Beatles e Beach Boys… Uma rivalidade pouco comentada.

Quando se pensa em rivalidades entre bandas de rock nos anos 60, é comum falar nas rivalidades entre os Beatles e os Roling Stones. No entanto, Paul McCartney disse que os maiores rivais dos Beatles não eram os Rolling Stones e sim os Beach Boys.

Alguém pode argumentar que os Beach Boys não alcançaram a notoriedade dos Beatles, mas é fato incontroverso que o grupo californiano foi inspirado e inspirou os Beatles.

Num interessante livro “Como John Lennon Pode mudar sua vida”, há um pequeno resumo dessa rivalidade, muito mais no campo artístico do que nas vaidades da fama:

Havia uma rivalidade transatlântica entre os dois grupos, que passaram dois anos em busca da superação, à procura do pop perfeito,inspirados pela obra do rival. Com Rubber Soul, lançado no final de 1965, os Beatles deixam de lado a inocência dos primeiros lançamentos, a exemplo do quinteto californiano, que ganhara as paradas de sucesso fazendo um rockabilly irresistível, conhecido como surf music (mesmo se apenas um de seus integrantes fosse surfista”.   

 

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Gabriel Menezes, no seu blog (www.blogcena.com) refere:

No início dos anos 60, os Beach Boys estouraram nos EUA com suas músicas falando sobre a Califórnia e acima de tudo sobre surfe. Mal tinham se acostumado com o sucesso quando sofreram um enorme revés, a invasão britânica. De uma hora para outra os americanos só queriam ouvir bandas do Reino Unido, deixando assim os grupos nacionais em segundo plano. Os grandes responsáveis por isso sem dúvida nenhuma foram os Beatles. Brian Wilson, líder dos Beach Boys, afirma que eles  “morriam de inveja do sucesso dos Beatles”. 

 

Voltando ao livro Como John Lennon Pode mudar sua vida:

Quando Rubber Soul chegou ao mercado, Brian Wilson, líder dos Beach Boys, apaixonou-se de imediato pelo disco e suas sofisticações. Harmonias vocais elaboradíssimas, arranjos celestiais de piano e cordas em algumas canções e um sedutor frescor pop que persiste até hoje. Ao ouvir aquilo, Wilson almejou criar um disco que superasse Rubber soul, uma tarefa árdua até hoje.     

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Dessa forma, os Beach Boys lançaram “Pet Sounds”, uma obra prima que se encontra em qualquer lista dos melhores álbuns da história do Rock. O próprio Paul McCartney, à época, chegou a dizer que era o melhor disco da história (o que seria uma jogada para instigar seus colegas de banda a superá-los mais uma vez), e afirmando que a mais bela canção de amor seria “God only knows”,de Brian Wilson.

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“Pet sounds” chegou às lojas em 1966, na mesma época em que os Beatles lançaram “Revolver”.

Em 1967, todavia, os Beatles fizeram um álbum então insuperável, que foi “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (eu, pessoalmente, acho que esse disco não envelheceu tão bem quanto outras obras-primas dos Beatles, como o White Album e, sobretudo, Abbey Road). O disco que mudou a história do rock e da música pop novamente instigou Brian Wilson, que planejava contra-atacar com o álbum “Smile”.

 

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Todavia, Wilson estava esgotado  e abatido, sobretudo pelo consumo de drogas (não foram poucos que disseram que o álbum não teria sido lançado porque “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” seria um disco insuperável).  Somente no ano de 2004 “Smile”saiu.  Muita gente se pergunta, todavia, até onde iria essa disputa, caso “Smile” fosse mesmo lançada em 1967.

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Mais uma história interessante sobre rivalidades… essa, apenas no campo criativo.

 

 

Fontes: http://www.blogcena.com/2009/10/rivalidade-entre-os-beatles-e-os-beach.html

Como John Lennon Pode Mudar A Sua Vida, : Alexandre PetilloPablo KossaEduardo Palandi, Geração Editorial.

segunda 09 agosto 2010 04:58 , em “Rivalidades” Musicais

Nara Leão – Dez anos depois… o seu retorno à bossa-nova em 1971

 

A trajetória musical de Nara Leão é das mais originais da música brasileira. extremamente inquieta, ela foi inicialmente considerada a musa da bossa nova, onde no apartamento de seus pais surgiram as famosas rodas de violão das quais participavam Carlos Lyra, Roberto Menescal, Sérgio Mendes e seu então namorado Ronaldo Bôscoli. Depois de romper com a bossa nova, interessou-se pelo samba de morro, gravou o extremamente politizado disco Opinião, que gerou o show homônimo, junto com João do Vale e Zé Keti, namorou o tropicalismo e fez parte do famoso disco Tropicália, em 1968, isso com apenas 26 anos.

