Diana

Em 1957, uma música de acordes simples e que relatava um amor adolescente não correspondido se eternizou na música americana e ganhou inúmeras regravações e versões pelo mundo todo: me refiro à canção Diana, de Paul Anka, que se tornou imediatamente um sucesso mundial. Quem nunca ouviu a célebre frase: “Oh, please stay by me, Diana

Resta saber quem era a musa por detrás desta canção, e como ela repercutiu na época. Em muitos sites, relata-se que Diana seria a babá de Paul Anka, e que ela seria 5 anos mais velha que ele. Nenhuma das versões é verdadeira.

Paul Anka, canadense de ascendência libanesa, escreveu esta canção em Otawwa quando tinha 16 anos, dedicado à Diana Ayoub, que uma amiga que tinha 18 anos na época (dái a primeira frase – “I’m so young and you’re so old”)

No livro musica e musas, deMichael Heatley e Frank Hopiksom (ed. Gutemberg, 2011), relata-se a paixão nãop realizada do adolescente Paul Anka por Diana Ayoub:

 Diana simplesmente não estava interessada. Como ela relembrou anos mais tarde: “Minha amiga disse que ele estava apaixonado por mim, e eu repondi: ´Não seja ridícula, ele é nosso amigo”, Mas Paul estava de fato apaixonado e, quando criou coragem para mostrar a Diana sua nova canção, só conseguiu tocá-la no piano, encabulado de mais para cantar as palavras que declaravam seu amor. Ele então passou a cantá-la em festas, na esperança de que a letra chegasse até Diana.

 Ele visitava a casa dos Ayoub, sob qualquer pretexto, de manhã, de tarde e de noite. Mas, se o pai de Diana já estava se cansando da intrusão persistente, isso não era nada em comparação à perturbação que a família teve que enfrentar no ano seguinte, quando a canção se tornou sucesso internacional.

 Em sua autobiografia de 2013, o cantor se referiu a Ayoub como sua “paixão adolescente”,

Eu tinha esse talento para cantigas adolescentes estúpidas em um momento em que os adolescentes queriam ouvir cantigas adolescentes simples. Eu era um garoto solitário e sabia que havia muitos de nós por aí. Eu veria outros garotos solitários aos pulos quando eu tocasse. Colocar a sua cabeça no meu ombro – esse era o seu objetivo naquele fim de semana… além de talvez ganhar um beijo e colocar a mão na blusa dela. Tudo isso eu entendi muito literalmente pelo simples fato de ser adolescente. Eu mesmo estava passando por todas essas emoções. Não questionei, não tentei ser inteligente. O que eu estava escrevendo e interpretando era apenas um lamento descarado de adolescente. Todas essas coisas iniciais eram intensamente pessoais, baseadas no que eu sabia, que era bastante básico.

Assim que “Diana” se tornou um sucesso, começaram a circular histórias sobre como ela foi escrita. Publicaram interminavelmente que minha paixão adolescente, Diana Ayoub, era minha babá. Eu simplesmente cansei de apagar aquele fogo, então deixei-o viver. Foi uma pequena história fofa. Isso foi nos anos cinquenta. Se você fosse um garoto de dezesseis anos, só namoraria uma garota mais nova que você. A situação oposta era apenas um tabu naquela época. E Diana não era apenas mais velha que eu, ela era muito mais sofisticada.

“DIANA” foi editada em 1957 por Joe Sherman, outro compositor americano. A música foi lançada naquele mesmo ano, em um compact disk da gravadora Gold rotulado “The Lovely Boy”, tendo lado B a música “DON’T GAMBLE WITH ME”. A repercussão não poderia ter sido melhor: a canção estourou nos Estados Unidos, Reino Unido e, por conseguinte, no resto do mundo. Foi o compacto mais vendido do ano e “DIANA” foi parar no topo das paradas de sucesso.

Paul Anka se tornaria um dos cantores mais populares da América e do mundo inteiro, cujo sucesso maior foi justamente uma canção inspirada naquela moça, sendo o título desse hit exatamente o nome da musa.

