De Fugaz a Fullgás: a Musicalidade de Marina Lima e Antônio Cícero

Fullgás é uma das canções mais emblemáticas da parceria entre Marina Lima e seu irmão, o poeta Antônio Cícero. Sua origem mistura uma série de elementos de modernização, quando surgia uma nova música pop brasileira.

A música dos anos 80 começava a incorporar fortemente elementos eletrônicos — drum machines, sintetizadores e arranjos mais “limpos”, influenciados pelo new wave e pelo synth pop internacional. E Fullgas revela a fusão entre tecnologia, poesia e uma estética urbana sofisticada própria da época.

A história começa em 1983, quando Lobão — então baterista de Marina — chega com uma novidade inédita no país: um teclado Casio com bateria eletrônica. Era um teclado pequeno, que já colocava nas músicas uma batida constante. Marina adorou a novidade comprou um para si. Brincando com ritmos pré-programados, cria uma levada híbrida, brasileira e pop ao mesmo tempo, que se tornaria o embrião de Fullgás. Como ela disse, criou a música em cima de uma levada. Trouxe a ideia ao irmão, e ambos finalizam a composição.

O título da música surge de uma brincadeiera. Antônio Cícero havia escrito “fugaz”, no sentido clássico de algo veloz, rápido, passageiro. Marina, que vivera muitos anos nos Estados Unidos, resolveu fazer um trocadilho, e inserio “full-gas”: cheia de energia. A leitura dela transformou o conceito da música e acabou batizando não apenas a faixa, mas o álbum inteiro.

E existem aspectos muito interessantes na letra e na música.

A letra de Antônio Cícero, poeta de formação, imprime à canção uma dimensão filosófica evidente. Numa entrevista, ele explica que a expressão “meu mundo você é quem faz” dialogava diretamente com sua formação clássica. Segundo ele, mundus, em latim, “é aquilo que tá limpo, que brilha, que aparece” — uma imagem que sintetiza a capacidade da canção de iluminar aspectos da vida que lhes interessavam.

A letra imprime, então, uma tentativa de traduzir em música a sensação de brilho que certas pessoas conferem ao ambiente ao seu redor.

Marina, numa entrevista, falou da letra:

A gente ficava fascinado com algumas figuras na noite. Hoje tem isso, mas, na nossa época, quando a gente compôs essa música, havia pessoas que lançavam bem, e que você via que lançavam moda.

A gente volta e meia se via envolvido, afim de alguém assim. Tudo você é quem lança. A pessoa tem um aspecto em que ela lança moda. Tudo dela, ela faz com que se toque. Olha… todo mundo começa a ficar parecido com aquela pessoa, entendeu? Lança mais e mais.

Nada de mal alcança, porque tendo aquela pessoa, nada vai mais vai machucar nem cansar ficar. Um mundo estranho, sem esse charme, sem esse frisson no ar. Ficou um mundo esquisito. Um mundo estranho.

Marina e Antonio Cícero

A música revela um encanto por essas pessoas, encanto que contagia e torna odos em sua volta indestrutíveis.

Quando se fala de “meu brinquedo”, Cícero esclarece que é uma espécie de brincadeira amorosa no jogo de sedução. Nega que tenha o componente de manipulação, mas de brincadeira.

E depois da continuidade do encantamento, da sensação de que a vida não será mais a mesma sem aquela pessoa, vem a frase que fecha a canção: “Você me abre seus braços/E a gente faz um país

Esta frease condensa múltiplos sentidos:
erótico, como a criação de um território íntimo entre dois corpos;
afetivo-existencial, como a capacidade de alguém reconfigurar o mundo de outro;
político, como a possibilidade de imaginar um espaço novo, um país próprio, feito de linguagem, desejo e brilho;
estético, porque o país criado é também a obra de arte, o território simbólico que a música inaugura.

Essa frase ecoa e amplia o verso “meu mundo você é quem faz”: agora, não é apenas o mundo de uma pessoa feita pelo objeto do desejo; é um país inteiro que se faz juntos ao se abrir os braçoe. . O país como horizonte, como corpo, como invenção comum — como obra.

E a música também tem suas nuances. A levada de baixo é manifestamente inspirada em Bille Jean, de Michael Jackson.

Fullgás, portanto, permanece como um marco: uma canção que combina poesia sofisticada, experimentação tecnológica e uma estética de desejo rarefeita, inventiva, urbana. Um lugar onde música, corpo e linguagem criam novos mundos — ou novos países — sempre que alguém abre os braços e permite que a arte, enfim, aconteça.

Milagres do Povo. Uma homenagem de Caetano a Jorge Amado.

“Quem é ateu, e viu milagres como eu”… Desta maneira começa a canção “Milagres do Povo”, de Caetano Veloso. A canção foi lançada em 1985, fazendo parte da trilha de abertura da série “Tenda dos Milagres”, exibida na TV Globo, uma adaptação televisiva para o romance de Jorge Amado, publicado pela primeira vez em 1969.

Caetano conta um pouco da história numa entrevista que deu para o Jorna El País:

A frase sobre ser ateu e ter visto milagres foi dita por Jorge Amado. O Pasquim quis entrevistá-lo e queria que eu estivesse presente, ajudando a fazer perguntas. Como eu não podia estar no Rio na data marcada, eles me pediram as perguntas por escrito para que fossem lidas para Jorge. Eu perguntava que significado propriamente religioso tinha o candomblé em sua vida, já que ele era Obá de Xangô. Ele respondeu: “Não sei; feliz ou infelizmente, ao contrário de [Dorival] Caymmi, eu não tenho nenhuma fé. Sou ateu materialista convicto. Mas vi muitos milagres do candomblé. Milagres do povo”. Quando me pediram pra fazer uma música para a versão televisiva de Tenda dos Milagres, citei a frase logo na abertura da música. E passo a falar dos “deuses sem Deus”, que “não cessam de brotar nem cansam de esperar”.

Foi daí que nasceu a canção.

É importante lembrar que Jorge Amado foi deputado pelo Partido Comunista pelo estado de São Paulo, e autor da Emenda 3.218 que inseriu no texto da Constituição de 1946 o §7° do art. 141 que declarava e reconhecia a liberdade de crença: 7º — É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil.

Na entrevista ao Pasquim, Jorge Amado afirma: Eu sou materialista, não tenho nenhuma religião, mas meu materialismo não me limita”

A música, quando faz referência aos “milagres do povo”, faz um elogio claro e manifesto às religiões de matriz africana, que vieram ao Brasil junto com o povo negro escravizado.

A canção, que faz referência a diversos Orixás (Xangô, Obatalá, Oxum, Iemanjá e Iansã), para além da homenagem à religiosidade de matriz africana e que ganhou identidade própria no Brasil, faz uma homenagem ao povo, verdadeiro artesão dos miagres. Os “deuses sem Deus” são uma afirmação de que todos somos deuses, mesmo sem acreditar numa divindade.