O rompimento com a Bossa Nova deve-se muito ao rompimento de seu noivado com Ronaldo Bôscoli, um dos principais compositores da Bossa Nova, em face do caso que Bôscoli teve com a cantora Maysa.

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Após o rompimento, entre 1974 até 1970 Nara gravou 10 discos, todos afastados da Bossa Nova. Nara Leão só se reconciliaria efetivamente com a Bossa Nova em 1971, quando gravou o Lp duplo Dez Anos Depois. Jobim, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, Baden Powell, Johnny Alf, Newton Mendonça e Chico Buarque. A produção do disco é de Roberto Menescal, mas não há nenhuma música de Menescal, em face de sua parceria com Ronaldo Bôscoli. Ruy Castro, no livro “A onda que se ergueu no mar (Cia das letras, 2001), relata o episódio:

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“No repertório, um nome se destacava pela ausência: Ronaldo Bôscoli, o homem que ela amara e que escrevera muitas das principais letras da Bossa Nova. Fora Nara que que lhe inspirara ‘O Barquinho’, ‘Nós e o mar’ , ‘Ah, se eu pudesse” e muitas outras canções com Menescal – mas quem as gravara fora Maysa, a mulher com quem ele se envolveu enquanto namorava Nara. Por causa de Maysa, Nara brigou com Bôscoli e, com isso, rachou politicamente com a Bossa Nova. Anos depois, reconciliou-se com a Bossa Nova – mas não com Bôscoli, que, já então, estava casado com sua arquirrival Elis Regina”.

Não obstante a ausência de Bôscoli, o disco é realmente muito bom, a voz de Nara parece combinar com Bossa Nova.

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No entanto, quero chamar atenção para um disco especial de Nara: Dez Anos Depois, gravado em paris no ano de 1971, é um reencontro com a bossa nova.Como dá para ver,  o que se fez de melhor em bossa nova…sobretudo Tom Jobim, autor ou coautor de 19 das 24 músicas do disco. As músicas são:

“Insensatez”
“Samba de Uma Nota Só
“Retrato Em Branco e Preto”
“Corcovado”
“Garota de Ipanema
“Pois É”
“Chega de Saudade”
“Bonita”
“Você E Eu”
“Fotografia”
“O Grande Amor”
“Estrada Do Sol”
“Por Toda Minha”
“Desafinado”
“Minha Namorada”
“Rapaz de Bem”
“Vou Por Al”
“O Amor Em Paz”
“Sabia”
“Meditacão”
“Primavera”
“Este Seu Olhar”
“Outra Vez”
“Demais”

Quem gosta de Bossa Nova vai gostar. Gravado na França, em 1970, é um álbum duplo e representa a versão definitiva da Bossa gravada por Nara. E que seriam gravadas por ela muitos anos antes, não houvesse a briga com Bôscoli. E o mais impressionante é que o álbum ficou fora de catálogo no Brasil, enquanto no Japão, continua em catálogo até hoje.  Por este motivo, “Dez Anos Depois” é um disco indispensável para descobrir ou redescobrir Nara.

 

http://portalnoar.com.br/blogdodjacirdantas/2015/07/05/o-barquinho-da-bossa-nova-enfrenta-a-tempestade-final/

segunda 21 março 2011 17:05 , em Bossa Nova

 

O dueto de Caetano Veloso e Odair José em 1973

Em 1973, em plena ditadura militar, a Música representava uma das mais fortes expressões dos sentimentos populares. Assim, em maio de 1973, realizou-se um festival no Palácio de Convenções do Anhembi, com o elenco da gravadora Phonogram (Universal), que tinha como contratados a nata da música popular brasileira. .