Diana Ayoub não imaginava que Paul Anka era apaixonado por ela: “Eu absolutamente não tinha a menor ideia”, disse ela à CBC em 1997. “Eu o encorajei muito e pensei que éramos apenas amigos”. Diana, apesar de ter se divertido inicialmente com o sucesso da canção, depois não ficou muito feliz com a repercussão da música: “Eu não esperava que fosse tão grande; estava em todo o mundo, você sabe, eu não poderia ir a lugar nenhum. Fui seguido por espiões, foi muito selvagem.”

Outras frases ditas por Diana:

“Havia repórteres esperando por mim na minha formatura do colegial”.

“Os rapazes não me convidavam para sair porque no dia seguinte o retrato deles sairia no jornal.

Por alguns meses, a vida de Diana Ayoub se tornou difícil: ela era espionada e perseguida pela imprensa, constantemente importunada por repórteres em busca de detalhes pessoais seus ou de Paul.

Diana permaneceu em Ottawa, casou-se, formou família e foi trabalhar, tornando-se gerente de um armazém de atacado de roupas chamado Divine Liquidation. Faleceu em 2022, aos 83 anos.

A letra da canção:

​I’m so young and you’re so old
This, my darling, I’ve been told
I don’t care just what they say
‘Cause forever I will pray
You and I will be as free
As the birds up in the trees
Oh, please stay by me, Diana

Thrills I get when you hold me close
Oh, my darling, you’re the most
I love you but do you love me
Oh, Diana, can’t you see
I love you with all my heart
And I hope we will never part
Oh, please stay by me, Diana

Oh, my darlin’, oh, my lover
Tell me that there is no other
I love you with my heart
Oh-oh, oh-oh, oh don’t you know
I love you, I love you
So only you can take my heart
Only you can tear it apart?
When you hold me in your loving arms
I can feel you giving all your charms
Hold me, darling, ho-ho hold me tight
Squeeze me baby with-a all your might

Oh, please stay by me, Diana
Oh, please, Diana
Oh, please, Diana

Fontes:

Músicas e Musas: A Verdadeira História por Trás de 50 Clássicos pop: r Michael Heatley (Autor), Frank Hopkinson (Autor), Cristina Bazan (Tradutor), Christiane de Brito Andrei (Tradutor). Gutemberg, 2001,

https://filomusicology.blogspot.com/2016/01/elas-se-tornaram-cancao-diana-paul-anka.html

https://www.cbc.ca/news/canada/ottawa/diana-paul-anka-obituary-1.6672005

My Way. Uma autobiografia (Paul Anka)

My Way. A canção-assinatura de Sinatra (da qual ele não gostava muito)

Talvez “My Way” seja uma das canções que mais identifique Frank Sinatra. Foi, durante muitos anos, a música que encerrava seus shows, até a chegada do estrondoso sucesso “New York, New York”

Trata-se de uma versão original em francês, chamada “Comme D’Habitude” (tradução: “como de costume”), escrita pelos compositores Jacques Revaux e Gilles Thibault. Eles levaram a canção para a estrela pop francesa Claude Francois, que modificou um pouco a música, e, com isso, ganhou o crédito de coautor  e gravou a música em 1967, tendo relativo sucesso na Europa. A versão francesa conta a história de um homem, vivendo o fim de seu casamento, o amor morrendo pelo tédio da vida cotidiana.

 

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Paul Anka descobriu essa música ao visitar a França e reescreveu as letras como “My Way” quando ele voltou para Nova York. Anka disse, numa entrevista, que era madrugada, em uma noite chuvosa,  quando as palavras vieram para ele.

“Eu disse: ‘O que Frank faria com isso se ele estivesse escrevendo isso?’. E, metaforicamente, comecei a criar essa música como se Frank estivesse escrevendo: “E agora o fim está próximo. A cortina final”. Escrevi até as cinco da manhã e, no final, sabia que tinha algo que não teria medo de lhe dar.

 A letra de Anka mudou o significado de ser um homem olhando carinhosamente com a vida que viveu de acordo com seu próprio caminho, no momento em que “fecham-se as cortinas” da sua vida. Não por acaso, “My Way” é o título da biografia de Paul Anka

 

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A música foi gravada por Sinatra em 30 de dezembro de 1968, e causou alguma polêmica. Alguns viam nela um exercício de arrogância. Muitos viam como se fosse um recado do próprio Sinatra.