O milagre pode ser dança, sexo e glória, e que mesmo vindo ao Brasil e tendo conhecido a crueldade de frente, conseguiu se erguer para além da dor, e produzir milagres. Estes milagres estão na presença negra na cultura brasileira, devidamente arraizados e enraizados como milagres do povo.

Uma bela homenagem a Jorge Amado, que serviu de inspiração para a canção.

https://brasil.elpais.com/cultura/2020-09-07/caetano-veloso-minhas-expectativas-sobre-o-brasil-nao-sao-tanto-a-esperanca-sao-mais-a-responsabilidade.html

Rapte-me Camaleoa (De Caetano para Regina Casé em 1981)

A figura do camaleão é sempre associada ao mimetismo, à sua capacidade se se camulflar de acordo com o ambiente, com a temperatura, com a iluminação e pelo seu próprio estado emocional. Quando nos referimos a pessoas, a referência ao camaleão termina sendo uma figura de linguagem relacionada com a capacidade de mudança e de adaptação.

E foi a figura da Camaleoa que Caetano Veloso homenageou, no álbum “Outras Palavras” (1981), a atriz Regina Casé, na canção “Rapte-me Camaleoa”.

Conta Tom Cardoso, na obra biográfica “Outras palavras: Seis vezes Caetano”, diz que Caetano conheceu – e deslumbrou-se – com Regina Casé quando a viu encenando a peça “Trate-me Leão”, da Cia teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone (formada por diversos atores que se tornaram posteriormente muito famososo, como Evandro Mesquita, Luiz Fernando Guimarães, Patrícya Travassos, entre outros). A amizade entre ambos transfornou-se num namoro fugaz (com o consentimento da esposa de Caetano, Dedé Gadelha, já que a relação de ambos era fundada no amor livre).

A letra é, ao mesmo tempo, um convite e uma manifestação de desejo, reveleda na última frase, adapte-me ao seu ne me quitte pas. Na letra da canção, a ideia da metamorfose, da adaptação própria do camaleão está sempre presente

Regina afirnou, em 2004: “eu e a Dedé éramos muito amigas, e continuamos sendo até hoje(…) Aquilo era um comportamento tão normal, no mundo inteiro”

A canção é uma declaração de afeto para Regina Casé, que Caetano namorou no início da década de 1980. “Ela se chamava ‘Camaleoa’ em uma peça (‘Aquela Coisa Toda’). Namorei ela nessa época rapidinho, um tempinho curto. Mas a adoro, sempre. É bem feitinha a letra. E tem de interessante o verso ‘rapte-me, adapte-me, capte-me, it’ s up to me’, que traz uma rima bilíngue“, disse em conversa com o escritor Eucanaã Ferraz…

A amizade deles dura até hoje. Regina Casé fez uma participação no filme de Caetano, Cinema Falado. Numa entrevista ao programa Roda Viva, falou sobre a amizade:

Eu estava trabalhando, ele foi assistir a uma apresentação nossa e gostou muito. Depois, foi conversar com a gente no camarim, daí a gente foi jantar e ficou amigo. Logo assim. Mas eu acho que foi muito por causa do trabalho. Se não fosse o trabalho, talvez no Rio a gente viesse a ser amigo, mas o que precipitou… E isso criou uma amizade já com muita qualidade, assim, legal.

Em 2014, Caetano fez uma postagem homenageando Regina Casé:

Quando conheci Regina, ela estava no palco. Eu, na plateia. Fiquei imediatamente apaixonado por sua personalidade e assombrado com seu talento. O Asdrúbal Trouxe o Trombone era um grupo de jovens fazendo o teatro viver. Dos trabalhos que ela fez ali à série de programas na TV, passando por atuações em filmes, peças e novelas, há uma linha coerente. Ela é uma das criadoras mais fortes que o Brasil produziu. O modo de tratar uma personagem em “Trate-me, Leão” já continha os gestos de Central da Periferia ou Esquenta! Não é por acaso que ela incomoda os eternos reaças colonizados. Filha de Geraldo e neta de Ademar, Regina é um farol na cultura popular brasileira. Celebro seu aniversário como um marco na minha vida pessoal e na história do Brasil” 

Arca de Noé – Vinicius de Moraes

Há uma tendência de que todo adulto se lembre de seu tempo de criança como o melhor de todos os tempos. Os brinquedos, os costumes, as guloseimas, as músicas  e os programas de TV. No entanto, é difícil encontrar um musical infantil que se compare à Arca de Noé, programa da TV Globo lançado em 1980 para o Dia das Crianças.

O programa de Augusto Cesar Vanucci, com roteiro de Ronaldo Bôscoli, tem como inspiração um conjunto de poesias “Arca de Noé”, lançado por Vinicius de Moraes em 1970. Na primeira versão, participaram do projeto Toquinho, Chico Buarque, Milton Nascimento, Elis Regina, Marina Lima (então só Marina), Moraes Moreira, Alceu Valença, Ney Matogrosso, Bebel Gilberto, Frenéticas, Fabio Jr., Boca Livre e Walter Franco.

Ainda hoje, assistindo o especial, numa precária cópia gravada em VHS, percebe-se a riqueza musical, que se inicia de modo solene, com Chico Buarque narrando um primeiro trecho da poesia, que se transforma em canção na voz de Milton Nascimento. A narrativa dos animais amontoados na arca, e depois a saída dos animais:  

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Depois da canção de abertura, vem “A porta”, com Fábio Jr., em que a porta “fecha a frente do quartel“, mas que “só vive aberta no céu”. 

Depois começa, enfim, o desfile dos bichos, e Vinicius escapa dos bichos óbvios, começa com a circense “a foca”, com Alceu Valença, que apresenta as focas americana (“rica, rica, mas que não dá para ninguém”), a foca francesa, cheia de plumas e paetês, ao som da Marselhesa, ao fundo, e a Foca Brasileira,que caiu, porque não tem sardinha.

Tem Elis Regina, cantando a “feia e esquisita” Coruja, Bebel Gilberto, adolescente, cantando a pulga que vai atrás do freguês encher a barriguinha, Moraes Moreira louvando as abelhas operárias e fazendo troça da abelha rainha que “engorda a pancinha e não faz mais nada”.

A canção “O pato”, na interpretação do MPB-4, foi uma das músicas de mais sucesso do especial, pois conta de modo bem humorado as agruras de um pato atrapalhado, que se mete em confusões com galinha, com marreco e que, por causa disso, acaba na panela. (Mas no programa, a menininha Aretha liberta o patinho do forno…)

Em seguida tem Ney Matogrosso, absolutamente discreto, cantando lindamente a Oração de São Francisco, acompanhado de um violão.

