Prazer em Conhecê-lo . Noel Rosa

 

A obra de Noel Rosa sempre revela surpresas. Uma delas é fruto de uma parceria sua com Custódio Mesquita, chamada “Prazer em conhecê-lo”. Quando ouvi o samba pela primeira vez, tive a impressão de que se tratava de uma música que refletia uma passagem biográfica do autor.

Pesquisando aqui e acolá, achei algumas referências, sendo a mais completa no endereço http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/modestia-a-parte-meus-senhores-noel-rosa-fez-um-samba-no-leblon/, cujos principais trechos transcrevo aqui.

A fonte é o próprio poeta: “A história desse samba está contada nele mesmo. Tudo isso é verdadeiro” (O Globo, 31/12/1932). Um samba que pode ser o primeiro composto no bairro.

O fato aconteceu certa noite, meses antes da entrevista ao jornal, depois de um encontro inesperado do compositor com Clara (Clara Corrêa Neto, , antiga namorada por mais de 5 anos, da época de colégio) , em festa na rua Conde de Bonfim, Tijuca. A dona da casa, sem saber do namoro, apresentou-os como se fossem desconhecidos. Clarinha, acompanhada de um rapaz alto e magro, de olhos azuis e cabelos castanho-claros, estendeu, um tanto sem jeito, a mão:

– Muito prazer.

– O prazer é todo meu, foi a resposta que ouviu.

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Para Noel Rosa, então com 21 anos de idade, a festa acabou naquele momento. Retirou-se. Depois de uma cerveja no Café Ponto Chic, em companhia de dois amigos, os irmãos Arnaldo e Antônio Araújo, testemunhas do cumprimento protocolar de Clarinha, partiu para o Leblon. Para beber uísque e compor um samba.

Noel Rosa chegou ao Leblon com sede de bebida forte. Entrou num bar e pediu uísque, “porque não havia uma bebida nacional desse gênero”. São palavras suas. Queria cachaça ou conhaque, na certa. Acendeu um cigarro e descansou o chapéu de palha na mesa. Deu uns goles e cantarolou baixinho. Nascia, assim, “Prazer em Conhecê-lo”.

Segue, então, a letra:

Quantas vezes, nós sorrimos, sem vontade,
Com o ódio a transbordar, no coração,
Por um, simples dever da sociedade,
No momento, de uma apresentação,
Se eu soubesse, que em tal festa te encontrava,
Não iria desmanchar o teu prazer,
Porque se lá não fosse, eu não lembrava,
Um passado, que tanto nos fez sofrer.
Lá num canto, vi o meu rival antigo,
Ex-amigo,
Que aguardava o escândalo fatal,
Fiquei branco, amarelo, furta-cor,
De terror,
Sem achar, uma idéia genial,
Ainda lembro que ficamos, de repente,
Frente a frente,
Naquele instante, mais frios do que gelo,
Mas sorrindo, apertaste a minha mão,
Dizendo então:
“Tenho muito prazer em conhecê-lo”
Quantas vezes, nós sorrimos sem vontade…
Mas eu notei que alguém, impaciente,
Descontente,
Ia mais tarde te repreender,
Tão ciumento que até nem quis saber,
Que mais prazer,
Eu teria em não te conhecer.

Fonte: http://feiticodonoel.blogspot.com.br/2009/11/as-mulheres-de-noel.html

domingo 19 dezembro 2010 20:25 , em Samba

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