Tereza da Praia… Uma obra-prima para acabar com uma falsa rivalidade

O ano, 1954. Dois grandes astros da gravadora Continental (Lúcio Alves e Dick Farney) protagonizavam uma rivalidade entre os fãs. Quem era melhor? Ruy Castro, no seu antológico livro “Chega de Saudade”(Cia das letras, 1991),  relatava:

 

“…E desde quando Lúcio Alves poderia ser comparado a Dick Farney, a ponto de merecer um fã-clube? Curiosamente, não ocorria aos membros do (fã clube) Sinatra-Farney que Farney, como cantor, devia tudo, ou quase tudo a Crosby, não a Sinatra – e que, se havia alguém de fato original entre os dois brasileiros, era Lúcio Alves. O que os ligava era o tipo de repertório e o fato de ambos terem, como se dizia, ‘voz de travesseiro’”.

A gravadora, evidentemente, lucrava com a rivalidade, té que, em certo momento, encomendou uma música na qual pretendia apimentar a dita “rivalidade” (que na verdade acontecia entre os fãs, pois Dick e Lúcio eram amigos).

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Paulo César Soares conta a história:

– Tereza da Praia, gravada por Dick Farney e Lúcio Alves em 1954, foi o primeiro sucesso de Tom Jobim. Esta música tem uma história curiosa que dá uma amostra da criatividade do maestro e de seu parceiro Billy Blanco com quem compôs também a Sinfonia do Rio de Janeiro. A canção nasceu de um pedido de Alves e Farney a Billy Blanco e Tom Jobim para que fizessem uma canção de modo que os cantores pudessem dividir os vocais e, desta forma, acabar com as fofocas sobre uma possível inimizade. Tom e Billy toparam fazer a música mesmo só tendo uma semana de prazo. Billy relembra a história assim: “Concordamos como se fosse a coisa mais simples do mundo. Fomos para a casa do Tom e, de noite, a música já estava pronta. No dia seguinte, chegamos à gravadora Continental e mostramos ao Braguinha e ao diretor da empresa, Sávio Carvalho da Silveira. A reação deles foi fantástica”.

A canção, em dueto, conta a disputa de Dick e Lúcio por Tereza, que tem “um nariz levantado, os olhos verdinhos bastante puxados, cabelo castanho e uma pinta do lado”

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Houve quem dissesse que a Tereza seria a mulher de Tom (Thereza Otero Hermanny), com quem ele e casara em 1949, mas tanto ele quanto Billy Blanco sempre asseveraram tratar-se de um personagem fictício, embora o nome tivesse sido inspirado, de fato, na Tereza de

Tereza da Praia tornou-se um sucesso e um dos maiores clássicos pré-bossa nova.  E, obviamente, os fãs continuaram discutindo quem seria melhor cantor: Dick Farney ou Lúcio Alves.

Trata-se de uma disputa divertida, em que cada um conta suas vantagens pela suposta conquista de Tereza, que, afinal, não pertence a nenhum dos dois, pertence à praia, e tornou-se um dos maiores sucessos de 1954. Não era ainda bossa-nova, mas já revelava o talento de Billy Blanco e Tom Jobim, e transformou-se num clássico para ser cantado em dupla. Já fora gravado por Emílio Santiago e Luiz Melodia, também por João Nogueira e Sérgio Ricardo, sem falar na gravação de Caetano Veloso e Roberto Carlos, em homenagem aos 50 anos da bossa-nova…

 

Dick!
Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito, que pele morena
Que amor de pequena, amar é tão bom!
– O Lucio!
Ela tem um nariz levantado?
Os olhos verdinhos bastante puxados,
Cabelo castanho e uma pinta do lado?
– É a minha Tereza da praia!
– Se ela é tua é minha também
– O verão passou todo comigo
– O inverno pergunta com quem
– Então vamos a Tereza na praia deixar
Aos beijos do sol e abraços do mar
Tereza é da praia, não é de ninguém
– Não pode ser tua,
– Nem tua também
– Tereza é da praia,
Não é de ninguém

 

Fontes: http://www.paixaoeromance.com/50decada/tereza/h_terreza1.htm;

Ruy Castro, Chega de saudade (Cia das letras, 1991).

Clique para acessar o EF.111.Tom-Jobim.pdf

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