Marina faz uma bela interpretação de “O gato”, para em seguida o Boca Livre cantar “A casa” , sem teto, sem chão, sem parede, sem penico, na Rua dos Bobos, número zero…

Pode parecer estranho que, num disco e programa sobre a Arca de Noé, haja uma divertida e maliciosa interpretação das Frenéticas e os solfejos da aluna e do professor nas aulas de piano.

O site http://caracol.imaginario.com/discoteca/arcadenoe/index.html, esclarece:

Até aula de piano tem. Onde o poeta buscou inspiração para colocar uma aula de piano nessa arca? 

Ele era um homem de muitas leituras e escutas. Provavelmente conhecia a obra do músico francês Camille Saint-Säens, autor de O Carvanal do Animais. Pois bem que nesse desfile, além de cangurus, galos e galinhas, leão, burro, musaranho, cisne, até aquário e fósseis, aparecem os pianistas… e, como o colega francês, o poeta brasileiro tratou de incluir uma aula de piano na roda de tantos bicos, bocas, bigodes, pêlos e penas. Acredita? Outra curiosidade: Vinícius de Moraes, anos antes de escrever A Arca de Noé, ter traduzido o livro Orações na Arca, da religiosa francesa Carmen Bernos de Gastold.    

Terminando o disco com a tranquila “O relógio”, com Walter Franco, e o encerramento com a bela “Menininha”, interpretada por Toquinho, como uma prece pela eternização da infância, como uma saudade antecipada de quem quer que a criança continue criança a vida inteira.

Um especial fantástico e atemporal. Assim como Vinícius. A Arca de Noé foi escrita inicialmente por Vinícius para seus filhos Suzana e Pedro. No site oficial de Vinícius, a história é contada:

 Por muitos anos, eles ficaram guardados. Só em 1970, o conjunto de poemas infantis ganha o mundo. Seu lançamento ocorre na Itália, país onde a presença do poeta era constante, seja através de diversas visitas e temporadas ou de traduções de sua obra. 

É lá, justamente quando Vinicius conhece um amigo de Chico Buarque chamado Toquinho, que o disco com os poemas infantis é preparado. O disco é chamado L’Arca. No mesmo ano, seus poemas musicados na Itália são lançados em livro no Brasil. Dez anos depois, dois discos dedicados ao conjunto de poemas infantis de Vinícius também são lançados no país, com o mesmo nome do livro. 

A Arca de Noé tornou-se um dos livros mais populares de Vinicius de Moraes por ter criado um laço com as crianças. Todas as gerações têm nos seus poemas uma porta de entrada no mundo da literatura e da música popular brasileira. Ao mesmo tempo, no âmbito musical, foi o primeiro trabalho que apresentou a ele Toquinho, parceiro até o fim da vida. 

https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/livros/arca-de-noe

Eu também quero beijar… ou Béjart?

Um dos grandes sucessos de Pepeu Gomes, “Eu também querio Beijar”, com um daqueles riffs  de guitarra que terminam por identificar a música, tem uma história bem curiosa.

A letra da canção, que trata de coisas boas, que eu lírico também quer beijar. Só que a origem não tem nada a ver com a ideia de beijo, mas da visita de um coreógrafo ao Brasil depois de quase 20 anos. 

Tratava-se de Maurice Béjart, que fazia sucesso no mundo inteiro (a sua coreografia do Bolero de Ravel é uma referência em todo mundo), e que, depois de muito tempo, viria ao Brasil. 

A história da letra é contada por Ruy Godinho, no terceiro volume do Livro “Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira” 

Estávamos em 1981. O general João Baptista Figueiredo, último presidente militar a governar o país, reafirmava o projeto de abertura política iniciado no governo anterior. Mais uma vez, o Rio de Janeiro teria o privilégio de receber o balé do famoso coreógrafo francês Maurice Béjart, da Opera National de Belgique. Béjart tinha uma grande ligação com o Brasil. Havia se apresentado aqui em 1963. Apesar do êxito da apresentação de sua companhia e a afeição que sentiu pelo país, só aceitou retornar em 1979, com o processo de abertura. Não concordava com o regime autoritário imposto pela ditadura. Naquele ano, o público lotou o Teatro Municipal do Rio de Janeiro para ver Béjart ao lado da bailarina brasileira Laura Proença. Ele não dançava havia dez anos.

No Rio, não se falava noutra coisa. Nos lares, nos bares, nas ruas. Ninguém queria perder Béjart. Todos queriam ver Béjart. Era Béjart pra cá, Béjart pra lá.

 Segundo Pepeu: “A gente fez essa música quando o Maurice Béjart, aquele coreógrafo, dançarino, estava no Rio de Janeiro. Eu estava andando muito com o Moraes na época. Mesmo pós-final dos Novos Baianos, a gente sempre teve uma ligação grande, a gente é meio padrinho dos filhos [um] do outro. E quando a gente ia ao Baixo Leblon, as pessoas ficavam dizendo: ‘Poxa, vamos ver o Béjart, eu também quero Béjart’. Aí a gente ficou com essa ideia na cabeça e fez Eu também quero beijar [risos]. E a música tornou-se um grande sucesso, foi uma alegria, foi o meu primeiro disco de ouro e tudo”, conclui Pepeu Gomes.

 O mote surgiu da presença de Béjart no Brasil. Porém, o letrista Fausto Nilo, convidado a participar da parceria, foi buscar elementos do folclore de Quixeramobim, no interior do Ceará, sua cidade natal, na contribuição que deu para o desenvolvimento da letra.

“Eu morava em Copacabana, na Tabajaras, ali perto do Teatro Opinião. O Moraes morava numa travessinha no Jardim Botânico, perto do Parque Lage”, começa seu relato o letrista cearense. “E, um dia, ele me ligou dizendo: ‘Cara, tô eu e Pepeu aqui. Estamos fazendo uma melodia interessante, não quer vir pra cá’? E eu fui. Quando cheguei, a música já estava quase pronta, eles estavam cantando com muito entusiasmo. Já estava bem-avançada. E eu, com o meu caderninho, comecei a anotar umas palavras. Normalmente eu conduzia, mas eles estavam participando, o Moraes dava palpite e tal. E fizemos. Deu certo, fizemos tudo, mas o refrão ninguém encontrava uma boa solução. Essa é minha versão”, preocupa-se Fausto com a fidelidade do relato.

Fausto Nilo

“O refrão, o Moraes disse assim:

‘– Eu tive uma ideia aqui. Eu fui ontem ver o Béjart, o bailarino, rapaz, no Teatro Municipal’!

E elogiou muito:

‘– Que coisa fantástica, aquilo é sensacional’.

E nessa conversa ele sugere:

‘– Por que a gente não põe assim: eu também quero Béjart’?

