A história da música “Onde Andarás”, de Caetano Veloso e Ferreira Gullar

Quando se fala de poetas que escreveram canções, o primeiro nome, e certamente o mais bem-sucedido é o de Vinícius de Moraes. Mas não o único. Ferreira Gullar, além de poeta e  escritor, fez algumas incursões como compositor.

Uma delas é uma música que passou desapercebida no primeiro álbum solo de Caetano, em 1968. Trata-se de um álbum histórico, que conta com canções que se tornaram clássicos, como ““Tropicália”, que batizou o movimento que revolucionou a MPB, “Soy Loco por ti, América” e “Alegria, Alegria”.  Por isso mesmo a parceria de Caetano com Ferreira Gullar não chamou tanta atenção. Mas a história é interessante.

No livro “Verdade Tropical”, Caetano refere:

“Onde andarás”, um bolero meio samba-canção que eu tinha feito ainda no Rio sobre letra de Ferreira Gullar pedido de Bethânia, por funcionar como veículo para a exposição de paródias de estilos sentimentais considerados cafonas (e para exemplo de como, mesmo parodiando-os, podia-se amá-los e enobrecê-los, à maneira de própria Bethânia), também entraria. 

Mais adiante, numa entrevista ao Pasquim, ele complementa:

O início da faixa Onde Andarás, uma parceria minha com Ferreira Gullar, parece com o Chet Baker. Depois imito o Orlando Silva e o Nelson Gonçalves

Resultado de imagem para caetano veloso 1968

Caetano, no entanto, sequer tinha relacionamento com Ferreira Gullar. A letra foi feita a pedido de Maria Bethânia que desejava um tema ligado à dor de cotovelo para gravar no seu disco de estreia. Gullar escreveu dois textos, Bethânia repassou para Caetano que musicou “Onde Andarás” .

Numa entrevista ao Jornal CINFORM, de Aracaju (http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2009/07/), Gullar sugere que o segundo texto (não aproveitado) serviu de inspiração para compor alguns argumentos para “Alegria, alegria”. Vale citar o trecho da entrevista:

 Você foi parceiro de Caetano Veloso com o poema “Onde Andarás”, que faz parte do seu primeiro LP individual prensado em 1968. Em que circunstância ocorreu a parceria e por que não houve continuidade como a estabelecida com Raimundo Fagner com quem tem vários poemas musicados: Traduzir-se; Me Leve – cantiga para não morrer; Rainha da vida, Contigo e outras?


Ferreira Gullar – Essa parceria não nasceu de uma relação minha com Caetano. Foi a Maria Bethânia que me pediu, se eu gostaria de escrever para ela duas letras de fossa, de dor-de-cotovelo que ela queria gravar no seu disco de estreia. Então fiz e entreguei a ela duas letras, uma é “Onde Andarás” e a outra é um poema que também é do mesmo livro, que eu adaptei para servir como letra, porque como poema era muito longo. Mas Caetano só musicou uma delas, o outro poema eu acho que inspirou “Alegria Alegria”, porque fala “atravessa a rua, entra no cinema” é um poema urbano, que fala exatamente da cidade e o enfoque é o mesmo e o fato dele não ter posto música na minha letra e ter escrito “Alegria Alegria” dá a impressão de que ele achou melhor criar uma letra sobre aquele assunto. Existe na música “Alegria Alegria” uma expressão que é de um poema meu “o sol se reparte em crimes” isso é de um poema que diz assim: “A tarde se reparte em yorgut, coalhada, copos de leites” esse uso do verbo repartir nesse sentido é do poema “Na Leiteiria”. “A tarde se reparte em copos de leite”, “o sol se reparte em crimes/espaçonaves guerrilhas”. Tudo bem, a função da poesia é essa, o poeta inventa as expressões e o artista popular, o compositor não tem essa função – é muito mais a de comunicar de maneira ampla com o público, não é de mudar a linguagem, de reinventar a linguagem isso é mais dos poetas […].

No começo da canção, ele canta num estilo “cool” como Chet Baker, para mais adiante cantar com a voz empostada, numa espécie de pastiche de Orlando Silva e Nelson Gonçalves (cantores populares da velha guarda da época), e que veio a ter continuidade em “Coração materno”, de Vicente Celestino, gravado no Disco “Tropicália ou Panis et Circencis”

 “Onde andarás” foi gravada por Maria Bethânia, Marisa Monte, Joanna, Gal Costa e Adriana Calcanhoto

Fontes:

http://www.drzem.com.br/2014/12/a-historia-da-musica-onde-andaras-de.html

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com/2009/07/

Caetano Veloso em texto para o Pasquim – 26/03 a 01/04/70

Deixe um comentário