Rita Lee muitas vezes não é devidamente valorizada quando se fala de música brasileira. A mais completa tradução de São Paulo, segundo a música Sampa, de Caetano Veloso, a madrinha ou a “tia” do rock, Rita Lee tem uma história que começa com os Mutantes, nas origens do tropicalismo.
Mas o auge de Rita Lee se deu na década de 70, quando assumia uma postura de rock cor-de-rosa, feminino. As músicas de Rita Lee são de uma mulher que fala e gosta de sexo, mas não de uma maneira agressiva. Uma das músicas mais sensuais que existe, que se tornou sucesso absoluto em 1979, foi ” Mania de você”, que foi definida por Tom Zé como uma “balada pós-trepada”
Rita Lee, na canção Mania de você, assume que o assunto é sexo, numa música cheia de imagens, como “tirando a roupa”, “molhada de suor” e “deitar e rolar com você”
Meu bem você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras…
A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia
Mania de você
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras
Nada melhor do que não fazer nada
Só pra deitar e rolar com você
Em entrevista para o songbook de Almir Chediak, Rita confessa:

“Foi em cinco minutos que a gente fez mania de você. A gente tinha acabado de transar. ele pegou o violão, eu peguei um caderninho e começamos… ‘meu bem você me dá água na boca’ … a gente estava em estado de graça”…
Tom Zé já disse considerar esse álbum um marco da sexualidade brasileira. “Ele foi responsável pela educação sexual daquela época, com suas letras sexo-pedagógicas criadas pelo fato de Rita ter encontrado um marido tão fantástico como Roberto de Carvalho. Nunca vi uma pessoa se apaixonar tanto pelo pau de um namorado a ponto de tecer loas constantes e repetidas em tudo que cantava”.
Sem entrar no mérito do desempenho sexual de Roberto de Carvalho, então marido de Rita Lee, é muito pouco atribuir as músicas de Rita Lee, como Mania de Você,apenas ao desempenho sexual de seu marido.
É uma música que exala sensualidade e um modo feminino de enxergar o sexo até então muito pouco visto, que fala das fantasias, ao que me parece, muito mais do que roupas, que são tiradas enquanto o casal se veste de muitos personagens.
Numa entrevista ao Jornal do Brasil em agosto de 1979, Rita fala também sobre a composição:
– Nunca fiz música romântica, por que nunca me vi envolvida com o tema para fazer. Agora, eu casei, estou apaixonadíssima por meu marido, por meus filhos. Por isso, escrevei e cantei Mania de você, essa balada salerosa –
É o suor que molha, ela está molhada de tanto eles se beijarem, e imaginando loucuras enquanto o sexo acontece, por telepatia, como se eles não precisassem dizer nada, feito em todos os lugares, no chão, mar lua, em todos os lugares e na cabeça do feminino.
E depois, nada melhor do que não fazer nada, a preguiça logo após uma viagem sexual. É a quebra de um tabu, transforma uma coisa tradicionalmente vista como “feia” em bonita, desmistificada com a canção. Reparem que a canção é atemporal, e que nada mais se revela sobre o casal da canção, senão a sua afinidade, intimidade e harmonia sexual, transformada em canção pela perspectiva da mulher.
Inclusiva, a música foi o tema de um comercial da Ellus, que, pela sua conotação sexual, foi objeto de censura no final dos anos 70.
quarta 05 maio 2010 22:00 , em Anos 70