Os Doces Bárbaros – O filme

O ano: 1976. Para comemorar os dez anos comuns de carreira, Bethania chama Caetano, Gil e Gal para formarem um conjunto para se apresentar pelo Brasil. Fazem um repertório especial, com músicas como O seu amor, Esotérico, Pé quente cabeça fria, Um índio, além de Fé cega, faca amolada, de Milton, e Atiraste uma Pedra, de Herivelto Martins.

Tudo isso foi documentado por Tom Job Azulay. E com algumas situações divertidas, e outras nem tanto.

Esfinge Cultural: Resenha de Filme: Documentário "Doces Bárbaros" Mostra  Uma das Fases Mais Criativas de Monumentos da MPB.

Mostra a amizade entre os quatro, a descontração dos ensaios, tudo entremeado com as músicas do show.

Há muito destaque para a prisão de Gil por porte de drogas, ocorrida em Florianópolis, mostrando como houve um “consentimento” para que se entrasse nos quartos do hotel. Gil estava com um cigarro de maconha e mais um pouco para fazer mais um cigarro.

Há filmagem da própria audiência em que ele foi condenado, mostrando o quão, amiúde, a justiça criminal pode ser ridícula. Não dá para deixar de notar o sorriso de Gil enquanto o juiz profere a sentença. No que ele estava pensando? 

Entremeada com as canções, é divertido ver como Caetano e Bethania ridicularizam elegantemente os repórteres que os entrevistam. 

Num determinado momento, um repórter pergunta porque a Banda é “tão doce”. Segue o diálogo: 

Por que um grupo tão doce, tão açucarado, no atual momento da conjuntura nacional?
(Repórter 1).

Não entendi a sua pergunta (Caetano).
Por que o tão doces? (Repórter 1).
Não é tão doces. É Doces Bárbaros. O tão é seu, você é que está falando em nome da conjuntura, então você ponha o tão… (Caetano).
Vai dar um LP dos quatro? (Repórter 2).
Vai, a gente já fez um compacto duplo (Caetano).
Eles já vêm com um esquema comercial montado, não se preocupe (Repórter 1).
Claro! (Caetano).
Não seria mais um produto para consumo imediato? (Diversos repórteres).
Mas é claro que é mais um produto (Caetano).
E vocês estão bem convictos disso. O Gil, agora há pouco, disse que era pra tocar no rádio, pra vender mesmo (Repórter 1).
Não, claro, como todo mundo. Não conheço ninguém que faça o oposto (Caetano).
Não, porque você me perguntou, disse assim: tem umas músicas que você faz de vez em quando pra tocar no rádio, e eu disse: não, eu faço todas pra tocar no rádio. Eu não sou louco. E disse mais: aquela que se chamava “Essa é pra tocar no rádio” nunca tocou no rádio (Gil).

Bethânia também tem a oportunidade de desconstruir tudo o que o repórter pergunta, desde a suposta influência de Caetano na sua carreira, (Bethania deixa claro que ela lançou Caetano) passando pela religiosidade e adesão a movimentos.

Divertida a visita de Baby Consuelo e Paulinho Bocade Cantor aos Doces Bárbaros. 

Valem muitas sensações que o filme passa. O visual do grupo, a voz, ou melhor, as vozes, a beleza de Gal, o cenário que hoje parece tosco, o colorido, o universal e o regional, um certo ar de prazer e de improviso, e, sobretudo, o prazer daqueles quatro excepcionais artistas cantando juntos.

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Era a invasão dos Doces Bárbaros, que vieram da Bahia para, dez anos depois, consolidar o que tinha trazido o Tropicalismo. Vale a pena.   

segunda 16 julho 2012 21:44 , em MPB

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