Serra da Boa Esperança. Quando Lamartine foi enganado se apaixonou por uma mineira que não existia…

Lamartine Babo foi um dos principais compositores de marchinhas carnavalescas do Brasil. Bem-humorado e irreverente, tornou-se também conhecido por ser o compositor dos hinos dos clubes de futebol do Rio de Janeiro, inclusive o do América, seu clube de coração.

Lamartine nasceu em 1904, e morreu de infarto, em 1963. Ele Lamartine Babo nunca se casou. No entanto, celebrizou, na década de 30, uma curiosa história que acabou sendo imortalizada numa canção. Serra da Boa Esperança.

 

 

Resultado de imagem para aurea netto pinto serra da boa esperança"

 

De acordo com Áurea Netto Pinto, no princípio da década de 1930, seu irmão, o dentista Carlos Alves Netto (chamado “Caro”, pelos amigos) colecionava fotos de celebridades do rádio. Para conseguir as fotos, “Caro” costumava escrever aos artistas no Rio, chegando, às vezes,  a adotar um um pseudônimo feminino.

Uma das “vítimas” foi justamente Lamartine Babo, que estava no auge do prestígio, pela composição de marchinhas carnavalescas. Assim, Carlos Netto escreveu a Lamartine Babo, fazendo se passar por uma certa “Nair Oliveira Pimenta”, mineira de Dores da Boa Esperança, distrito do Município de Boa Esperança, em Minas Gerais (que fica a 450 km do Rio de Janeiro e 280 Km de Belo Horizonte)

 

Com o tempo, Lamartine e  “Nair” passaram a se corresponder com mais frequência. Eles se comunicavam em verso e prosa, e Lamartine estava admirado com a inteligência da sua correspondente, enviou as fotos e mantiveram contato por cerca de um ano.

Certo dia, a “Nair” interrompeu as cartas, alegando que iria se casar com um primo e que “tudo não se passava de um sonho impossível”.

Assim, diante da notícia, Lamartine resolve, em 1937, ir a Boa Esperança para conhecer Nair e dissuadi-la do casamento com o primo.

Segundo Áurea, Lamartine, ao chegar na cidade, era “magro, feio e desdentado; porém, um sultão orgulhoso de seu harém”.

Resultado de imagem para lamartine babo nair boa esperança"

Procurou a jovem Nair,mas ninguém a conhecia. A única Nair da cidade era uma menina de 6 anos de idade. Decepcionado, não desistiu e continuou sua busca pela cidade, até que a verdade lhe fora revelada:  “Nair” na verdade era o dentista Carlos Alves Netto, que era o efetivo remetente das cartas.

Sebastião Nunes conta como teria sido a chegada de Lamartine, recepcionado por Carlos Alves Neto, no Jornal GGN:

O sol estava alto quando Lalá desembarcou na estação de pouco movimento. Não conhecia ninguém, claro. Olhou para os lados. Viu, no meio da pracinha em frente, um sujeito de terno, gravata e chapéu, que parecia esperar por ele.

            – Não tenho nada a perder – resmungou mais uma vez. – Já que estou aqui, vamos em frente. Aquele camarada deve conhecer Nair.

            – Boa tarde – disse, tirando o próprio chapéu. – O senhor é da cidade?

            – Perfeitamente – concordou o outro. – Nascido e criado aqui. Só estive fora, na capital, estudando odontologia. Sou dentista. Meu nome é Carlos Alves Netto.

            – Ah, bom – fez Lamartine, confuso. – Já que é assim, teria a bondade de me indicar um bom hotel?

            – Pois não – disse o dentista, atencioso. – Logo ali, do outro lado da praça, está vendo? O Hotel Central é o melhor da cidade.

            – Ora, quem diria! – espantou-se Lalá. – Tão pertinho!

            – O senhor está chegando do Rio, não é?

            – Estou – respondeu Lalá. – Como adivinhou?

            – Ora, quem não reconheceria o grande Lamartine Babo? Sou seu fã!

            – Obrigado – disse Lalá. – Estou com uma sede danada depois dessa longa viagem. Aceitaria beber uma cerveja comigo?

            – Certamente, senhor Lamartine. Puxa vida, com o maior prazer. O melhor bar e restaurante da cidade fica também no hotel.

            – Vamos lá – moveu-se Lalá, desenferrujando com alegria as pernas. – Não precisa me chamar de senhor. Lamartine tá bom. E queira me desculpar o interesse, mas por acaso conhece uma moça chamada Nair? Nair Oliveira Pimenta?

SAINDO DA ENCRENCA

            O dentista ficou vermelho. Pigarreou. Passou um lenço na testa.

            – Então é só Lamartine, obrigado – desconversou. – Que tal a gente beber a cerveja e conversar um pouco? Temos muito que conversar.

            Só passados dois dias, sempre enrolado pelo dentista, Lalá ficou sabendo que a verdadeira Nair tinha seis anos de idade e era irmã de Carlos. Tudo não passava de uma farsa do dentista para arrancar fotos, cartas e autógrafos dos compositores que admirava. Lamartine Babo era um deles, e foi o único a fazer uma viagem por nada.

Ao saber de tudo, Lamartine capitulou. Ficou na cidade, e terminou fazendo amizade com Carlos Netto. Lamartine virou atração na cidade. A juventude e os músicos do lugar passaram a se reunir, diariamente, com ele.

Depois de alguns dias, foi marcado um piquenique para sua despedida e retorno ao Rio, quando Lamartine, olhando a Serra da Boa Esperança que emoldurava a paisagem, começou a solfejar as notas, que eram postas num pedaço de jornal improvisados por  Carlos Netto. E com as notas, foi saindo a letra.

A canção popularizou Boa esperança, tanto que, na cidade, há um monumento a Lamartine Babo.

 

Lamartine Babo

Serra da Boa Esperança,
Esperança que encerra
No coração do Brasil
Um punhado de terra
No coração de quem vai,
No coração de que vem,
Serra da Boa Esperança,
Meu último bem

Parto levando saudades,
Saudades deixando,
Murchas, caídas na serra,
Bem perto de Deus
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus
Vou-me enbora
Deixo a luz do olhar
No teu luar
Adeus!

Levo na minha cantiga
A imagem da serra
Sei que Jesus não castiga
Um poeta que erra
Nós, os poetas, erramos
Porque rimamos, também
Os nossos olhos nos olhos
De alguém que não vem

Serra da Boa Esperança,
Não tenhas receio,
Hei de guardar tua imagem
Com a graça de Deus!
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus,
Vou-me embora
Deixo a luz do olhar
No teu olhar
Adeus!           

 

 

Fontes:

http://seresta.tripod.com/curiser.html

Wikipedia

https://www.palestrantejuliocesar.com.br/blog/hist%C3%B3ria-da-m%C3%BAsica-serra-da-boa-esperan%C3%A7a

Aurea Netto Pinto. Serra da Boa Esperança, Imprensa Oficial, 1969.

Perdidamente apaixonado, Lamartine Babo vai ao encontro de seu grande amor

2 comentários sobre “Serra da Boa Esperança. Quando Lamartine foi enganado se apaixonou por uma mineira que não existia…

Deixe um comentário