Em 1945, fazia sucesso no Brasil uma marchinha de carnaval, de autoria de Roberto Martins e Erastótenes Frazão e gravada pelo conjunto “Anjos do Inferno”. A música se chamava “O cordão dos puxa-saco”. No início da letra, chegam a mencionar uma música de 1909, chamada “No bico da chaleira”, também em homenagem ao tema “puxa-saquismo”.
Vamos voltar no tempo e analisar esta crônica que parece eterna dos costumes brasileiros. O hábito de bajular os poderosos já era uma realidade no Brasil. Segundo o sítio digital recanto das letras, o general José Gomes Pinheiro Machado, senador pelo Rio Grande do Sul, presidente do Partido Republicano Conservador, era um homem forte do Legislativo brasileiro e por 20 anos, entre 1895 e 1915, exercendo grande influência sobretudo no governo de Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914).
Consta que o senador mantinha no seu gabinete uma pequena chaleira com água quente para alimentar sua bomba do chimarrão. Quando políticos iam visitá-lo, disputavam o privilégio de segurar a chaleira para o chimarrão que o caudilho tomava, poupando ao senador o trabalho de preparar ou servir sua bebida preferida.
Na ânsia de serem os primeiros, seguravam a chaleira por onde melhor calhasse: pelo cabo, pelo bojo e até pelo bico – amiúde queimavam os dedos. Tudo para cair nos favores do senador.
O hábito acabou gerando o verbo chaleirar, praticado pelo chaleirador, o adulador, puxa-saco, etc. Isto dito da moda deu ensejo ao surgimento de uma canção carnavalesca da autoria de um famoso mestre de bandas que se ocultava sob o pseudônimo de Juca Storoni e foi o maior sucesso do Carnaval de 1909.
Senador José Gomes Pinheiro Machado
Iaiá me deixe subir esta ladeira,
Que eu sou do grupo do pega na chaleira,
Iaiá me deixe subir esta ladeira,
Que eu sou do grupo do pega na chaleira.
Na casa do Seu Tomaz/Quem grita é que manda mais
Que vem de lá,
Bela Iaiá,
Ó abre alas,
Que eu quero passar,
Sou Democrata,
Águia de Prata,
Vem cá mulata,
Que me faz chorar…

Já em 1945, depois do fim da ditadura e do Estado Novo, houve uma maior abertura em relação às letras de músicas, controladas e censuradas pelo então departamento de censura da época, o DIP.
O Cordão dos Puxa-saco, então, fazendo expressa referência à canção de 1909, tem como mote a crítica àqueles que bajulam os homens políticos e públicos, ou seja, os famosos puxa-sacos.
“Vossa Excelência / Vossa Eminência /Quanta referência nos cordões eleitorais!”.
E fica bem clara a hipocrisia quando se diz: “Mas se o “Doutor” cai do galho e vai pro chão/ A turma logo evolui de opinião”, mostrando que os bajuladores mudam logo de opinião a cada pleito eleitoral.
Na letra, conta-se e critica-se as homenagens e as circunstâncias, o apego ao poder e não ás pessoas, e o caráter volátil dos “puxa-saco” que evoluem de opinião sempre que há uma mudança do poder. Continua … muito atual…Segue a letra.

Iaiá me deixa subir essa ladeira
Que eu sou do bloco
Mas não pego na chaleira
Lá vem
O cordão dos puxa-saco
Dando vivas aos seus maiorais
Quem está na frente
É passado pra trás
E o cordão dos puxa-saco
Cada vez aumenta mais
Vossa Excelência
Vossa Eminência
Quanta reverência
Nos cordões eleitorais
Mas se o “doutor”
Cai do galho e vai ao chão
A turma toda evolui de opinião
E o cordão dos puxa-saco
Cada vez aumenta mais
Fontes: http://br.oocities.com/musicaschiado/Nobicodachaleira.htm;
Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira. Ed. Paracatu, 2006.
http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/4575532
terça 06 abril 2010 22:02 , em Clássicos da Música Brasileira
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