Cartola e Noel Rosa são dois dos maiores expoentes do samba de todos os tempos.
Cartola, nascido em 1908 e falecido em 1980, foi um dos fundadores da Mangueira, e algumas de suas composições se eternizaram no imaginário poular, como “As rosas não falam”, “O mundo é um moinho”, “O sol nascerá”, “Tive sim” entre tantas outras.
Noel, por sua vez, nasceu em 1910 e faleceu bem jovem, em 1937, e exaltava a Vila Isabel. Tem também canções históricas, tais como “Com que roupa”, “Palpite infeliz”, “Conversa de botequim”, “Último desejo”, apenas algumas das mais de 200 músicas que compôs ao logo da vida.
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O que poucos sabem é que Cartola e Noel eram amigos. Segundo João Máximo e Carlos Didier, na biografia que escreveram sobre Noel, este e Cartola se conheceram no Café e Bilhares Maracanã, onde havia encontros fortuitos entre ambos. Um certo dia, Noel foi visitar Cartola, mostrou a ele seus sambas, ouviu o que Cartola tinha a mostrar. Tornaram-se amigos.
Ainda segundo a referida biografia, em 1935, quando o Jornal “A Nação” promove um concurso sobre o maior compositor de escolas de samba, Noel Rosa, convidado a dar seu voto, faz uma defesa veemente: “Cartola merece uma campanha em torno de seu nome. Dos compositores espontâneos, ninguém merece mais do que ele”
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A amizade era tanta que Noel passou a frequentar a casa de Cartola. Por diversas vezes, Deolinda (a companheira de Cartola na época) cuidava de Noel nas suas bebedeiras, com água quente e sopa de tutano.
Mas a pergunta que se faz: dois compositores deste quilate nunca tiveram uma parceria?
Segundo Lira Neto, no seu livro sobre a história do samba, há duas parcerias atribuídas pelos pesquisadores a Noel e Cartola. Ambas foram gravadas por Francisco Alves em 1932.
Uma dela é “Rir”, que foi originalmente creditada a José de Oliveira, pessoa absolutamente desconhecida no meio musical. No entanto, um jornal da época já afirmara que a composição seria de Cartola, Noel e Francisco Alves. Ocorre que Chico Alves era conhecido por comprar sambas de compositores e assumi-los como autor ou coautor, tanto que, ná época, chegava a ser chamado de “comprositor”
A outra canção é “Não faz, amor”, foi registrada como uma coautoria entre Cartola e Francisco Alves. No entanto, é de conhecimento público que a segunda parte da canção foi escrita por Noel Rosa. Consta que o nome teria sido omitido por uma dívida que Noel tinha com Francisco Alves e que era paga em sambas.
Para além das duas acima citadas, consta também como da parceria de Noel e Cartola o samba “Tenho um novo amor”, gravada por carmen Miranda em 1932
Por fim, há referência, também, ao samba “Qual foi o mal que eu te fiz?”. Consta que Noel Rosa e Cartola foram pedir um dinheiro a Francisco Alves, num bar do Largo do Maracanã. Francisco Alves, então, teria pago para que os dois fizessem um samba ali, naquele momento. Desse encontro, nasceu em poucos minutos “Qual foi o mal que eu te fiz?”, que foi gravada em 1933.
Deve-se reparar que, na época Noel já era conhecido, e Cartola, embora fosse conhecido no meio musical, era desconhecido do grande público. Inclsuive, é de Cartola um dos primeiros sambas em homenagem a Noel, após sua morte, chamado “A Vila emudeceu”
Fontes:
DIDIER, Carlos, e MÁXIMO, João. Noel Rosa: uma Biografia. Brasília. Linha Gráfica, Unb, 1990
Lira Neto, Uma História do Samba: as Origens. São Paulo, Companhia das Letras, 2017
Pinto, Mayra. Noel Rosa, o Humor na canção. São paulo, Ateliê Editorial, 2012.
https://radiobatuta.ims.com.br/programas/ouve-essa/qual-foi-o-mal-que-eu-te-fiz