“Caetano, pajé doce e maltrapilho”. A polêmica Caetano x Paulo Francis

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Como Reconvexo, um dos mais belos sambas de Caetano, foi uma espécie de resposta a Paulo Francis, que costumeiramente criticava Caetano em suas crônicas. O ápice do azedume veio quando Caetano, convidado pela extinta TV  Manchete, entrevistou Mick Jagger. Paulo Francis não gostou da entrevista e  escreveu o artigo “Caetano, pajé doce e maltrapilho“, na Folha de São Paulo do dia 25 de junho de 1983. Eis a crônica:

PAULO FRANCIS,de Nova York

Se a intelectualidade oficial no Brasil é representada por bacharéis como Roberto Campos, e é, não é difícil entender por que a juventude se rende a alguém como Caetano Veloso. Tudo é preferível ao pedantismo, à auto-satisfação mascarada de bonomia e humor, à cara selvagem de Campos. Crianças, como animais, sabemos “sentem” os bichos ainda que não saibam o que pretendem.

Caetano, claro é um compositor de talento, ainda que não crie músicas que sobrevivam sem ele, como Tom Jobim e Chico Buarque fazem. E é na minha opinião um cantor que sabe como ninguém unir e valorizar ritmos brasileiros e os subprodutos populares que vieram do “jazz cool” e do “bebop”, esses dois marcos da história da música popular.

 

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Quando não o vejo, gosto. E até vendo no palco, nos tempos pós-golpe de 1964-1968, era uma presença poderosa, naquela minirrenascença que foi a reação das chamadas classes artísticas ao advento do urubu Campos e outros tecnocratas pela mão militar. Nada saiu que perdurasse dessa “mini”, talvez porque o Brasil seja um país de “máxis”. Mas a “mini” foi “legal”. Quem viveu, sabe.
 
Mas Caetano não era então um totem. Não falava de tudo com autoridade imediatamente consagrada pela imprensa, que é mais deslumbrada do que o público em face dele. É evidente, por exemplo, que Mick Jagger zombou várias vezes de Caetano na entrevista na TV Manchete. O pior momento foi aquele em que Caetano disse que Jagger era tolerante e Jagger disse que era tolerante com latino-americanos (sic), uma humilhação docemente engolida pelo nosso representante no vídeo. E não só ele. Li duas matérias, uma na “Folha” e outra no “Jornal do Brasil”, em que as duas repórteres prostradas como sempre ficam diante de Caetano, citaram essa resposta ofensiva sem acharem nada de mais. O totem não pode errar. É Deus na carne humana, Daí a origem tribal de Jesus Cristo.

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O primeiro totem foi Frank Sinatra. Não quero dizer que antes dele (década de 1940) não houvessem cantores, sem falar de estrelas de Hollywood, que o público jovem não adorasse. Mas Sinatra literalmente iniciou o fenômeno de adolescentes tendo ataques de histeria em público, para horror do filósofo Theodor Adorno, exilado nos EUA, que viu nisso uma forma de totalitarismo cultural, em que a massa se submerge sensorialmente a um ruidoso cavalheiro de microfone, como alemães caíram sob a “hipnose” de Hitler. E Adorno só pegou o início da histeria dos anos 60. John Lennon, filósofo, eros encarnado, Paul McCartney, escritor, o rock como filosofia de vida, etc. O pobre Caetano não é bem dessa corrente (que deverá chegar ao Brasil pelos meus cálculos em 1990). 

Na mesma entrevista, ele fez uma pergunta que deve ter dado ao amável e brilhante Roberto D’Ávila vontade contida de matá-lo. É aquela de “como você situa o rock na história da música ?”. D’Ávila e companheiros (Fernando Barbosa Lima e Walter Moreira Salles Jr.) afinal idealizaram a entrevista, um grande evento jornalístico em TV. Caetano é uma atração. Ninguém resistiria incluí-lo. Mas essa pergunta simplesmente não se faz em televisão, ou até em jornal. É de um amadorismo total. Só serve para seminários de “comunicação” no interior da Bahia. Não é uma pergunta jornalística. Jagger começou a debochar aí. Estava delicado com a figura década de 1960 de Caetano. A moda agora é a de Jagger, cabelo curto e roupa simples, sem adornos. Começou aqui e na Europa em 1970. No Brasil chegará também nos 1990 ? E foi nesse charme perverso que Jagger, que lê tudo, não disse a Caetano que rock não é música (ver obras completas de Ellen Willis, entrevistas com Janis Joplin, etc.), mas uma manifestação de vida, ou, clichê abominável, de estilo de vida. Willis sempre se refere desdenhosamente aos “music boys”. Uma leitura ocasional como a minha é do “Rolling Stone” deixaria claro. Mas no Brasil é difícil… Sabemos tudo.

