Poucas Músicas de Dorival Caymmi são tão conhecidas quanto Maracangalha. Na verdade, trata-se de uma letra simples, uma melodia também simples, que faz da música uma daquelas que parece ter sido feita desde sempre… Stella Caymmi, neta do compositor, contou assim a história da música, no seu livro “Dorival Caymmi: o mar e o tempo“

“O samba foi feito na tarde do dia 29 de julho de 1955, uma sexta-feira, em São Paulo, enquanto pintava um auto-retrato, em seu apartamento. De repente, veio em sua mente uma frase de Zezinho, seu amigo de infância em Salvador: ‘Eu vou pra Maracangalha’. Dorival se lembra que ‘toda vez que eu dava a ideia dele vir ao Rio, ele desconversava. Isso me intrigava’. Mas logo depois o amigo se abriu. Zezinho tinha uma amante em Itapagipe, Áurea, e com ele tinha quatro filhos.
– Como é que você sustenta essa filharada? – O compositor perguntou espantado
– Eu me viro. Respondeu Zezinho.
Mas Dorival queria saber mais
– Como é que você faz para vê-la sem que Damiana desconfie?
– Eu forjo um telegrama para mim mesmo e digo: ‘Eu vou pra Maracangalha’. É lá que eu compro saco de encher açúcar para embarcar, e ela não desconfia. – Explicou Zezinho.
“Maracangalha saiu por isso. Fiquei apaixonado pela sonoridade da palavra. Agradeço tanto a Zezinho” – Comenta o compositor, revelando a fonte de sua inspiração.

É importante salientar que Maracangalha é um distrito do município de São Sebastião do Passé (BA).
Por causa da música, há no distrito uma Praça Dorival Caymmi (em forma de violão, construída em 1972). Além disso, há a Usina Cinco Rios (1912), e que chegou a produzir 300 mil sacas de açúcar por ano. Era lá que Zezinho comprava as supostas sacas de encher açúcar.

Numa entrevista, Caymmi conta também que recebeu uma “sugestão” para que o nome de Anália fosse modificado:
Caymmi conta a história no vídeo abaixo:
Daí, comecei a cantarolar a música e a letra nascendo ao mesmo tempo. Eu vou pra Maracangalha/Eu vou!/Eu vou de liforme branco/Eu vou!/Eu vou de chapéu de palha/Eu vou!. Estava bom eu estava gostando, Então continuei e quando cheguei à parte que diz: “Eu vou convidar Anália’, uma vizinha, dona Cenira, perguntou lá na janela pra minha mulher: – Dona Stela, o que é que seu Dorival está cantando aí, tão bonitinho? E Stela, “Caymmi, diona Cenira quer saber o que você está cantando. Respondi. Estou fazendo uma música que fala de um sujeito, que sai de casa feliz pra se divertir. Ele vai pra Maracangalha, vai convidar Anália, ao que interrompa a vizinha:
– E por que o senhor não põe Cenira, em lugar de Anália?
– Fica para outra vez, Dona Cenira, eu lhe disse, me desculpando.
Eu vou pra Maracangalha
Eu vou!
Eu vou de uniforme branco,
Eu vou!
Eu vou de chapéu de palha,
Eu vou!
Eu vou convidar Anália,
Eu vou!
Se Anália não quiser ir,
Eu vou só!
Eu vou só!
Eu vou só!
Se Anália não quiser ir,
Eu vou só!
Eu vou só!
Eu vou só sem Anália
Mas eu vou!…
Fonte: Caymmi, Stella. Dorival Caymmi. O mar e o tempo, São paulo, Ed. 34, 2001, p. 329.
https://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/05/maracangalha.html
sábado 16 outubro 2010 17:27 , em Clássicos da Música Brasileira
Eu lembro dos meus tios cantando esta musica, eu tinha uns 10 anos. Grande Caymme.
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Eu lembro dos meus tios cantando esta musica, eu tinha uns 10 anos. Grande Caymmi.
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Gostei. Bela explicação.Singela e bonita. Usei pra trabalho escolar de meu filho de 10 anos 5ª.série 2021Piúma-ES- Colégio Paulo Freire
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Que bom que gostou, Beatriz! Obrigado pela atenção…
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Adorei conhecer a história da letra e música, Dory Caime, muito bom!!
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