“Norte da saudade” é uma parceria de Gilberto Gil com Perinho Santana e Moacyr Albuquerque, que logo na primeira frase, se revela como uma “road song”. O pé na estrada, sem noite passada, sem ninguém…

Gravada no Disco Refavela (1977), a canção sai um pouco da temática geral do disco, que é uma (re)descoberta de uma arte negra de comunidades que contribuíram para formação de novas etnias e novas culturas no novo mundo.
Ainda assim, é possível perceber esta música como uma espécie de conexão entre o disco anterior – Refazenda, em que há um resgate de elementos culturais do sertão e do interior – com a música negra, tanto que Gilberto Gil classifica esta canção como sendo um Xote-Reggae.

Em entrevista a Ana Maria Baiana, denominada “A paz doméstica de Gilberto Gil”, e que consta do seu livro “Nada Será como Antes: MPB nos anos 70, Gil revela:
“pra ser mais claro: nós estávamos andando pelo Norte, com um trabalho que era com a presença do Dominguinhos, eu, Moacyr Albuquerque, Perinho Santana e outros. Ao mesmo tempo que nós escutávamos muito Django Reinhart, Bob Marley, a gente vivia todo aquele clima musical do Norte e do Nordeste, de ser Refazenda, de ser lá no habitat básico da Refazenda, de ser Campina Grande, Mossoró, Natal, João Pessoa, ser tudo aquilo e ao mesmo tempo estar discutindo sobre reggae, sobre a emergência de movimentos musicais na América, o punk, e a salsa e o reggae….”
“Então a música foi feita por Moacye e Perinho muito neste sentido, como é que era fazer um xote, uma música que fosse o som daquelas estradas que a gente estava rodando e ao mesmo tempo fosse a soma de todas estas experiências musicais vividas”

Fica evidente o clima musical que contagia músicos fazendo uma excursão.
Em primeiro lugar, dá para imaginar o ônibus com os músicos se deslocando de cidade a cidade no Nordeste;
Depois, a saudade de casa, do amor, do “meu bem”;
Por fim, como o próprio Gil relata, a integração de elementos musicais da vivência atual dos músicos (reggae) com a paisagem específica dos locais (xote).

Todo este clima fez nascer Norte da Saudade, que é uma das músicas do álbum mais presente nos dias atuais. A sonoridade, a temática, o clima, faz “Norte da Saudade” ser uma bela música, revisitada posteriormente pelo próprio Gil em 2010, no disco “Fé na Festa”, já com uma pegada de xote mais explícita.