Olhos coloridos. Origem de um episódio de racismo…

A canção “Olhos Coloridos”, que se tornou sucesso na voz de Sandra de Sá em 1982, é o resultado de um episódio de racismo vivenciado pelo seu compositor, Macau, na década de 70.

Macau era morador da Cruzada São Sebastião, na Zona Sul do Rio, onde muitos moradores tinham origem na Favela da Praia do Pinto, na mesma região, que foi destruída por um incêndio em 1969.

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Macau já era cantor e compositor na década de 70. Ele foi com seu amigo Jamil, no começo da tarde,  para ver um evento escolar no Estádio de Remo da Lagoa. Negros, eles estavam com roupas simples e cabelo black, quando foram abordados  foi interpelado por um policial militar, considerados  e convidado a passar por uma averiguação.

Ele, inicialmente, se recusou a ir, pois disse que não estava fazendo nada errado. O policial, então, disse que se ele não fosse, seria levado á força.

Conduzido para uma sala, foi ofendido por um sargento. “Ele me levou para um escritório. E tinha um sargento, baixinho, que quando eu cheguei ele ficou rindo e disse: ‘eu estou vendo você lá de baixo, você não é fácil, hein? Você ri demais, fala demais’”, conta Macau.

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Macau e Sandra de Sá

As ofensas continuaram: “esse cabelo enrolado, esse sorriso, essa roupa, ao cabelo, a roupa que ele vestia e ao local onde ele morava, quando Macau alegou, em sua defesa, que era morador da Cruzada São Sebastião.

“O policial disse: ‘Você mora naquela lama ali, cheia de bandido’. Eu disse que bandido não, ali não tem bandido. Eles são moradores da Cruzada São Sebastião.

Macau, então, começou a discutir com o policial, dizendo que não tinha feito nada de errado: “Mas qual é o problema do meu cabelo, da minha roupa? O cabelo é meu, eu uso como eu quero, a roupa eu uso como eu quero….

Nas palavras de Macau:

Olhos Coloridos surgiu de uma repressão policial que sofri em um evento escolar realizado pelo Exército, no Estádio de Remo da Lagoa. Eu e meu amigo Jamil estávamos vendo as crianças brincarem na roda-gigante, quando um policial militar veio até a mim e me obrigou a acompanhá-lo até a coordenação do evento. Me recusei porque não entendi o motivo pelo qual tinha que me afastar de onde estávamos. Acabei acompanhando o PM, que me levou até o Sargento e, a partir daí, sofri todos os tipos de discriminação: fui chamado de “nego abusado”, agredido com palavras e força física, zombaram da minha cor, da minha pele, do meu cabelo e de minha roupa, riram até do meu sorriso. O impressionante é que o policial também era “sarará crioulo”.

 

Aí Macau chegou para o policial e disse a frase que acabou acarretando sua prisão:

Eu sou negro e você também é , você é sarará crioulo, o sangue que corre nas minhas veias é o mesmo que o seu, então somos da mesma origem e você é sarará….

O sargento ficou furioso, deu um tapa em Macau e mandou que ele fosse conduzido.

 

 

Macau foi preso e colocado em um camburão no meio da tarde. O veículo circulou por toda a cidade, vários “suspeitos” foram também colocados ali dentro e, no fim das contas, ele só chegou à delegacia à 1h do dia seguinte. “Era uma escuridão, eu sendo esmagado de gente, eu me senti dentro de um porão. Eu fiquei muito mal, fragmentado, com a alma ferida”.

Ele e todos os homens que estavam aglomerados foram colocados em uma cela apertada, onde Macau passou a noite, ao lado de um vaso sanitário, agachado por causa da falta de espaço.

Mas não parou aí: fiquei horas no camburão com outras pessoas como se fôssemos lixo, um por cima dos outros, como lata de biscoito. Rodamos horas pela cidade até que resolveram nos levar para a delegacia para averiguação. Não havia nada que me mantivesse preso e, mesmo assim, só de madrugada fui liberado com a ajuda do padre Bruno Trombeta, da Pastoral Penal. Saí dali triste e revoltado, chocado e com forte depressão.

Quando foi libertado, o padre fez menção de levá-lo para casa, mas ele não quis. “Eu fiquei tão revoltado que queria explodir. Eu falei: ‘Eu vou para o mar, quero ficar sozinho’”, conta Macau.

Diante do mar do Leblon, Macau, revoltado, sentou na areia e ficou refletindo…. e compôs a letra em que ele falava com deus e consigo mesmo, isso acabou anestesiando a raiva… a letra veio de uma vez só. “Eu comecei a olhar o mar e veio, de uma forma única, o texto dos ‘Olhos coloridos’. Eu comecei a chorar, veio na minha mente todo esse texto. Eu corri para casa, peguei o violão e comecei a tocar a canção”, conta o cantor.

 

 

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/autor-de-olhos-coloridos-conta-que-musica-surgiu-de-caso-de-racismo.html

 

O cantor Macau fala sobre sua carreira

 

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