piano clássico com a professora Geni Bálsamo.

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No livro “História da Música Popular Brasileira (Abril Cultural/São Paulo, 1972), Johnny Alf conta que, a despeito de ter estudado piano clássico, o que ele mesmo gostava dos filmes musicais americanos:

– Impacto mesmo me dava outro tipo de música. Eram os filmes musicais americanos que tinham George Gershwin. Cole Porter, esse pessoal todo. Era o que me acendia aquela vontade interior de criar alguma coisa. Então, quando eu estudava, quando voltava do cinema sob aquele impacto, eu ia ao piano e fazia coisas com a influência do que tinha ouvido, inventava a melodia, e tal.

Seu nome artístico veio, inicialmente, de um professor do Instituto Brasil-Estados Unidos, que insistia em chamá-lo de Alf. E, posteriormente, numa apresentação da Rádio Ministério da Educação, uma garota americana sugeriu Johnny para completar o Alf.

Narra Ruy Castro, em “Chega de Saudade”, que Johnny Alf tornou-se integrante do Sinatra-Farney fan club, tido como uma espécie de “manjedoura” de onde saíram muitos dos principais nomes da bossa-nova. Alf entrara para o clube porque teria um piano ocioso para tocar.

A grande revolução na carreira musical de Johnny Alf ocorrera em 1952, quando ele era cantor de boate, à noite, e cabo do exército, durante o dia. Foi percebido pelos cantores Dick Farney e Nora Ney, por intermédio dos quais iniciou a carreira profissional como pianista na Cantina do César, casa noturna de propriedade do radialista César Alencar.

E qual a influência na bossa-nova? O músico Paulo Levita, em reportagem no Jornal  A TARDE, faz referência que Alf evoluiu as harmonias do jazz  americano para uma forma mais sofisticada, no uso das dissonâncias (que vieram a ser uma marca típica da bossa nova) como na forma de expressar o canto com divisões bem singulares (o cantar com uma divisão particular é uma das marcas de João Gilberto).

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Johnny Alf, já em 1954, era o Pianista da boate do Hotel Plaza, em Copacabana, e era ouvido e admirado por Tom Jobim, João Gilberto, Jaó Donato, Baden Powell, entre outros grandes nomes, alguns já famosos, outros ainda não.

Mas por qual razão Johnny Alf é tido como precursor da bossa nova, e não integrante do dito movimento? No site WWW.almacarioca.com.br, conta-se:

De malandro, porém, Johnny Alf, tímido e quase sempre triste, tinha muito pouco. No máximo era um tanto desligado com relação a contratos e oportunidades de trabalho. Em 55, quando começava a se fortalecer o grupo que dominaria a bossa nova no Rio, ele estava de malas prontas para São Paulo, sem ao menos avisar o dono da boate Plaza, onde era estrela máxima.

 Mais adiante, outro trecho:

Em 1961, deflagrada a bossa nova, Johnny foi lembrado para tripular um de seus módulos. Primeiro, foi gravar seu Lp inicial, na RCA Victor. Com músicas como Ilusão à toa, uma das favoritas do autor: “Olha/ somente um dia longe dos teus olhos/ veio a saudade do amor tão perto/ e o mundo inteiro fêz-se tão tristonho…” Depois, um convite do compositor Chico Feitosa:

– Vai ter um negócio no Carnegie Hall daqui a alguns meses e eu queria que você estivesse nessa.

Resposta: – Tá legal.

Mas no dia 21 de novembro de 1962, quando abriram as cortinas do palco em Nova York, Johnny não estava nessa:

– Na época, fiquei aqui em São Paulo, bastante desligado deles. Enchia a cara, acordava naquela ressaca. Eu era o rei de chegar atrasado.

Não era um retrato alegre, mas em muitos pontos era um retrato fiel. A bossa nova fluía seus barquinhos e flores, preparava-se para entrar em uma fase diferente, mais exteriorizada, e Johnny estava atrasado. Não tinha regulado seus ponteiros com os do sucesso, com alguns ex-expectadores de sua música, como Tom Jobim e João Gilberto. Só voltaria ao Rio obrigado, por volta de 62.

No entanto, sua linha melódica fantástica sempre o colocou como um dos mais importantes músicos brasileiros. Alguns de seus sucessos são clássicos, como Céu e Mar, Coisas do Carnaval, Oxum, O que é amar, e, sobretudo, Eu e a Brisa, talvez seu maior clássico, eternizado na voz de João Gilberto.

Por isso, deve-se reverenciar Johnny Alf, grande músico, músico acima de tudo, e que é mais do que um mero precursor da bossa-nova. É um talento eterno da música brasileira.  Faleceu em março de 2010.

Fontes: Chega de saudade – A história e as histórias da Bossa Nova – Ruy Castro (Cia das letras); História da Música Popular Brasileira – Abril Cultural – São Paulo, 1972; site WWW.almacarioca.com.br; Jornal A TARDE de 11/03/2010.

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