E como a loucura era grande, a gente cantou, achou bom, e ficou Eu também quero Béjart. A flor do desejo do maracujá… Já na parte que diz: haja fogo, haja guerra, isso é uma música lá da minha terra, de domínio público, do reisado. Só que lá a melodia tem outra forma: haja fogo, haja guerra, haja guerra que há/haja fogo, haja guerra, haja guerra que há/morreu secretário chegou general/haja fogo, haja guerra, haja guerra que há [Fausto canta com outra melodia]. E foi ficando uma coisa louca: haja fogo, haja guerra… eu também quero Béjart. E aí terminamos, a música ficou pronta e fomos tomar um cafezinho. Quando voltamos e pegamos de novo, eu falei assim:

‘– Cara, vamos ver uma ideia aqui porque não sei se o povo vai sacar essa história de Béjart, né? Essa música é muito popular e tal. Vamos simplificar pra Eu também quero beijar’. Como todo mundo quer beijar, pronto, ficou isso aí”, conta Fausto Nilo.

Maurice Béjart

Eu também quero beijar foi registrada originalmente no LP Pepeu Gomes (WEA, 1981); posteriormente, no CD Moraes e Pepeu no Japão (WEA, 1991); no CD Meu Coração – Pepeu Gomes (Trama,1999); e no CD Hits e Dubs – Cidade Negra (Epic/Sony Music,1999).

Fogueira: De Ângela Ro Ro para Zizi Possi

Histórias de amor deixam marcas e músicas. Algumas músicas, como algumas histórias de amor, são óbvias e não possuem muita coisa de especial. Outras músicas marcam, ficam definitivamente marcadas, como certas e especiais histórias de amor.

Toda história verdadeira de amor tem sua canção ou sua trilha sonora, e sorte de quem consegue traduzir numa bela letra, harmonia e melodia os encantos e desencantos do amor vivido.

Falo isso para analisar uma das músicas mais belas, senão a mais bela, gravada por Ângela Ro Ro. Esta música é Fogueira, cuja letra segue abaixo.

Por que queimar minha fogueira?
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim?
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração
Mas breve que o tempo passa
Vem num galope o teu perdão

Porque temer a minha fêmea?

Se a possuis como ninguém
A cada bem do mal do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Dou fé também serás ladrão

Deixa eu cantar
Aquela velha história, o amor
Deixa penar, a liberdade está também na dor

Eu vivo a vida a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Pra guiar meu coração
Sei que a vida é passageira
E o amor que eu tenho não!

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor

 A música foi composta para Zizi Possi, com quem Ângela vivia um romance (ambas moravam juntas), e algumas histórias não bem esclarecidas fizeram com que o romance terminasse. As fontes – nem sempre confiáveis – dão conta de que Ângela teria sido acusada de agredir Zizi, outra, que Ângela teria feito um escândalo num show de Zizi, a ponto de precisar ser retirada pela polícia do teatro onde Zizi se apresentava.

Numa entrevista, Angela Afirmou:

“Eu nunca bati em ninguém nem naquela cantora em 1981. Nunca dei um tapa nela e nem ela em mim. E até hoje eu carrego essa cruz de infâmia e calúnia”, contou, em entrevista ao portal ‘Gay Blog’.

“Admiro muito o canto dela, quero o bem dela, não desejo mal nenhum. Foi imperdoável e continua sendo a omissão. Ela simplesmente poderia ter dito a qualquer hora, desde aquele ano até hoje: ‘Olha, a Ro Ro nunca me bateu’. Não custava nada”, continuou.

“Ela calou, e quem cala consente. Eu fiquei com essa má fama, mas só acredita nessa fama quem não presta”, finalizou a cantora

Uma situação, que causou mais impacto, foi quando, após o rompimento, Ângela compareceu a um show de Zizi. Na voz de Ângela:

Mandei comprar ingressos e fiquei em casa, com o meu amigo Claudio conversando e bebendo vinho. Como tivesse sobrado meia garrafa, botamos na mochila dele e saímos. Quando entramos no teatro, as luzes já estavam apagadas. Sentamos, no maior silêncio. Mas comecei a participar do espetáculo, como uma espectadora comum que estivesse adorando o que se passava no palco, cantei junto, aplaudi e gritei “Zizi Possi, eu te amo!”. Acontece que eu sou extrovertida e essa é minha maneira de opinar, tanto para elogiar quanto para protestar. A primeira parte do show terminou com My sweet lord que eu adoro e cantei interinha, do meu lugarzinho. foi quando as luzes se acenderam para o intervalo.”  

No entanto, esta interferência não teria agradado Zizi, que, segundo a mídia da época, teria retrucado:

 “Eu gostaria muito que você entendesse…Usasse toda a sua inteligência e percebesse que é com você que eu estou falando agora. As suas vibrações me incomodam, sua presença me perturba… Você nunca me ajudou, por favor não me atrapalhe, não se interponha em minha vida pois você não me é mais uma pessoa querida. Levanta, levanta por favor vai embora! Levanta, saia do teatro agora! Eu preciso de paz pra tocar e cantar!”

Ângela acabou sendo retirada do Teatro pela polícia. Disse ter sido traída:

Zizi me traiu. e quando falo em traição, não me refiro a infidelidade. Traição é aquilo que Tiradentes sofreu e eu, que não sou dada a usar coroas de espinhos, não estou afim de entrar nessa… mas não esquento não. Nunca vi um monte de formigas derrubar Gibraltar, a ambição dessa mulher, de ser Sara Bernhardt, já esta quase preenchida, falta chegarmos ao tribunal. Aí sim, a pobre moçoila seduzida pela terrível bêbada e perigosa homossexual”

O fato é que a mídia da época, no início dos anos 80, tratava a relação de ambas como um tabu, sendo feitas diversas referências preconceituosas sobre a homossexualidade.

 As razões do rompimento são questões menores e que devem ficar para as revistas de fofocas. O fato é que Ângela fez uma música confessional, uma declaração de amor e de incredulidade por alguém que está magoando o eu lírico, alguém que está machucando, se escondendo, decepcionando um amor profundo, mas que, apesar de tudo, o amor resiste.

 É uma canção que oferece um perdão em nome do amor, que tenta dizer que nem sempre haverá outra oportunidade para vivê-lo e ganhá-lo a cada revés, mas que ao mesmo tempo se contradiz, dizendo ser o amor eterno, não passageiro, que está sempre disposto a perdoar se o objeto do sentimento puder, ainda que brevemente, estender a mão.

 “Fogueira” foi gravada também por Bethania em 1983, mas seu caráter absolutamente confessional a faz mais bonita quando interpretada por Ângela Ro Ro, cuja voz rouca e o estilo de cantar lembra um pouco a cantora Maysa (e a intensidade dos sentimentos, também).   

 Essa musica foi gravada no seu terceiro LP, “Escândalo”, de 1981, título de uma das músicas do LP, de autoria de Caetano, como que uma tradução daquele momento em que vivia a cantora, logo após a separação de Zizi Possi, ocorrida de modo traumático e coberta do modo naturalmente sensacionalista pela imprensa da época.   

