No ano de 1984, a Blitz lançou uma música chamada “Egotrip”, praticamente ao mesmo tempo em que a banda Ultraje a Rigor lançava a música “Eu me amo”. Na época, a Blitz estava no auge, lançando seu terceiro disco, e o Ultraje a Rigor estava começando sua trajetória. Ambos tinham refrões quase iguais.
Em “Egotrip”, era: Eu me amo/eu me adoro/eu não consigo viver sem mim”
Em “Eu me amo”, era: “Eu me amo/Eu me amo/não posso mais viver sem mim”
Como o Ultraje lançou a música primeiro, Evandro Mesquita, vocalista da Blitz, foi acusado de plágio. Justificou então numa entrevista ao Jornal da Manhã, em 1984:
“Foi coincidência mesmo, essa nem Freud explica: Esse texto eu já utilizava há dois anos numa peça, ‘A incrível história de Nemias Demutcha’. Depois, resolvemos incluir na letra da música. Acredito que o pessoal do Ultraje, gente fina, tenha feito a música deles com praticamente o mesmo refrão na base do acaso. Mas como gravaram primeiro – e nós fomos avisados que o disco deles estava saindo – , resolvemos mudar o refrão. Ficou ainda melhor”

Na verdade, o refrão ficou: Eu te amo/eu me adoro/eu não consigo te ver sem mim
Perdeu um pouco o sentido. Na verdade, Roger disse, numa entrevista reproduzida no livro “As Aventuras da Blitz” (Rodrigo Rodrigues, Ediouro, 2009), que a polêmica foi boa para o Ultraje, pois a Blitz era um sucesso e o Ultraje estava sendo conhecido. Houve uma provocação daqui ou dali da imprensa, mas o fato não foi muito adiante.

Andrea Ascenção conta, no livro “Ultraje a Rigor” (Belas Letras), conta que na época da composição Roger (vocalista ) estava lendo um livro que poderria hoje ser chamado de autoajuda. Ele pensava em fazer algo na linha de “Inútil”, primeiro sucesso da banda.
” Eu me amo nasce quando Roger está lendo Solidão ou Medo do Amor (Ira Tanner), é um livro de psicologia, que aborda análise transacional. Era uma coisa que estava na moda na época, foi um pouco antes dos livros de autoajuda.
O livro foi um achado na casa de um amigo no Rio de Janeiro, durante as férias. Roger utiliza a tese do livro que defende que as músicas de amor são sempre autodepreciativas e compõe justamente aquilo que não existe de acordo com o autor.
− Tudo bem, eu tenho um pouco de narcisismo, mas o lance da música não é esse. (…) Há uma ligação da letra de Eu me amo com a de Inútil, porque o lance de Inútil é dizer que a gente não é inútil… O livro dizia que, na criança, é natural isso de se amar, de, por exemplo, não emprestar seus brinquedos. E essas músicas do tipo “não posso viver sem você”, “sem você a vida não vale nada”, são uma mentira. O bom mesmo é gostar de você mesmo. Partindo dessa ideia, tirei um sarro em cima desses clichês.