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Caetano é melhor compositor e cantor do que Jagger. Mas não fez nada comparável a “The Citadel”, cuja letra terrível foi adotada pelos soldados americanos no Vietnã, como hino de desespero. E por que não pode ? Quando me lembro que Caetano, esse doce de coco é conterrâneo de Antonio Conselheiro, tremo, tremeria, se ainda conseguisse. Mas ele prefere fazer o que chamei outro dia de “maltrapilho estilizado”. Simbolizar a miséria raquítica do baiano e interiorano brasileiro, para efeito de mero consumo visual, enquanto muito agradavelmente acaricia as fantasias de amor ilimitado que fazem o narcisismo da classe média confortável no Brasil, um conforto porque pagam cerca de 100 milhões de brasileiros no nosso “Alagados” nacional. Não é que eu queira que ele faça música “enganjada”. A poesia nada faz acontecer, notou Auden, e concordo, sempre concordei, me forçando muito na época do meu engajamento, é bem diferente do que adular os privilegiados.

Jagger, é claro, é um farsante. Aquele sotaque de Londres (e não “cockney”, que é outra coisa) é pose, pois Jagger é de classe média e estudou na London School of Economics, onde se falasse assim seria rudemente corrigido. É uma pose, uma imitação de trash dos Beatles, estes sim, autenticamente proletários. Mas está zombando quando diz que subiu por sorte. Ninguém sobe por sorte. Não dá para escrever neste jornal de família como se sobe no mundo do “rock”. Jagger tem pelo menos 150 milhões de dólares, segundo meus banqueiros, mas fala de “algum dinheirinho”. Essa grana aplicada  legalmente dá 1,5 milhão de dólares  por mês, depois dos impostos, ou no “negro”, 1 bilhão e 200 milhões de cruzeiros por mês

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Caetano não gostou. Em entrevistas, chamou Paulo Francis de “Bicha amarga”. No seu blog, pode-se encontrar uma resposta inteligente à crítica de Paulo Francis…

Incrível. Como é que o Paulo Francis escreveu que Mick Jagger tinha me respondido que era tolerante com latino-americanos — e ainda pôs um “sic”? Perguntei a Mick de sua tolerância com jovens. Ele fez uma cara safada e respondeu que era tolerante, “especialmente na Colômbia”. Bem, a cara safada foi dirigida ao dono da casa, Julio Santo Domingo, um colombiano que, amigo de Walter Salles, tinha emprestado o apartamento nova-iorquino para a entrevista. Walter era o diretor. Mas quem me convidou para ajudar na conversa com Jagger foi Roberto D’Ávila. Sinceramente, pensei que a cara maliciosa de Mick sugeria sexo: Julio era muito bonito. Mas Waltinho me disse que não (claro): sugeria droga. Colômbia nos anos 1980, você sabe. Mas Francis precisava dizer que Jagger nos humilhara e que eu não tinha sido valente o suficiente para revidar o golpe: ele queria que o leitor aderisse ao rancor contra mim, e para isso apelava ao fácil nacionalismo ressentido. D’Ávila, comigo, chiou do que Francis escrevera e disse que ia responder de público. Nunca vi tal resposta.

Eu não guardei o artigo. Reli agora. Na altura, li a bordo de um avião a caminho da Europa para uma turnê longa. Mostrei a Guilherme Araújo. Rimos, protestamos, e eu, como sempre, tentei sem sucesso dormir no voo. Cheguei a Lisboa exausto e no dia seguinte já estava num palco. No fim da excursão o assunto já era algo remoto. De volta ao Brasil, percebi que não era tão remoto assim. Demonstrei minha indignação caracterizando Francis como bicha travada. Ele respondeu. Primeiro: que eu devia ser infeliz, pois usava como xingamento minha própria condição. Comentei, numa entrevista, que Francis não entendia nada de bicha. Depois: “Fiz uma crítica cultural a Caetano e ele responde com ofensas: puro Brasil.” E eu: Francis é quem me ofendeu, e eu fiz, em resposta, uma crítica cultural à figura dele: “bicha travada” era análise de tipo encontradiço em sua geração. Ele preferiu não entender que o núcleo pejorativo era “travada”, não “bicha”.

