Mudando como um deus o curso da história, por causa da Mulher….

Esta frase termina uma bela homenagem de Gilberto Gil ao feminino, numa canção em que música e letra foram compostas ao mesmo tempo, e que se intitula “Super-Homem – a canção”.

Para quem não sabe, antes mesmo dos filmes sobre Homem-Aranha, X-Men, Batman, Pantera Negra, Homem de Ferro e etc, um filme de super-herói fez história no final da década de 70. Era o Super-Homem – o filme, com Christopher Reeve no papel de Super-Homem, Margot Kidder no papel de Lois Lane, Marlon Brando no papel de Jor-El, pai do Super-Homem e Gene Hackmann no papel de Lex Luthor.

 

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O filme mostra o quanto o super-homem, ao mesmo tempo em que é vulnerável pela kriptonita, é vulnerável também ao amor que sente por Lois Lane, colega de profissão de seu alter-ego, Clark Kent. Super-homem não consegue suportar a ideia da morte de Lois Lane, e então opera um milagre.

A partir da narrativa de Caetano sobre o filme que acabara de ver, surgiu uma das mais conhecidas músicas de Gil, uma homenagem, que ele narra no seu livro Todas as Letras (Cia das letras, 1996).

Eu estava morando na Bahia e não tinha casa no Rio, por isso estava hospedado na casa do Caetano. Como eu tinha que viajar logo cedo, na véspera da viagem eu me recolhi num quarto por volta de uma hora da manhã

De repente eu ouvi uma zoada: era Caetano chegando da rua, falando muito, entusiasmado. Tinha assistido o filme Super-Homem. Falava na sala com as pessoas, entre elas a Dedé [Dedé Veloso, mulher de Caetano à época]; eu fiquei curioso e me juntei ao grupo. Caetano estava empolgado com aquele momento lindo do filme, em que a namorada do Superhomem morre no acidente de trem e ele volta o movimento de rotação da Terra para poder voltar o tempo para salvar a namorada. Com aquela capacidade extraordinária do Caetano de narrar um filme com todos os detalhes, você vê melhor o filme ouvindo a narrativa dele do que vendo o filme… Então eu vi o filme. Conversa vai, conversa vem, fomos dormir

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Mas eu não dormi. Estava impregnado da imagem do Super-Homem fazendo a Terra voltar por causa da mulher. Com essa ideia fixa na cabeça, levantei, acendi a luz, peguei o violão, o caderno, e comecei. Uma hora depois a canção estava lá, completa. No dia seguinte a mostrei ao Caetano; ele ficou contente: ‘Que linda!’

Gil somente fora ver o filme quando estava nos Estados Unidos para gravar o disco Realce. A canção foi feita, portanto, a partir da narrativa de Caetano Veloso sobre o filme. .

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O significado da canção, que há quase 40 anos foi visto com certa desconfiança pela critica, hoje parece evidente:  é uma homenagem àquilo que é visto como feminino, como características atribuídas naturalmente às mulheres, e que são coisas que fazem o e-lírico melhor, muito mais do que o tradicional mundo masculino. Gil, ainda sobre a letra, arrematou:

 

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Sobre a “porção mulher” – “Muita gente confundia essa música como apologia ao homossexualismo, e ela é o contrário. O que ela tem, de certa forma, é sem dúvida uma insinuação de androginia, um tema que me interessava muito na ocasião – me interessava revelar esse imbricamento entre homem e mulher, o feminino como complementação do masculino e vice-versa, masculino e feminino como duas qualidades essenciais ao ser humano”.

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