Two Naira Fifty cobo

O disco “Bicho”, de Caetano Veloso, em 1977, tem uma série de canções que se incorporaram ao repertório permanente do cantor. Lá se encontram canções como Tigresa, Leãozinho, Odara, Alguém Cantando, que ainda hoje são lembradas e tocadas por Caetano e por tantos outros intérpretes.

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No entanto, uma canção que, em princípio, parecia esquecida no disco, ganha um significado especial.  Em 1977, Caetano Veloso e Gilberto Gil fizeram uma viagem a Lagos, na Nigéria, para participar do II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra (Festac).

Importante saber que a moeda nigeriana é NAIRA, e KOBO  representam os centavos. Two Naira Fifty Cobo (2,50) era o valor cobrado pelo motorista africano para transportar os artistas durante o festival.  Durante as horas vagas, o referido motorista colocava música dançante africana (juju Music)  para tocar. E este motorista acaba sendo referido com suas relações com o Brasil e a Bahia

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Na biografia que fizeram de Caetano, Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco contam um pouco desta história (p.284/5)

as marcas deixadas em Caetano (na sua passagem pela Nigéria) tiveram sua profundidade. A Juju Music, a religião, a comida, os shows,. Muita lembrança boa de uma terra até então virgem para ele. Os ´causos´também ficariam na memória, como aquele do motorista que os levava para cima e para baixo e não mudava o discurso na hora de negociar o preço. Os brasileiros perguntavam quanto custava uma blusa e o homem respondia: ´two Naira fifty Cobo. perguntavam quanto valia um chapéu e e a resposta vinha de pronto: two Naira fifty Cobo.(…)    

A letra faz referências a Pelé e a força brasileira com o pé na África. Two Naira Fifty Cobo é ficou sendo o apelido do motorista. a referência ao povo lindo que dança na rua e que fala tupi (indígenas) e Iorubá (africanos). Caetano, ao se referir ao motorista africano, disse que ele o fazia lembrar-se dos pierrôs da Bahia no carnaval : “Sua dança, no entanto, tinha essa graciosidade africana e transmitia doçura e melancolia”

 

No livro “Sobre as letras”, Caetano fala:

 

Two Naira Fifty Cobo” é o preço que o motorista do ônibus que servia à delegação brasileira no FESTAC atribuía a tudo que se lhe encomendava e terminou virando seu apelido. Ele punha ju-ju music para tocar no toca-fita do ônibus, que ficava estacionado em frente ao prédio tipo ‘Fundação casa popular’ que nos abrigava, e dançava horas seguidas sobre o asfalto da rua deserta. Ele era feio e magro, usava sempre aquelas roupas estampadas e dançava com os olhos fechados. Parecia um Pierrô bêbado dos carnavais baianos do início dos anos 60. Sua dança, no entanto, tinha essa graciosidade africana e transmitia doçura e melancolia”.  

 

Um comentário sobre “Two Naira Fifty cobo

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