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Li outros textos do livro antes desse. Queria sentir o artigo em meio ao que ele escrevia então. Escrevendo sobre mim ele me mostrou demais os defeitos de caráter que se podia notar em quase todo o resto. Por exemplo, ele descreve minha música como fusão ineditamente bem-sucedida de ritmos brasileiros com bebop e cool jazz. Numa frase, ele finge que conhece muito bem o que desconhece. E termina sendo injusto com Tom Jobim. Ninguém fez melhor do que Jobim o que ele descreve. Em outro trecho, ele corrige Deus e o mundo que dizem que Mick imita sotaque cockney: seria sotaque londrino, cockney “é outra coisa”. Que outra coisa? Cockney é o dialeto popular de Londres. Por muito tempo significou simplesmente “de Londres”. Dizer que rock não é música era lugar-comum. Francis faz de conta que eu não sabia. Eu não era (e não estava ali) como jornalista. A certa altura ele afirma que sou melhor compositor do que Jagger, mas pergunta por que eu não fiz “Citadel”, cantada por soldados no Vietnã. A resposta simples seria: porque o Brasil não invadiu o Vietnã.

A força de dominação da cultura anglófona é assunto que pervade tudo. Ninguém mais esmagado por essa força do que o próprio Francis. Ficava no Rio sonhando que conversava no Algonquin. Fez esforço para desprovincianizar o ambiente cultural brasileiro. Tema também meu. Desde sempre. Mas eu não tive oportunidade de bater cabeça para ele. Simplesmente não calhou, no ritmo de sucessão de gerações, de termos um encontro amigável. Glauber, que o arrasou na Bahia, cooptou-o aqui. O Algoquinho carioca grilou com o surgimento de minha geração: Millôr contra Chico, “Pasquim” contra “baihunos”. Zé Agrippino, em 1968, achava Francis um atraso de vida. Seus esforços de aggiornamento me atingiram em Santo Amaro, em 1959, na revista “Senhor”. Devo muito a Francis.

Passou parte da juventude em Nova York: natural que visse em mim o tabaréu. Ele percebia que entendo mal o inglês falado. Algo da crítica seria utilizável. Até por mim. Mas o que há de bebop ou cool em “Tropicália”, “É proibido proibir” ou “Nine out of ten”? E ele me descreve talvez com imagens já então velhas da paródia de grupo que foi Doces Bárbaros. Depois da entrevista, Marina Schiano fez um jantar para mim, com Mick, Bianca, Jerry Hall, Warhol. Este me perguntou se eu não o queria para fazer a capa do meu novo disco. Era “Uns”. Respondi que já tinha capa (de Oscar Ramos), em que apareço de cabelo curto e terno. Mick Jagger nunca teve cabelo curto. O fato de ele ser inglês encandeia Francis. Jovens paulistanos com veleidades de gênios da crítica o seguiriam como cães alemães.

No artigo sobre mim ele está dando adeus às agressões a Roberto Campos e acenando pela última vez para quem chora com frases como “adular os privilegiados”. Dois anos depois ele saudava Campos como um guerreiro. Um pouco mais e ele louvava Collor por ser “bonito e branco”.

Mas o retrato de Jango, as análises que juntam Schumpeter e Lenin, a ligeireza com que narra as conversas de Golbery com Ênio Silveira, toda essa competência periodística compensa o desconforto da prosa de seus romances, embora não dê para justificar as tiradas racistas. Sou vítima de uma delas. Ele escreveu que o Rio começou a decair quando Bethânia substituiu Nara no Opinião e, com ela, “veio essa gente”.

Tropicalistas são referência. Francis não emplacou nem uma frase no “NYT”.

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Terminando a saga sobre a histórica briga entre Paulo Francis e Caetano Veloso, segue aqui uma reportagem de Ruy Castro sobre o assunto. Durante a polêmica, Ruy Castro escreveu a reportagem que segue abaixo, com histórias divertidas.

QUEM FAZ MAIS A SUA CABEÇA: PAULO FRANCIS OU CAETANO VELOSO

Por RUY CASTRO
8 de outubro de 1983 – Ilustrada
Com colaboração de Âmbar de Barros

É a polêmica do século. Ou a deste fim de semana – por aí. A cidade está acompanhando, entre perplexa e apaixonada, a briga entre o jornalista Paulo Francis, correspondente da Folha em Nova York, e o cantor e compositor Caetano Veloso, pelas páginas deste caderno. Há algumas semanas, Paulo Francis criticou a entrevista que Caetano realizou com Mick Jagger no programa “Conexão Internacional”, da TV Manchete, classificando de reverente e submissa a postura de Caetano diante do complacente líder dos Stones.

