A canção “Por Onde Andei”, gravada pela primeira vez por Nando Reis ao vivo, em 2004, no álbum MTV ao vivo, é repleta de histórias curiosas e pessoais, como costumam ser as cançoes de Nando Reis.
Na verdade, o histórico de canções de Nando é marcadamente confessional, em que o eu-lírico, em primeira pessoa, reflete aquilo que o cantor sente e vive. E com “Por Onde andei” não é diferente.
A letra tem dois eixos temáticos: um pedido de desculpas, não apenas pelo atraso, mas pelos erros na condução de uma relação que parece chegar ao fim. O eu-lírico reconhece os erros, e em certa medida se reconhece perdido, e, ao mesmo tempo, saudoso… No segundo eixo, o refrão, a partir de uma experiência em que ele foi assaltado, e o eu-lírico se dá conta do quanto efêmera é a vida.
Nando Reis, no seu canal no Youtube, contou algumas coisas interessantes sobre a canção:

“Essa música tem uma história engraçada. Ela foi escrita inspirada em um fato real. Eu estava indo visitar minha prima Vange Leonel, que mora em um prédio em São Paulo. Estacionei na rua e fui abordado por dois bandidos armados, que queriam assaltar o carro. Foi uma situação tensa e violenta. Eles entraram, me botaram para fora do carro. Eles não conseguiam sair com o carro, porque era automático. Houve um momento de tensão. Eles ligaram e quando iam partir o outro assaltante abaixou o vidro, apontou a arma pra mim e fez ´bum, bum` com a boca. Ele deu uma risada e foi embora. Naquele instante que eu vi a arma apontada para mim eu pensei que iria morrer.
Esta situação, quando “roubaram seu carro”, deixou a lembrança do quanto a vida é frágil. Daí surgiu a inspiração da segunda estrofe.
No entanto, o episódio do roubo foi o pano de fundo para a situação pessoal em que Nando Reis vivia. Na época, ele estava se separando de Vania, sua esposa (com quem voltaria a se casar dez anos depois).
“Quando vi a arma apontada para mim, achei que fosse morrer. Lembro que fiquei assustado e depois aliviado. Cheguei no apartamento e a Vange perguntou o que tinha acontecido. Esse fato está descrito na música. Não é exatamente a chave da canção, porque ela conta uma situação que eu vivia no momento em relação a minha separação. Eu estava recém-separado e procurando um lugar para morar. Essa transição está descrita na música”.

“Eu estava recém-separado e procurando um lugar para morar e foi justamente esta transição que está descrita na música – as roupas penduradas…
Interessante que, em diversas entrevistas mais recentes, ele chegou a dizer que todas as composições do seu repertório foram feitas para Vânia: “Todas foram feitas pra ela. Porque mesmo que tenha sido inspirado em outra situação, a matriz do amor eu aprendi com ela. Como eu só canto basicamente sobre amor, tudo tem origem da minha relação com ela e meus filhos. Isso não quer dizer que para as pessoas ouvirem a música elas têm que saber quem são os meus filhos e minha mulher”
Mas um fato curioso diz respeito ao verso final com os vocalizes, inspirados na cantora Lauryn Hill.
“Aquela parte no final com o vocalize me inspirei em uma música da Lauryn Hill. É uma música chamada ´Tell Him`, que é linda e tem um dedilhado de violão que sempre me emociona. Nem sei se é o mesmo acorde, mas mentalmente é como se eu procurasse reproduzir aquele impacto emocional e de alguma maneira foi o que eu achei”
E uma curiosidade final: Como a música foi gravada somente ao vivo, e não no estúdio, a letra terminou trocada. Em vez de “a morte é a falta da esperança”, ele cantou na gravação “A falta é a morte da esperança“.
“Uma curiosidade é que essa música não tem versão em estúdio, só ao vivo. E na ocasião da gravação, cantei um verso errado, e isso acabou definindo a música! Eu cantei errado: ´A falta é a morte da esperança. O verso real era: A morte é a falta da esperança, porque a morte encerra a vida. Eu cantei errado e ele se oficializou! Até hoje, virou o certo. É intrigante e enigmático. Quase não faz sentido. Bom, você pode pensar que a falta da pessoa é a morte da esperança. De alguma maneira, permanece o sentido, mas é mais truncado do que o original! Estava nervoso e nem reparei que tinha errado”.