No festival, grandes momentos merecem registro: Elis, Gal e Bethânia juntas, Toquinho e  Vinícius, Gil e Chico com Cálice. Mas um momento chamou a atenção e vaias do público. Foi o dueto entre Odair José e Caetano Veloso, cantando a música “Eu vou tirar você desse lugar”, em que o eu-lírico revela o seu amor por uma prostituta e promete resgatá-la, mesmo diante das dificuldades e preconceitos que a situação ensejava.

 

Consta que a vaia no Anhembi foi fenomenal, sobretudo porque Odair José, que há pouco se tornara conhecido pela canção “Pare de tomar a pílula” (que na época causou revolta em setores conservadores do clero), era um representante de uma música considerada “brega” e “alienada”

 

 

Foi justamente a partir desta apresentação que Caetano cravou uma de suas frases emblemáticas: “Não há nada mais Z do que a classe A”.

 

Na gravação acima, não se percebem as vaias, eliminadas no processo de masterização que deu ensejo ao disco , que foi proibido pela censura .

 

Paulo Cesar de Aaraújo, no seu livro “Eu não sou cachorro não”, conta um pouco da história:

 

Caetano então resolveu radicalizar, convidando para seu palco aquele artista considerado o mais redundante, banal e comercial: Odair José. Anunciado como ‘uma noite incrível reunindo o maior espetáculo de música brasileira de todos os tempos’, o show de Caetano Veloso — com o convidado surpresa Odair José — foi o último da mostra Phono 73, que contou naquele mesmo domingo com apresentações de Gal Costa, Maria Bethânia, Nara Leão e outros. Espécie de ‘patinho feio’ incluído em uma festa que reunia a nata da MPB, Odair José não poderia deixar de causar reação em um público preso a preconceitos estéticos de sua formação de classe média.” (Paulo César de Araújo, em “Eu não sou cachorro, não”, de 2002).

 

 

Odair, para Paulo Cesar, conta a história da canção:

A história é a seguinte: o cara trabalhava o dia inteiro e ao final do dia, em vez de ir pra casa, ele passava ali para tomar um drinque e tal.
E com esse drinque começava um grande romance. No dia seguinte ele voltava para tomar um segundo drinque, e mais um terceiro,
porque já estava realmente apaixonado por alguém dali. Eu assisti muito isso. Porque ali se encontram moças extremamente dignas, e o fato de estar naquele trabalho é apenas uma opção ou circunstância da vida, porque às vezes você faz planos de vida e a vida muda seus planos.

Sobre a experiência e as vaias, ele conta:

Eu era o maior vendedor da Polygram, mas não estava ali entre a elite. Naquele momento foi um prazer estar com ele (Caetano), um homem muito inteligente, à frente de seu tempo. Mas foi, evidentemente, uma confusão, com vaias, porque eu era um objeto estranho naquele ambiente. Vaias a gente sempre leva na vida, mas aquela foi uma noite especial à qual talvez eu não tenha dado a devida importância” 

O episódio deixa bem claro o caráter tropicalista de Caetano, que através de sua postura conseguiu “legitimar” , ainda que tardiamente, muitas músicas não consumidas por uma chamada “elite” intelectual brasileira, que patrulhava e rotulava artistas. Tanto que foi Caetano que mostrou interesse em Odair, e não o contrário, como ele disse numa entrevista:

 

Como se deu esse encontro com o Caetano Veloso?

Soube através do André Midani (então diretor da gravadora Phonogram) que o Caetano gostaria de se apresentar comigo no Phono 73. Lembro que fretaram um avião para ir ao interior de São Paulo, se não me engano Piracicaba, onde ele estava se apresentando. Cheguei e o Caetano disse que gostava muito da música e queria cantá-la comigo. Tive uma boa impressão do Caetano que, por sinal, é um cara muito simples 

E como foi o show? As vaias o incomodaram?