Caetano não gostou e, numa entrevista coletiva nesta terça-feira, rompeu publicamente com Francis, a quem sempre admirou, chamando-o de “bicha amarga” e “boneca travada”. A resposta de Paulo Francis foi publicada na edição de quinta, em que ele devolve a Caetano os epítetos e lamenta que um argumento cultural seja respondido com insultos.

Tsk, tsk. Mas a briga existe e não se fala em outra coisa. Espera-se que ela sirva pelo menos como base de discussão sobre o conceito do intelectual no Brasil, a liberdade de expressão e a maior ou menor qualidade da nossa atual produção artística. Afinal, ambos têm mais do que cacife para isso.

São pessoas corajosas, inteligentes e talentosas. E estão entre os intelectuais e artistas que mais fizeram cabeças neste país nos últimos 20 anos. Quem faz mais a sua cabeça: Paulo Francis ou Caetano Veloso? Esta foi a pergunta que a Folha fez a várias pessoas influentes. Eis as respostas. (E, ah sim, antes que eu me esqueça: nenhum dos dois é bicha.)

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AUGUSTO DE CAMPOS, poeta e tradutor: “Não tem dúvida: sou 100% Caetano”.

JÚLIO MEDAGLIA, maestro e um dos inventores do tropicalismo: “Neste momento, Paulo Francis é mais criativo. Ultimamente, Caetano só tem feito boleros”.

DÉCIO PIGNATARI, poeta e professor de literatura: “Os dois fazem igualmente a minha cabeça. Paulo Francis é um homem claramente ideológico e às vezes incursiona no terreno artístico. Caetano é o contrário”.

MINO CARTA, jornalista e editor da revista Senhor: “Com respeito por ambos, nem um nem outro”.

GILBERTO BRAGA, autor de novela “Louco Amor”: “Pela emoção, Caetano. Pela razão, Paulo Francis. Mas, pelo que andam dizendo um do outro, eu poria os dois de castigo durante uma hora”.

CARLOS BRICKMAN, jornalista, editor de economia da Folha: “Entre os dois, graças a Deus fico com Millôr Fernandes”.

HENFIL, cartunista: “Paulo Francis. Pela sabedoria, pelo compromisso com as outras pessoas e pelo seu orgulho de ter sido preso por suas idéias, enquanto Caetano se envergonha disso. Caetano diz que não lê jornais, mas é capaz de citar o dia e a página de qualquer jornal que tenha falado dele, mesmo que seja a ‘Gazeta de Nanuque’. E eu gosto mais da música do Francis”.

BELISA RIBEIRO, apresentadora do programa “Canal Livre”: “Caetano. Porque, por ele, dá para a gente se apaixonar”.

ZÓZIMO BARROZO DO AMARAL, colunista: “Paulo Francis. Eu faço parte da macaquice do auditório dele”.

FÁBIO MAGALHÃES, secretário da Cultura municipal: “Nenhum dos dois”.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI, filósofo e professor: “Os dois não fazem nem o meu pé, quanto mais a minha cabeça”.

CARLITO MAIA, publicitário: “Quem faz a minha cabeça é o Goulart, que me corta o cabelo”.

FLÁVIO GIKOVATE, psicanalista: “Caetano Veloso. Sem comentários”.

JOÃO CÂNDIDO GALVÃO, jornalista, editor-assistente de Veja: “Paulo Francis, porque é mais paradoxal. Caetano anda muito óbvio”.

SÓCRATES, jogador do Corinthians e da Seleção: “Admiro os dois como profissionais destacados em suas respectivas áreas, mas nenhum deles faz a minha cabeça. Aprecio informações do Paulo Francis, gosto de muitas músicas do Caetano, mas nenhum deles influi na minha maneira de pensar ou agir”.

CASAGRANDE, centroavante do Corinthians: “Caetano Veloso. É um poeta. Gosto também do comportamento dele, que é agressivo com a sociedade. Aliás, como o meu”.

MARÍLIA GABRIELA, apresentadora do programa “TV Mulher”: “Quando eu quero poesia, prefiro Caetano. Quando quero bom jornalismo, prefiro Paulo Francis”.

JOÃO DÓRIA JR., presidente da Paulistur: “Nenhum dos dois. Mas eu prefiro a doçura musical do Caetano à acidez redacional do Paulo Francis”.

