Palavras no corpo. Ou ninguém diz “Eu te amo” como Gal

Ninguém diz “eu te amo” como Gal Costa. Desta ideia surgiu uma canção. Uma parceria improvável entre o cantor Silva e o poeta Omar Salomão (Filho de Waly Salomão – que dirigiu o show icônico de Gal: “Fa-tal: Gal a todo vapor). Quem fez a ponte entre os dois foi Marcus Preto, cuja história com Gal já mereceria uma postagem à parte.

Marcus Preto conheceu Gal quando pretendia entrevistá-la para um documentário. Depois de muitas idas e vindas, marcações e desmarcações, da entrevista Marcus acabou virando produtor dos discos de Gal, numa parceria que durou nove anos, até os últimos dias da cantora.

Gal Costa e Marcus Preto

Consta, então, que Omar Salomão (que fez o cenário de alguns shows de Gal), numa mesa de bar, teria dito a Marcus Preto que toda a vez que escutava a voz da cantora na música “Sua Estupidez”, de Roberto e Erasmo Carlos, tinha mais certeza de quem ninguém diz “eu te amo” como ela. 

Preto então teria dito: “Então faça uma letra sobre isso!”

Este foi o mote para “Palavras no Corpo”.  A letra foi escrita por Omar especialmente para a voz da cantora.

Interessante que Gal gravou pela primeira vez a canção Sua Estupidez, num compacto simples, e,m 1971, e no mesmo ano, ingerou o já referido álbum Fa-tal , dirigido por Waly Salomão, pai de Omar. Ela posteriormente gravaria também no álbum Acústico, em 1997.

Omar Salomâo

Assim que a letra ficou pronta, o Marcus Preto enviou a letra que Silva fizesse a música. Silva, que já havia acompanhado Gal Costa como tecladista e violinista em turnê cantando Lupicínio Rodrigues, se inspirou em Amy Winehouse, uma das paixões de Gal.

Numa entrevista, Silva Falou:

O novo single “Palavras no Corpo”, da Gal Costa, teve composição sua com o poeta Omar Salomão. Conta para a gente a história dessa música?

Quando Gal me faz o convite e Omar me mandou a letra, eu vi a responsabilidade que era colocar música num texto tão intenso e bonito. “Ninguém diz eu te amo como eu” foi uma frase que eu quis muito ouvir Gal cantar com aquele timbre que ninguém tem igual. Eu já sabia ela amava Amy Winehouse e muitas coisas ligadas à música soul. Sentei para tocar piano e deixei a melodia fluir em cima do texto, como se fosse alguém recitando. O resultado é esse que está registrado na voz de Gal. Pra mim foi uma honra que nem dá para descrever.

Gal Costa e Silva

O arranjo foi desenvolvido sob a direção musical de Pupillo, e membro da Nação Zumbi.

A letra da canção retrata o fim de uma relação, as lembranças de uma felicidade pretérita, e não presente, e guarda consigo as lembranças desta relação que foi feliz.

E as lembranças são sinestésicas: o cheiro na cama, o gosto no queixo…

E, enfim, a música remete ao tato, ao sangue, à dor, aos cacos de vidro, e, enfim, à constatação de que as palavras que vale não estão no vento, mas na pele.

Fomos felizes e felizes fomos
E se já não somos, meu amor
Não se preocupe, não
Aperte a minha mão
Até a luz sumir
Em meio à escuridão
Você vai confiar em mim

Guarde um pedaço de mim
Um cheiro no lado da cama
Seu gosto na ponta do queixo
Meu sangue escorrendo seu peito

Vejo no tato sua pele
Tatuo com dedo o seu gosto
Não sigo mapas, desejo
Segredo e contato

Quero o brilho cortante
Desses cacos de vidro
Palavras no corpo
Respostas ao vento

Você diz pra não falar de amor
E me pede pra fechar os olhos
Esquecer, amor
Poucos versos são precisos

Ninguém diz eu te amo
Ninguém diz eu te amo
Ninguém diz eu te amo
Como eu

Fontes:

https://www.musicjournal.com.br/gal-costa-palavras-no-corpo/#:~:text=Palavras%20no%20Corpo%20%C3%A9%20uma,Waly%20Salom%C3%A3o%2C%20pai%20de%20Omar.

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