As 33 Parcerias de Paulo Coelho e Raul Seixas – E as duas que Paulo gostaria de ter feito

Entre 1973 e 1978, Raul Seixas e Paulo Coelho compuseram juntos 33 canções, que foram gravadas nos discos de Raul. Com exceção do disco “O Dia em que a Terra Parou”, em 1977, Paulo Coelho foi parceiro de Raul em 5 álbuns, com uma relação muito intensa, mas também com muita competitividade.

Paulo Coelho se manifesta sobre Seixas denunciá-lo à militares na ditadura  - Jornal de Brasília

Mas esta postagem não é para falar das músicas que eles compuseram juntos (cuja lista segue abaixo). Vou falar das músicas compostas por Raul que Paulo Coelho gostaria de ter composto.

No documentário “Raul, o Início, o Fim e o Meio” (2012), Paulo Coelho conta quais seriam as músicas que ele gostaria de ter composto:

A personalidade do Raul é de uma pessoa muito ligada ao destino dos amigos,  muito leal", diz Jotabê Medeiros | GZH

Tem duas músicas que eu gostaria de ter feito, e não fiz: uma é metamorfose ambulante… porra, eu podia ter feito, eu tava ali, ao lado, ele falou e eu disse :”coisa horrorosa, metamorfose ambulante, isso não tá com nada, é uma dessa coisa, não tá com nada. E a outra é a obra prima que é Maluco Beleza (parceria com Cláudio Roberto) . Deixa eu te responder a pergunta que não quer calar . O mais importante parceiro do Raul se chama Raul seixas. era ele com ele, essa dualidade, controlando sua maluquês… (a partir do minuto 7:42 do vídeo abaixo)

1973 – Krig Ha Bandolo 1973

  1. As Minas do Rei Salomão” Raul Seixas / Paulo Coelho
  2. “Al Capone” Raul Seixas / Paulo Coelho
  3. “Rockixe” Raul Seixas / Paulo Coelho
  4. “Cachorro Urubu” Raul Seixas / Paulo Coelho
Krig-ha, Bandolo! – Wikipédia, a enciclopédia livre

1974 – Gita

  1. “Super-Heróis” Raul Seixas / Paulo Coelho 3:11
  2. “Medo da Chuva” Raul Seixas / Paulo Coelho 3:00
  3. “Água Viva” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:02
  4. “Moleque Maravilhoso” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:16
  5. “Sociedade Alternativa” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:55
  6. “Loteria da Babilônia” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:30
  7. “Gîtâ” Raul Seixas / Paulo Coelho 4:50
Gita" (Philips, 1974), Raul Seixas

1975 – Novo Aeon

  1. “Tente Outra Vez” Raul Seixas / Paulo Coelho / Marcelo Motta 2:20
  2. “Rock do Diabo” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:10
  3. “A Maçã” Raul Seixas / Paulo Coelho / Marcelo Motta 3:25
  4. “Caminhos” Raul Seixas / Paulo Coelho 1:45
  5. “Tu És o MDC da Minha Vida” Raul Seixas / Paulo Coelho 3:30
  6. “A Verdade Sobre a Nostalgia” Raul Seixas / Paulo Coelho 2:05
  7. “Caminhos II” Raul Seixas / Paulo Coelho / Eládio Gilbraz 0:45
Discos para descobrir em casa – 'Novo aeon', Raul Seixas, 1975 | Blog do  Mauro Ferreira | G1

1976 – Há 10 mil anos atrás 1976

  1. Canto Para Minha Morte (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  2. Meu Amigo Pedro (Raul Seixas/Paulo Coelho
  3. Ave Maria da Rua (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  4. Quando Você Crescer (Raul Seixas/Paulo Coelho/Gay Vaquer
  5. Eu Também Vou Reclamar (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  6. As Minas do Rei Salomão (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  7. O Homem (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  8. Os Números (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  9. Cantiga de Ninar (Raul Seixas/Paulo Coelho)
  10. Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (Raul Seixas/Paulo Coelho)
Há 10 Mil Anos Atrás - Wikipedia

1978 – Mata Virgem

  1. “Judas” – Raul/Paulo Coelho
  2. “As Profecias” – Raul/Paulo Coelho
  3. “Tá Na Hora” – Raul/Paulo Coelho
  4. “Conserve Seu Medo” – Raul/Paulo Coelho
  5. “Magia De Amor” – Raul/Paulo Coelho
CD Raul Seixas - Mata Virgem - galleryrock

“Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”…. Jorge Maravilha, canção de Julinho de Adelaide (mas que é de Chico)

Julinho de Adelaide foi um personagem fictício que Chico Buarque criou na década de 70 para driblar a censura. Julinho da Adelaide nasceu quando Chico Buarque passou a ser muito conhecido entre os censores do regime militar, na década de 70. Seu nome estava marcado, e suas músicas eram proibidas somente porque Chico era o compositor.

