Ô coisinha tão bonitinha do pai….

Almir de Souza Serra quase ninguém conhece. Ele tinha um apelido, Almir Magnata. Depois, de magnata virou Almir Guineto. Ele integrou um grupo musical que fez sucesso nos anos 60, chamado Originais do Samba (Mussum talvez seja o membro mais conhecido do grupo). Atribui-se a Guineto, , inclusive, a introdução do Banjo em grupos de samba (objeto de controvérsia, que não cabe tratar aqui, por enquanto). O certo é que Almir teria uma forma particular de tocar banjo, cujo volume, ao contrário do cavaquinho, era capaz de soar mais alto junto aos instrumentos percussivos.

Compacto 7" - Os Originais Do Samba ‎– Os Originais Do Samba

Almir, carioca do morro do Salgueiro, teve que se mudar para São Paulo junto com o grupo Originais do Samba. E morava numa casa com vários homens. Ali surgiu “Coisinha do pai”, que é contada por Ruy Godinho, no volume 1 de seu livro “Então, foi assim?”

“Eu comecei a fazer na Rua Aurora, 544 apto 105, eu e o Luiz Carlo Chuchu. Nós morávamos juntos no apartamento do meu irmão Chiquinho, que era um dos integrantes dos Originais do Samba, no tempo do Mussum. E ali só morava homem: Eu, Chiquinho, Luiz Carlos Chuchu e Lelê, que também fazia parte do grupo. Cada dia era um que fazia a comida ou a limpeza. E nesse dia era meu dia de limpar. Eles até brincavam: ‘hoje a Raquel é você!’ cada um tinha o seu dia de sofrimento. E, de madrugada, eu, embriagado como sempre, pintou essa música: “Ô coisinha tão bonitinha do pai/ô coisinha tão bonitinha do pai…”

Homenagem Almir Guineto - Marcinho Moreira [ SÓ NO BANJO ]
Almir Guineto

Eu fiz a primeira parte. Aí o Luiz Carlos, que é um compositor muito bom, botou a segunda parte: “Você vale ouro todo o meu tesouro/Tão formosa da cabeça aos pés”

O Beto Sem Braço era o parceiro que iria fazer a terceira parte, já estava até na cabeça dele. Mas o Jorge Aragão ouviu a gente cantar e e pediu para botar a terceira parte, em homenagem à filha dele que tinha nascido: Vou lhe amando lhe adorando/Digo mais uma vez/Agradeço a Deus por que lhe fez

Assim, despretensiosamente, o samba caiu no colo de Beth Carvalho, que a gravou em 1979, no disco “Pagode”. Foi um sucesso absoluto. A letra, que inicialmente sugere uma relação de admiração pela mulher, no aspecto sensual, termina por desembocar numa relação de amor pai-filha, indicada nos versos finais de Jorge Aragão.

 

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