Na verdade, consta que Sintatra não gostava muito da música. Sempre disse que não era autobiográfica: “Não foi escrita pra mim (na verdade, como Anka disse, foi escrita pensando em Sinatra, mesmo)… As considerações, são do letrista, não minhas” 

Essa tornou-se a canção de assinatura de Frank Sinatra, mas não gostava muito dela. Já disse, em alguns shows, meio brincando, meio sério, que “detestava essa música” . Em seus últimos anos, ele descreveu a música como “um sucesso pop de Paul Anka que se tornou uma espécie de hino nacional“. Em uma entrevista de 2000 com o show da BBC Hardtalk, a filha de Sinatra, Tina, disse: Ele sempre pensou que a canção era egoísta e auto-indulgente. Ele não gostou. Essa música ficou presa a ele, que não conseguiu livrar-se dela (That song stuck and he couldn’t get it off his shoe.)

Nos anos 70, conforme relata Renzo Mora no livro que escreveu sobre Sinatra, que ele apontou as razões pelas quais não gostava de “My Way”:

“Eu sei que é um grande sucesso, e eu adoro ter grandes sucessos, mas cada vez que tenho de cantar essa música eu ranjo os dentes, porque, não importa a imagem que tenham de mim, eu odeio me gabar em cima dos outros. Eu odeio falta de modéstia, e é assim que eu me sinto com essa música” 

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O fato é que a música vai sendo construída num crescente de intensidade que termina num encerramento dramático, , que Sinatra poderia realmente vender com sua declaração, “eu fiz o meu caminho”.

O fato é que, no funeral de Sinatra, My way” foi a música que todas as rádios e redes de notícia utilizaram para lembrar-se dele.

Justifica-se porque a letra de Anka faz uma espécie de balanço da vida, e que, no fim da história, enaltece suas escolhas, minimiza os erros, e, em outras palavras, termina dizendo que o caminho escolhido valeu a pena.

A canção virou um clássico, gravada muitas vezes, embora a canção de Sinatra acaba sendo vista como a definitiva.

And now, the end is near
And so I face the final curtain
My friend, I’ll say it clear
I’ll state my case, of which I’m certain

I’ve lived a life that’s full
I’ve traveled each and every highway
But more, much more than this
I did it my way

Regrets, I’ve had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

I planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes, there were times, I’m sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all, when there was doubt
I ate it up and spit it out
I faced it all and I stood tall
And did it my way

I’ve loved, I’ve laughed and cried
I’ve had my fill my share of losing
And now, as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say – not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man, what has he got
If not himself, then he has naught
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows I took the blows
And did it my way

Yes, it was my way

E agora o fim está próximo
E portanto encaro o desafio final
Meu amigo, direi claramente
Irei expor o meu caso do qual estou certo
Eu tenho vivido uma vida completa
Viajei por cada e todas as rodovias
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito

Arrependimentos, eu tive alguns
Mas aí, novamente, pouquíssimos para mencionar
Eu fiz o que eu devia ter feito
E passei por tudo consciente, sem exceção
Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito

Sim, em certos momentos, tenho certeza que você sabia
Que eu mordia mais do que eu podia mastigar
Todavia fora tudo apenas quando restavam dúvidas
Eu engolia e cuspia fora
Eu enfrentei a tudo e de pé firme continuei
E fiz tudo do meu jeito

Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive a minha parte nas derrotas
E agora conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido
E pensar que eu fiz tudo isto
E devo dizer, sem muita timidez
Ah não, ah não, não eu
Eu fiz tudo do meu jeito

E para que serve um homem, o que ele possui?
Senão ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguém de joelhos
Os registros mostram, eu recebi as pancadas
E fiz tudo do meu jeito

 

Fontes: http://www.songfacts.com

MORA, Renzo. Sinatra: O homem e a música. São Paulo, Lemos Editorial, 2001, p.15/16