Chico, então, criou um alter-ego, um heterônomo, um sujeito chamado Julinho da Adelaide, supostamente oriundo da fevela da Rocinha. Assim, Chico (ou melhor, Julinho) compôs três canções, em 1973/4, gravadas por Chico: Acorda, Amor (em que o eu-lírico diz para a mulher chamar o ladrão, pois a polícia está chegando), Jorge Maravilha e Milagre brasileiro (em que critica o chamado “milagre econômico”).

A vida curta e gloriosa de Julinho da Adelaide | Pega na Geral

Vou contar aqui um pouco da canção “Jorge Maravilha”, que tem um refrão bem conhecido “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, que, segundo as lendas, seria um recado para a filha do então presidente do Brasil, Ernesto Geisel. 

No livro “História das canções”, Wagner Homem esclarece o fato: 

Para conseguir a liberação. Chico criou novo subterfúgio, que consistia em inserir a parte que lhe interessava misturada a outros tantos textos que não tinham pé nem cabeça. A canção foi enviada à Polícia Federal, sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide, entre as estrofes abaixo:

A primeira parte não interessava:

Você não entendeu/Que o amor dessa menina/É a chama que ilumina/A minha solidão/O meu amor por ela/É uma cidadela/Construída com paz e compreensão

Aqui vinha a letra da que interessava:

E nada como um tempo após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando, até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando

Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta

Ela gosta do tango, do dengo
Do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisca, belisca, petisca
Me arrisca e me enrosca

Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta

Depois, mais uma parte descartada:

E o meu amor por ela/É uma cidadela/Construída com paz e compreensão/Somente paz e compreensão/Para sempre paz e compreensão/E eu vou velar por ela/Como uma sentinela/Guardando paz e compreensão/Somente paz e compreensão/Paz sempre paz e compreensão

“Como não havia obrigação de gravar todo texto aprovado, as estrofes inicial e final foram simplesmente excluídas, restando o que de fato interessava.

Os intérpretes de entrelinhas logo vislumbraram na letra uma referência ao general Geisel, cuja filha, Amália Lucy, manifestara admiração pelas obras do autor.

O nascimento de Julinho da Adelaide – MÚSICA BRASILEIRA VIVA: A MPB na  linha de frente

Em entrevista a Tarso de Castro na Folha de S. Paulo, Chico revela a origem da imagem utilizada: “Aconteceu de eu ser detido por agentes de segurança, e no elevador o cara me pedir um autógrafo para a filha dele. Claro que não era o delegado, mas aquele contínuo de delegado”. Foram vãs as tentativas de esclarecimento, porque até hoje muita gente crê na interpretação fantasiosa.

Respondendo à mesma questão em 2007 para a revista Almanaque, ele diz:

Nunca fiz música pensando na filha de Geisel, mas essas histórias colam, há invencionices que nem adianta mais negar. Durante a ditadura, de um lado ou de outro, as pessoas gostavam de atribuir aos artistas intenções que nunca lhes passaram pela cabeça. Achavam que a maioria dos artistas só fazia música pensando em derrubar o governo. Depois da ditadura, falam que o artista só faz música para pegar mulher. Mas aí geralmente acontece o contrário, o artista inventa uma mulher para pegar a música.

Nesse ponto, a letra contém vários subterfúgios para burlar a censura:

a) o pretexto de um diálogo entre o eu-lírico e o pai da filha com quem o sujeito mantém uma relação bem física (aliás, segundo a letra, mais vale uma filha na mão do que dois pais voando);

b) A letra com cacos não utilizados no começo e no final;

c) A composição com o pseudônimo Julinho da Adelaide;

A música passou pela censura e foi gravada. Em 1975, uma  matéria sobre censura publicada no Jornal do Brasil revelaria que Julinho da Adelaide e Chico Buarque eram a mesma pessoa. Por causa dessa revelação, o serviço de censura do Governo Militar passou a exigir cópias do RG e do CPF dos compositores.

segunda 26 janeiro 2015 20:02 , em As lendas