 A capa do disco traz o nome “escândalo” como se fora uma manchete de jornal, parodiando as notícias escandalosas que saíram na imprensa por conta de seu rompimento com a cantora Zizi Possi.

 Muitos anos depois, em entrevista ao Jornal “Gazeta do Povo”, Ângela esclareceu:  

  Não quero ser indelicado, mas o desafeto com a Zizi Possi continua?

Com a Zizi Possi? Não há o menor desafeto. Eu tive uma profunda tristeza da gente. Ela e eu fomos vítimas de manipulações, de más línguas. As pessoas foram muito maliciosas. Muita maldade, muita truculência física e psicológica contra mim. Eu nunca bati em ninguém, muito menos na Zizi e ela sabe disso. Eu acho a Zizi uma pessoa muito bacana. Nunca mais fizemos amizade. Ela tem uma filha linda que canta tão bem quanto ela. Zizi é uma grande artista. Pena que nunca mais fizemos amizade porque eu poderia pedir dinheiro emprestado a ela, né?

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“Totalmente demais”

As mulheres e suas canções… às vezes as canções são inspiradas numa mulher real, que tem nome. 

Outras, inspiradas em mulheres fictícias, imaginadas. 

Parece que Totalmente Demais, letra de Tavinho Paes para música de Arnaldo Brandão e Robério Rafael, não foi feita para mulher nenhuma, ou para muitas mulheres. Ou pelo menos essa é a visão do autor. 

A música, gravada inicialmente pela banda Hanói Hanói em 1986, e gravadea em seguida (no mesmo ano) por Caetano Veloso, descreve uma mulher, linda, andrógina, poderosa, impusliva, de sexualidade fluida e que sabe jogar o jogo da vida, da sexualidade e sedução, e joga para ganhar…

Ela curte a vida, agita um “broto” a mais (“broto” é (expressão típica entre os anos 60 e 80, que indica uma pessoa jovem e bonita), que curte “só pra relaxar”, que “transou um Rolling Stone no Canadá”.

Há insinuações sobre dinheiro e consumo de drogas, de alguém que frequenta a alta sociedade. essa é a mulher “totalmente demais”.

Num depoimento ao Portal Cronópios, Tavinho Paes, o autor da letra (ele é poeta, compositor, escritor, roteirista, jornalista e artista visual) fala um pouco da canção: 

 A INSPIRAÇÃO

Como se tratava de uma fotografia de uma época (e não uma descrição detalhada de um personagem único na vida real da cidade), não teve uma única musa inspiradora, mas um conjunto de detalhes colhidos na paisagem louca do final dos anos 70, no período da ditadura que ficou conhecido como o da Anistia Lenta e Gradual, geopoliticamente engendrada pelo General Golbery do Couto e Silva.

Sem prejuízo do ideal produzido pela mídia, a tal TOTALMENTE DEMAIS pode ser literalmente comparada a um Frankenstein. Suas musas inspiradoras contribuiram para que esta vestal existisse, totalmente ideal como os poderes do Santo Graal, emprestando-lhe características de suas personalidades (incuíndo o atualmente tão badalado componente narcísico), índícios dos seus carateres (volúveis ou não); fragmentos de suas vontades e desejos (todos meio alucinados)...

Foram mulheres de idades diferentes, destinos incompossíveis e vidas sem nenhuma conexão entre si. Foram fotografadas em bailes, bares da noite e festas. Estavam todas compromissadas e satisfeitas com as hoje intoleráveis liberdades sexuais conquistadas pelos hippies e outsiders das décadas de 60 e 70 (coisa que favoreceu muito os psicopatas). Conheceram seus corpos e mentes, por dentro e por fora, com desaconselháveis e poderosas doses de ácido lisérgico, além de suaves baforadas de cannabis e haxixe e fungadas numa cocaína inca que desapareceu do mercado há muito tempo. Todas:…maravilhosas!!!

O ERRO DE DIGITAÇÃO E A CENSURA 

Nesta primeira versão, um erro de digitação no material enviado para a Censura Federal, inviabilizou sua presença nas rádios e tvs. Logo no primeiro verso, ao invés de “LINDA COMO UM NENÉM…”, a datilógrafa escreveu: “LINDA COMO UM HOMEM…”.

Meu Deus! De onde tiraram aquela infâmia! Deveria ter processado a gravadora por lucros cessantes! Afinal, a musa inspiradora dos dois primeiros versos era nada mais nada menos que minha filha, Dianna Rosa, então com 2 anos de idade, que, por acaso, passava pelo corredor da casa, enquanto eu e Arnaldo compunhamos as primeiras linhas da melodia e ele não identificou o sexo dela, tomando-a por meu filho…

Quem foi a pessoa responsável por esse descuido, até hoje, ninguém sabe; mas, o resultado deste deslize foi conhecido uma semana depois: a música acabou sendo proibida de frequentar qualquer emissora de rádio ou televisão. O laudo do Censor, outro nobre desconhecido, foi taxativo: PROIBIDA EXECUÇÃO PÚBLICA POR CONTER APOLOGIA AO HOMOSSEXUALISMO.

A CENSURA, PELA SEGUNDA VEZ

Acreditávamos que os satãs de Brasília já tinham esquecido a consulta prévia, feita em 84. Com a abertura caminhando sob o tacão do General Figueiredo e o êrro datilográfico devidamente recauchutado, acreditávamos que, finalmente teríamos outra chance. Santa ingenuidade! Mais uma vez quebramos a cara. Desta vez, o laudo do legista apontou Incitação e Apologia ao Uso de Drogas! Mesmo recorrendo, nenhum dos recursos que tentamos passaram no Conselho Superior de Censura(colegiado que resolvia alguns casos semelhantes).

A VERSÃO DE CAETANO 

A versão que isentou a TOTALMENTE DEMAIS de suas implicações com as leis de exceção do regime militar e a retirou de seu incomodo ostracismo, só chegou anos depois, através de Caetano Veloso, num álbum apócrifo, que ele declarou inúmeras vezes que não gosta, registrado num projeto acústico gravado ao vivo, no Copacabana Palace, batizado de… TOTALMENTE DEMAIS. 

ONDE ANDAM TAIS MUSAS? 

..digamos que, com a máquina do tempo triturando a história, a musa da canção perdeu sua identidade polimorfa. Ficou muito tempo mofando na geladeira da morgue. Quando se tornou popular, as várias musas que montaram aquele Frankstein cubista já haviam evaporado. Algumas resistem até hoje e outras apareceram com as novas versões remixadas (como a da cantora Perlla, que ressuscitou o tipo e o introduziu na seara do hip-hop).
Na verdade, as verdadeiras musas desta canção foram aqueles tempos que nem a nostalgia mais saudosista restaurará. As musas que deram charme e montaram a fotografia daquela Cleópatra virtual são os pequenos registros dos tempos em que as paixões entravam em combustão espontânea, incendiavam a libido das pessoas e a AIDS ainda não era uma ameaça.

