“Não se afobe não, que nada é pra já…”

Somente Chico Buarque conseguiria transformar a palavra “escafandristas” numa poesia. A ideia de se encontrar vestígios daquele amor não vivido nas ruínas submersas da cidade, em que o passado das águas vai resgatar um amor que não morreu, mas que também não foi plenamente vivido.

Esse é o mote da canção “Futuros Amantes”, de Chico Buarque, gravada no disco “Paratodos”, em 1993. Na história de um amor que não é vivido no presente, mas que pode esperar, haja vista sua eternidade. Um amor recôndito, em silêncio…

Na verdade, ele deseja ser vivido, quer ser vivido, mas termina por esperar, em silêncio, escondido,e que deixará um legado nas ruínas da cidade submersa, que ensejarão discussões sobre o significado deste amor, e que inspitrarão futuros amantes, assim como hoje ainda o fazem  Romeu e Julieta, Abelardo e Heloísa, Tristão e Isolda, Lancelote e Guinevere.

O amor que não é vivido preserva o consolo de eternizar-se em amantes do futuro, o amor que ficou guardado.

Chico, falando no DVD Romance, explicou a inspiração da canção… (Publicado no Livro Chico Buarque- História de Canções – Wagner Homem. Leya, p. 271) 

Eu estava mexendo no violão,  comecei a fazer a melodia,  e a primeira coisa que apareceu foi exatamente cidade submersa,  isolada de tudo…  Porque cantarolando parecia cidade submersa, parecia que a música queria dizer isso. E eu tinha que ir atrás depois,  tinha que explicar essa cidade submersa,  tinha que criar uma história.  

Aí eu coloquei esses escafandristas e esse amor adiado,  esse amor que fica pra sempre, né? 

Essa ideia do amor que existe como algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não desperdiça. Passa-se o tempo, passam-se milênios, e aquele amor vai ficar até debaixo d’água e vai ser usado por outras pessoas.

Amor que não foi utilizado. Porque não foi correspondido, ele ficou ímpar, pairando ali, esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor.” 

Trata-se, portanto, de um amor incompleto, não realizado – ou, pelo menos, não realizado na sua integralidade – mas que permanece latente. Trata-se quase de um consolo, uma resignação com o fato de que este amor, de alguma forma, ficará preservado e será, de alguma forma, concretizado.

quinta 15 agosto 2013 10:26 , em canções de amor