Para mim era apenas mais um show em minha vida, não dei tanta importância ao fato até chegar ao palco. Fui muito bem recebido por Caetano mas ficou bem claro para mim a distância de estilos através da reação de parte do público. Nunca tive como meta atravessar o ”outro lado” da MPB, eu só sei fazer o que faço e pronto. Se é brega, popular ou outra coisa não me importo. Eu me lembro que diante das vaias, Caetano jogou o microfone no chão, falou alguma coisa sobre classe A e Z e saiu do palco. Eu permaneci no palco, não tinha porque sair de lá e cantei outras duas músicas” 

 

Curioso, por fim, é saber que há muitas entrevistas perguntando a Odair sobre o episódio, e bem poucas com Caetano…

 

Fontes:

Paulo César de Araújo, “Eu não sou cachorro, não”

http://rodrigomattar.grandepremio.com.br/2013/07/discos-eternos-phono-73-o-canto-de-um-povo-1973/

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1511200520.htm

http://caetanoendetalle.blogspot.com.br/2014/11/1973-vou-tirar-voce-desse-lugar.html

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2016/10/23/odair-jose-lanca-gatos-e-ratos-e-recusa-rotulo-de-brega-257802.php

https://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/entrevista-a-cafonalia-no-crivo-da-censura-492694.html

 

Mudando como um deus o curso da história, por causa da Mulher….

Esta frase termina uma bela homenagem de Gilberto Gil ao feminino, numa canção em que música e letra foram compostas ao mesmo tempo, e que se intitula “Super-Homem – a canção”.

Para quem não sabe, antes mesmo dos filmes sobre Homem-Aranha, X-Men, Batman, Pantera Negra, Homem de Ferro e etc, um filme de super-herói fez história no final da década de 70. Era o Super-Homem – o filme, com Christopher Reeve no papel de Super-Homem, Margot Kidder no papel de Lois Lane, Marlon Brando no papel de Jor-El, pai do Super-Homem e Gene Hackmann no papel de Lex Luthor.

 

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O filme mostra o quanto o super-homem, ao mesmo tempo em que é vulnerável pela kriptonita, é vulnerável também ao amor que sente por Lois Lane, colega de profissão de seu alter-ego, Clark Kent. Super-homem não consegue suportar a ideia da morte de Lois Lane, e então opera um milagre.

A partir da narrativa de Caetano sobre o filme que acabara de ver, surgiu uma das mais conhecidas músicas de Gil, uma homenagem, que ele narra no seu livro Todas as Letras (Cia das letras, 1996).

Eu estava morando na Bahia e não tinha casa no Rio, por isso estava hospedado na casa do Caetano. Como eu tinha que viajar logo cedo, na véspera da viagem eu me recolhi num quarto por volta de uma hora da manhã

De repente eu ouvi uma zoada: era Caetano chegando da rua, falando muito, entusiasmado. Tinha assistido o filme Super-Homem. Falava na sala com as pessoas, entre elas a Dedé [Dedé Veloso, mulher de Caetano à época]; eu fiquei curioso e me juntei ao grupo. Caetano estava empolgado com aquele momento lindo do filme, em que a namorada do Superhomem morre no acidente de trem e ele volta o movimento de rotação da Terra para poder voltar o tempo para salvar a namorada. Com aquela capacidade extraordinária do Caetano de narrar um filme com todos os detalhes, você vê melhor o filme ouvindo a narrativa dele do que vendo o filme… Então eu vi o filme. Conversa vai, conversa vem, fomos dormir

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Mas eu não dormi. Estava impregnado da imagem do Super-Homem fazendo a Terra voltar por causa da mulher. Com essa ideia fixa na cabeça, levantei, acendi a luz, peguei o violão, o caderno, e comecei. Uma hora depois a canção estava lá, completa. No dia seguinte a mostrei ao Caetano; ele ficou contente: ‘Que linda!’

Gil somente fora ver o filme quando estava nos Estados Unidos para gravar o disco Realce. A canção foi feita, portanto, a partir da narrativa de Caetano Veloso sobre o filme. .

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O significado da canção, que há quase 40 anos foi visto com certa desconfiança pela critica, hoje parece evidente:  é uma homenagem àquilo que é visto como feminino, como características atribuídas naturalmente às mulheres, e que são coisas que fazem o e-lírico melhor, muito mais do que o tradicional mundo masculino. Gil, ainda sobre a letra, arrematou:

 

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Sobre a “porção mulher” – “Muita gente confundia essa música como apologia ao homossexualismo, e ela é o contrário. O que ela tem, de certa forma, é sem dúvida uma insinuação de androginia, um tema que me interessava muito na ocasião – me interessava revelar esse imbricamento entre homem e mulher, o feminino como complementação do masculino e vice-versa, masculino e feminino como duas qualidades essenciais ao ser humano”.