Uma história interessante, o retrato de um pedaço da realidade de uma época, por intermédio dessas mulheres… tidas como “totalmente demais…” 

É algo que ultrapassa os limites de apologia ao amor livre (o que, na época da canção, tinha algo de revolucionário em épocas em que o HIV matava, e os grupos de risco estavam ligados ao comportamento sexual). Uma mulher (ou muitas) que representam uma liberdade sem culpa , e um poder que se revela no seu interesse desapegado…

Linda como um neném
Que sexo tem, que sexo tem?
Namora sempre com gay
Que nexo faz tão sexy gay

Rock´n´roll?
Pra ela é jazz
Já transou
Hi-life, society
Bancando o jogo alto

Totalmente demais, demais

Esperta como ninguém
Só vai na boa
Só se dá bem
Na lua cheia tá doida
Apaixonada, não sei por quem

Agitou um broto a mais
Nem pensou
Curtiu, já foi,
Foi só pra relaxar

Totalmente demais, demais

Sabe sempre quem tem
Faz avião, só se dá bem
Se pensa que tem problema
Não tem problema
Faz sexo bem

Seu carro é do ano
Seu broto é lindo
Seu corpo, tapete, do tipo que voa
É toda fina
Modelito design

Se pisca, hello
Se não dá, bye-bye

Seu cheque é novinho, ela adora gastar
Transou um Rolling Stone no Canadá

Fazendo manha
Bancando o jogo
Que mulher

Totalmente demais, demais
Totalmente demais, demais

Fonte: http://cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4728

quarta 04 dezembro 2013 15:56 , em Mulheres e suas canções

Festa do Interior – Como o atentado do Riocentro virou uma grande festa de São João

Festa do Interior até hoje é uma das músicas mais lembradas na voz de Gal Costa. Com letra de Abel Silva e música de Moraes Moerira, é uma música alegre, festiva, que conta a história de uma grande festa de São João, através de uma música alegre, animada.

O que poucos sabem que a inspiração para uma composição tão alegre vem de um episódio triste. O atentado no Riocentro, ocorrido em 30 de abril de 1981, em que setores do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Rio de Janeiro visavam explodir bombas no Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, onde se realizava uma apresentação de MPB em comemoração do Dia do Trabalhador. No local estavam mais de 20 mil pessoas. As explosões tencionavam incriminar grupos que se opunham à ditadura militar no Brasil e, assim, justificar a necessidade de recrudescimento do processo de abertura política.

Assim, Abel Silva, filho de Pastor metodista, que não teve festa de Carnaval nem São João, jamais imaginaria que faria uma música que tivesse o São João como tema. A partir do episódio do Riocentro, ele pensou que no São João também tinha bombas, mas ele queria falar algo contra o terrorismo, de modo absolutamente diferente, em que nas bombas, ninguém mata, ninguém morre, e o que explode era o amor. Mandou a letra para Moraes Moreira e o resto é história.

Esta era a resposta lírica de Abel ao terrorismo, que é relatada por Ruy Godinho, no seu IV Volume do livro “Então, foi Assim?”

FESTA DO INTERIOR

Iniciavam-se promissores os anos 1980. O governo brasileiro claudicava na tentativa de promover a abertura política, preconizada pelo general João Batista Figueredo, depois de duas décadas com o país vivendo os horrores da ditadura militar. Mas no dia 30 de abril de 1981, uma quinta-feira, às nove e meia da noite, uma bomba explodiu no estacionamento do Centro de Convenções Riocentro, dentro de um automóvel Puma e no colo de um sargento do exército, matando-o e ferindo gravemente um capitão também do exército, que o acompanhava, ambos agentes do DOICODI, a polícia política do Exército.

    Lá dentro se realizava um grande show em comemoração ao dia do Trabalho, promovido pelo centro Brasil Democrático (Cebrade) – entidade ligada ao partido comunista Brasileiro (PCB) – com a participação de diversos artistas e a presença de um público estimado em 20 mil pessoas. Nessa hora, sintomaticamente quem cantava era outra explosão, esta de alegria: Elba Ramalho. A bomba que pulverizou as pernas e as partes intimas sargento tinha destino certo. Seria instalada junto à plateia, mas, providencialmente, explodiu antes da hora, no colo do terrorista, um “especialista” em explosivos. O atentado foi cometido por militares “linha dura,” na tentativa transloucada de conter o processo de abertura política comandado pelo general conhecido por sua arrogância e autenticidade, que dizia gostar mais do cheiro de cavalo do que do povo. Se os meliantes tivessem logrado êxito, teria ocorrido uma tragédia, com consequências imensuráveis.

    Na época, eram comuns os atentados á bomba em entidades do movimento social, nas casas de políticos oposicionistas e nas bancas de revistas que vendiam publicações consideradas subversivas.

    Foi nesse clima conturbado e doentio que, paradoxalmente, nasceu uma das canções que mais desencadeiam a alegria nas multidões: Festa do Interior, da parceria do baiano Moraes Moreira com o poeta fluminense Abel Silva.

    “Estava acontecendo uma onda de bombas e de explosões nas bancas de jornal. A direita estava completamente enlouquecida. Além de torturar, um bando da Marinha, do Exército e da Aeronáutica começou a agir por conta própria. Os famosos terrorismos de direita, quando as próprias Forças Armadas de um país – estabelecidas para defender o cidadão, defender o território – por uma ideologia começa a fazer do seu próprio povo um inimigo, a partir de ideias, de religiões… Então, o povo em vez de ser como inimigos os bárbaros, os vizinhos, os colonizadores, tem o próprio exército, que ele paga com o seu imposto – porque são os caras pagos para defender o cidadão que começam a substituir o bandido. A velha lição da máfia: vender proteção contra você próprio e o cara tem que pagar”, revolta-se Abel Silva.

    “Aí eu queria fazer alguma coisa sobre isso, mas eu nunca entrei na onda da canção do protesto. A minha não é essa. Eu acho que deu algumas músicas bonitas, como o próprio Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores), que é linda, Disparada, que é linda. Geraldo Vandré fez algumas bonitas, Chico também fez de uma maneira mais poética. Mas eu achava que eu tinha que falar isso de uma maneira tão poética que só eu mesmo explicaria a revolta. E eu estava levando o meu filho no jardim-de-infância, na escola, em Ipanema, quando me veio a ideia: nas trincheiras da alegria o que explodia era o amor. O meu raciocínio era o seguinte: há uma trincheira da morte no Brasil. Os caras estão entrincheirados, atirando, jogando bombas. E do outro lado estava a alegria, a felicidade, coisas como Os Novos Baianos, o futebol brasileiro, o carnaval brasileiro, a poesia brasileira. E eles são a morte. Agora, como é que eu vou falar isso? Eu percebi que eu poderia fazer a metáfora de uma guerra que fosse uma festa do interior brasileiro, uma festa de São João. De onde veio o outro verso, onde tem bomba, mas ninguém mata e ninguém morre. São bombas da guerra magia, ninguém matava e ninguém morria. Aí eu falei: Então eu vou botar uma festa de São João que seja a metáfora dessa guerra.’ Eu comecei a descrever a festa de São João sem canjiquinha, sem barraquinha, com pinceladas absolutamente originais,” relata sem falsa modéstia o poeta Abel Silva.

