Fevereiros… um documentário sobre Bethania, Mangueira,Música e Sincretismo…

Maria Bethânia é uma destas cantoras singulares. Cantora cujo estilo é admirado por outras cantoras, difícil de ser comparado. E o documentário “Fevereiros”, de Marcio Debellian, aborda uma destas peculiaridades, fazendo uma ponte entre o desfile da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, em 2016, e as festas populares e religiosas entre janeiro e fevereiro em Santo Amaro.

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Bethânia, no logo no início, diz que as coisas mais importantes para ela acontecem no mês de fevereiro, entoando os versos da canção de Dona Edith do Prato (1916-2009) “trabalhei o ano inteiro na estiva de São Paulo só pra passar fevereiro em Santo Amaro”. 

A partir de então, o documentário relata dois “fevereiros”: o da escola de samba, campeã com o desfile em homenagem a Bethânia, no ano de 2016, e a festa da Purificação, que ocorre dia 1º de fevereiro em Santo Amaro.

A história, relatada no modelo de entrevista com imagens de arquivo, desvela a religiosidade e o sincretismo de Bethânia, em que a devoção à Nossa Senhora transita de forma harmônica com o fato de ser filha de Iansã. O sincretismo é tratado de uma forma bonita, em que convivem bem o cerimonial católico e a ancestralidade das heranças africana e indígena (faz referência tanto ao candomblé africano quanto ao candomblé de caboclo).

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E o retrato da tradição de fevereiro em Santo Amaro, com seu sincretismo, vai ser a inspiração do desfile da Mangueira. O documentário retrata a preparação da Escola, o samba enredo, as alegorias, as baianas, ao mesmo tempo em que conta a história de Bethânia em Santo Amaro, as tradições, a fé católica, e o interesse pelos orixás.

Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, ressalta a importância de representar o Brasil mestiço, lembrando como a religiosidade popular foi perseguida.

E fica claro que foi nos terreiros da Bahia o samba de roda nasceu, e logo em seguida migrou para o Rio, com o fim da escravidão, o que já tratamos aqui  .

“Só podia ter sido aquela apoteose na avenida, porque era o centenário do samba e celebrar Bethânia era colocar o povo no desfile.

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 O filme conta com depoimentos de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, Leandro Vieira (carnavalesco da Mangueira), Luiz Antonio Simas (historiador), Mabel Velloso (poeta e irmã de Bethânia e Caetano) e Squel Jorgea (porta-bandeira da Mangueira).

E, nos momentos simples que o documentário ganha em beleza. Na casa de Santo Amaro, no Barracão da Mangueira, nas ruas de Santo Amaro, cantando com Chico Buarque (num dos momentos divertidos do documentário), na igreja, junto à Mãe Menininha, e na Sapucaí, em que Bethânia disse não querer se fantasiar de nada. Foi dela mesma…

É contada a história de como o povo negro de Santo Amaro comemora, desde 1889, o fim da escravidão, e por trás da música e da religiosidade o documentário é uma voz de de resistência – do samba, das religiões afro –  que se personifica em Maria Bethânia, que, citando Mãe Menininha, diz, que quanto mais se dá, mais se tem, pois se trata de uma fonte, de um manancial que nunca seca.

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