ANGELI, cartunista: “Eu misturo os dois. Pego o lado doce do Paulo Francis e o ferino do Caetano”.

GERALDO MAYRINK, jornalista, editor-assistente de IstoÉ: “Paulo Francis – porque, pelo menos, nunca pediu a minha cabeça, como fez o outro. Além disso, Francis se tornou um dos maiores entertainers do nosso show business”.

EDUARDO MASCARENHAS, psicanalista: “Caetano, claro, porque tem mais humor, talento e arte que o sr. Paulo Francis. Caetano já me faz a cabeça há 15 anos. Já o sr. Paulo Francis, no que respeita a subjetividade, é extremamente primário. Mas eu não sei como andam os interiores do sr. Paulo Francis”.

WASHINGTON OLIVETTO, publicitário: “Que país mais chato este, em que os inteligentes brigam e os burros andam de mãos dadas!”.

ANTONIO MASCHIO, ator e proprietário do Spazio Pirandello: “Paulo Francis, sem dúvida. É um homem do mundo. Caetano, quando muito, é um homem do Brasil. Se todas as bichas do Brasil fossem ‘travadas’ como o Paulo Francis, este país estaria muito melhor”.

CLODOVIL, costureiro: “Eu, hein? Nesse angu, eu não me meto!”.

APARÍCIO BASÍLIO DA SILVA, escultor e perfumista: “Paulo Francis. É um conselheiro literário formidável”.

PIETRO MARIA BARDI, diretor do Museu de Arte de São Paulo: “Na minha idéia, é Paulo Francis, hoje o maior, mais atual, mais vivo, mais inteligente e mais inventivo escritor brasileiro”.

TÃO GOMES PINTO, jornalista da Folha: “Caetano Veloso”.

CAIO TÚLIO COSTA, jornalista, secretário da Redação da Folha: “Entre a razão e a emoção, eu fico com Paulo Francis”.

MARTA SUPLICY, sexóloga: “Eu gosto dos dois, mas nenhum faz a minha cabeça”.

TAVARES DE MIRANDA, colunista social da Folha: “Quem faz a minha cabeça é Jesus Cristo”.

RUBENS GERCHMAN, artista plástico: “Paulo Francis. Ele está há anos no centro da ação –sempre no front”.

JOSÉ GUILHERME MERQUIOR, diplomata, ensaísta e acadêmico: “Não gosto da expressão ‘fazer a cabeça’. Acho-a alienada. Quem faz as minhas idéias, com muita dificuldade, sou eu mesmo. Não tenho nada a considerar sobre esses dois personagens”.

THOMAZ FARKAS, produtor cinematográfico e empresário: “Os dois me fazem a cabeça, cada qual do seu jeito”.

HELENA SILVEIRA, jornalista e colunista da Folha: “Quem me faz a cabeça é Anthonio Carlos, meu cabeleireiro. Admiro Paulo Francis como colega, gosto de Caetano com restrições. Guru é coisa que já era”.

JOSÉ ROBERTO AGUILAR, artista plástico: “Caetano é meu amigo, moramos três anos juntos em Londres. Mas o Francis também é genial e seus livros são monumentais. O problema do Francis é que ele é de uma geração que só ouve jazz e música clássica, e passou a largo da geração do rock. Assim, fica reduzindo tudo a uma coisa de ‘lumpenproletariat’. Mas o rock não é só isso. O rock já tem sua literatura e sua cultura”.

CARLOS VOGT, lingüista e professor da Unicamp: “Gosto da música do Caetano e acho divertida a destemperança com que escreve Paulo Francis”.

JOSÉ MIGUEL WISNIK, professor de literatura: “Cada um de nós faz a sua própria cabeça, mas as sete faces do Caetano ressoam mais em mim do que a cabeça de papel do Paulo Francis”.

JULIO BRESSANE, cineasta: “Minha cabeça é feita pelos dois. A região que Caetano ocupa, que é a da poesia e onde habito, é a maior. Mas o Paulo Francis, que é hoje o maior articulista do Brasil, também ocupa uma região imprescindível. Inclusive já começamos a trabalhar juntos numa adaptação para o cinema do seu romance ‘Cabeça de Papel'”.

ZIRALDO, teatrólogo e humorista: “Sou Caetano. Mas não assumo”.

MILLÔR FERNANDES, pensador e humorista: “Olhem, não me meto em briga de baianos”.

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“Pós-Tudo – 50 Anos de Cultura na Ilustrada”
Autor: Marcos Augusto Gonçalves (org.)
Editora: Publifolha

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