    “Aí eu falei: Isso é Moraes. Liguei pro Moraes. Fiquei um pouco entre Moraes e Dominguinhos, que também é meu parceiro, é muito alegre, mas mora em São Paulo. Moraes mora no Rio. Aí eu peguei e mandei pro Moraes por telefone: Moraes, pega aí a caneta. Eu fiz muita música assim. Aí eu fui ditando pra ele. Quando chegou nessa parte fagulhas, ponta de agulhas, brilham estrelas de São João… Bombas na guerra magia, ninguém matava ninguém morria… Nas trincheiras da alegria o que explodia era o amor Moraes falou: Abel é carioca. Mandando esse negócio de São João pra mim? Pô, parceiro, que coisa linda! Vamos fazer, vamos fazer! Aí você vê a leitura que ele fez. Arrebentou. Eu desliguei. Deve ter demorado uma meia hora, 40 minutos, ele telefonou cantando música inteirinha, exatamente como ela é hoje. Ele fez praticamente lendo. Foi lendo e foi fazendo. Quando ele chegou ao fim da quarta, quinta vez, a música já estava pronta”, desvenda Abel entusiasmado.

    “aí a D. Maria da Graça, Gal Costa, estava preparando o show para o Canecão – no tempo em que o Canecão era o Canecão. Não tinham outras grandes casas no Rio de Janeiro. Era um show preparado para arrebentar. Lincoln Olivetti como arranjador, grandes músicos, cheio de alegria. Inclui a música que saiu puxando o show, o disco e ainda levou a Gal a fazer outro show no Maracanãzinho, chamado Festa do Interior. Eu fui lá assistir. Vi aquele Maracanãzinho, no bis, o público cantando a música toda. E não queria parar. Era para cantar a noite inteira”, regozija – se o poeta.

    Ainda de acordo com Abel Silva, Festa do Interior tem mais de quinze versões no exterior: finlandês, japonês, espanhol-mexicano, espanhol- cucaracha, espanhol-cubano, cubano -americano, italiano- cada uma mais engraçada do que a outra. No Brasil é uma música que toca em qualquer época, principalmente no carnaval e nas festas de São João.

    O frevo Festa do Interior foi gravado por Gal Costa, no LP Fantasia (1981), no CD Gal – Série Grandes Nomes (1994) : pelo conjunto Ferves, no LP A Maior Festa do Mundo (1983), por Moraes Moreira – Acústico (1995), e no CD Bahião com H (2000), além de outros registros.

    “Eu só conseguiria falar contra um terrorista esfregando na cara dele uma Festa do Interior, mostrando que ele é a morte. E que ele não deveria ter o direito de levar a morte dele para pessoas felizes e alegres, ele não quer saber se tem uma criancinha no colo de uma mãe de 30 anos. Então a minha linguagem sempre foi essa. Eu digo de uma maneira clara, mas eu não digo de uma forma unívoca, que tenha uma leitura só. Eu não conseguiria dizer soldados armados, amados ou não. Eu estaria sendo muito óbvio. Eu acho fortíssimo, mas eu não diria assim”, finaliza o poeta Abel.

“Nós não vamos nos dispersar….” Chega de Mágoa – 1985

Muita gente se lembra de “We are the world“, cação de Michael Jackson e Lionel Ritchie, no qual vários artistas americanos gravaram a canção para ajudar as vítimas da fome na África. O exemplo se espraiou pelo mundo, mas aqui no Brasil, em 1985, muitos artistas se reuniram para gravar “Chega de Mágoa”, para arrecadar fundos para os flagelados da seca no Nordeste brasileiro. 

Conta Nelson Motta, na biografia que escreveu sobre Tim Maia (Vale tudo – o som e a fúria de Tim Maia), que a música foi composta por Gilberto Gil, que fez também parte da letra, que teve a participação de Chico Buarque e Milton Nascimento, além de palpites de Djavan, Fagner e Erasmo Carlos. O Brasil se via ali, no baiano Gil, nos cariocas Chico e Erasmo, no alagoano Djavan, no cearense Fagner e no mineiro Milton. No entanto, a obra foi assinada como “criação coletiva”.

Segue a narração de Nelson Motta: 

O Sindicato dos Músicos, que assumiu a coordenação da produção do disco, convocou 155 cantores e instrumentistas para três sessões de gravação em um estúdio na Barra da Tijuca. O maestro Dori Caymmi foi escolhido para escrever o arranjo e reger a orquestra e o coro. Com uma tiragem inicial de 500 mil, o compacto seria vendido em todas as agências da Caixa Econômica, patrocinadora do projeto.

Sem maiores controvérsias, foram escalados Antonio Carlos Jobim, Milton Nascimento, Rita Lee, Gal Costa, Djavan, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Fagner, as duplas formadas por Elba Ramalho e Gonzaguinha, Caetano Veloso e Simone, Chico Buarque e Fafá de Belém e Roberto e Erasmo Carlos, com Elizeth Cardoso representando a velha guarda e o duo Paula Toller, do Kid Abelha, e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, a ala jovem. E naturalmente, Tim Maia.

Rascunho da letra

Depois da introdução com o piano soberano de Tom Jobim, Milton começava emocionado, acompanhado por Wagner Tiso, cantando as palavras de Tancredo Neves como herança das esperanças da Nova República:


O disco só podia ser comprado nas agências da Caixa Econômica Federal e teve uma tiragem de 500 mil cópias numeradas. Para adquiri-lo era preciso fazer um depósito do valor de 10 mil cruzeiros (moeda da época)

(MILTON)
Nós não vamos nos dispersar
Juntos é tão bom saber
Que passado o tormento
Será nosso esse chão

Seguia-se a voz de Djavan e Rita Lee

(DJAVAN)
Água, dona da vida
Ouve essa prece tão comovida
(RITA LEE)
Chega
Brinca na fonte
Desce do monte
Vem como amiga

E as 150 vozes famosas atacavam o refrão como uma torcida em um estádio, cada um com seu estilo, no seu ritmo…

(CORO)
Te quero água de beber, um copo d’água
Marola mansa da maré
Mulher amada
Te quero orvalho toda manhã

Seguiam-se os solos de Gal Costa e das duplas Elba Ramalho e Gonzaguinha, Chico Buarque e Fafá de Belém, Simone e Caetano Veloso.

(GAL)
Terra, olha essa terra
Raça valente, gente sofrida
(GONZAGUINHA)
Chama,
(ELBA)
Tem que ter feira,
(GONZAGUINHA)
Tem que ter festa,
(GONZAGUINHA E ELBA)
Vamos pra vida
(CHICO)
Te quero terra pra plantar,
(CHICO E FAFÁ)
Te quero verde
(CAETANO)
Te quero casa pra morar,
(CAETANO E SIMONE)
Te quero rede

As jovens vozes de Roger e Paula entravam harmonizadas em terças, e a inconfundível Bethânia entoava:

(PAULA TOLLER E ROGER)
Depois da chuva o sol da manhã

(MARIA BETHÂNIA)
Chega de mágoa,
Chega de tanto penar

Voltava novamente o coro…

(CORO)
Canto, o nosso canto,
Joga no vento
Uma semente, gente
Olha essa gente

Logo depois, chega a “Divina”: Elizeth Cardoso cantando  o refrão e Gil fazendo as respostas. Elizeth, a veterana do grupo, foi quem teve o privilégio de solar em mais de um verso.:

“(ELISETE CARDOSO)
Te quero água de beber
Um copo d’água
Marola mansa da maré
Mulher amada
(GILBERTO GIL)
Te quero terra pra plantar
Te quero verde
Te quero casa pra morar
Te quero rede
(ELISETE CARDOSO)
Depois da chuva o sol da manhã

Depois do coro, a dupla não podia deixar de ser Roberto e Erasmo Carlos:

(CORO)
Canto e o nosso canto
Joga no tempo uma semente
(CORO)
Gente
(ROBERTO CARLOS)
Quero te ver crescer bonita
(CORO)
Olha essa gente
(ERASMO CARLOS)
Quero te ver crescer feliz
(CORO)
Olha essa gente
(ROBERTO E ERASMO)
Olha essa terra, olha essa gente
(CORO)
Olha essa gente
(ROBERTO CARLOS)
Gente pra ser feliz, feliz

Aí entrava o coro, e o vozeirão do contracanto (que em We are the World ficou com Ray Charles), ficou com Tim Maia, para que Fagner, que ali deixava sua marca, encerrando a canção: 


(CORO COM TIM MAIA)
Te quero água de beber
Um copo d’água
Marola mansa da maré
Mulher amada
Te quero terra pra plantar
Te quero verde
Te quero casa pra morar
Te quero rede
Depois da chuva o sol da manhã
( FAGNER )
Chega de mágoa
Chega de tanto penar.

Nelson Motta ainda conta uma peculiaridade sobre Tim Maia:

Em evento tão coletivo, solidário e politizado, era a única função possível para um anarquista, musical: solto, fazendo o que lhe desse na telha, movido a uísque, brizola e bauretes, que ofereceu generosamente no estúdio. Inclusive à “Divina” Elizeth, que recusou como uma prima-dona:”Tirem esse elefante daqui!”.

Para quem não sabe, “brizola” e “bauretes” eram gírias para maconha.

A lista de todos que participaram do projeto: 

Aizik, Alceu, Alceu Valença, Alcione, Alves, Amelinha, Antônio Carlos, Aquiles (MPB-4), Baby Consuelo, Bebeto, Belchior, Beth Carvalho, Bussler, Caetano Veloso, Camarão, Carlinhos Vergueiro, Carlão, Celso Fonseca, Charlot, Chico Buarque, Cláudio Nucci, Cristina, Cristovam Bastos, Dadi, Daltro de Almeida, Dinorah (as gatas), Dorinha Tapajós, Dori Caymmi, Ednardo, Edu, Edu Lobo, Eduardo Dusek, Elba Ramalho, Elifas Andreato, Elisete Cardoso, Elza Soares, Emilinha Borba, Eunydice, Erasmo Carlos, Fafá de Belém, Faini, Fátima Guedes, Fernando Brant, Gal Costa, George Israel, Geraldo Azevedo, Gereba, Gilberto Gil, Golden Boys, Gonzaguinha, Guilherme Arantes, Ivan Lins, Jamil, Jacques Morelembaum, Joana, João Mário Linhares, João do Vale, José Luiz, Joyce, Kleiton e Kledir, Kid Vinil, Lana, Leoni, Leo Jaime, Lúcio Alves, Luiz Avellar, Luiz Carlos, Luiz Carlos da Vila, Luiz Duarte, Luiz Gonzaga, Luiz Melodia, Lulu Santos, Magro (MPB-4), Malard, Manassés, Maria Bethânia, Marina, Marlene, Martinho da Vila, Marçal, Maurício Tapajós, Mauro Duarte, Mazola, Miguel Denilson, Mirabô, Miltinho (MPB-4), Milton Banana, Milton Nascimento, Milton Araújo, Miúcha, Moraes Moreira, Olívia Byington, Olívia Hime, O Quarteto, Paulinho da Viola, Patativa do Assaré, Paula Toller, Pareschi, Penteado, Perrotta, Perrottão, Pepeu Gomes, Raimundo Fagner, Rafael Rabello, Reinaldo Arias, Ricardo Magno, Rita Lee, Roberto de Carvalho, Roberto Carlos, Roberto Ribeiro, Roberto Teixeira, Rosane Guedes, Roger (Ultraje a Rigor), Rosemary, Rubão, Rui (MPB-4), Sandra de Sá, Sérgio Ricardo, Simone, Sílvio Cézar, Sueli Costa, Stephani, Tânia Alves, Tavito, Teo Lima, Telma, Telma Costa, Terezinha de Jesus, Tim Maia, Tom Jobim, Tunai, Verônica Sabino, Vilma Nascimento, Virgílio, Yura, Wagner Tiso, Walter, Zenilda, Zé da Flauta, Zé Ramalho, Zé Renato, Zizi Possi.

Fonte: Vale tudo – o som e a fúria de Tim Maia (Nelson Motta. Ed. Objetiva)

Uptown Girl – De Billy Joel Para Elle Macpherson e Christie Brinkley

Em 1983, Billy Joel lançava uma de suas mais conhecidas canções: Uptown Girl, do seu álbum An innocent man. A música relata uma daquelas situações típicas em que um “downtown man”, ou seja, um homem simples, de classe média, deseja uma “uptown girl”, que numa tradução livre, poderia ser considerada uma “Patricinha”, que vive num mundo de luxo.

A música parece um desejo, um sonho de um sujeito comum, que primeiro idealiza a garota, que vive num “white bread world”, que seria algo como um mundo de elite cor-de-rosa. Esta garota, segundo a canção, ficaria cansada do seu mundo, seus garotos  e seus presentes de luxo, e vai se acabar se apaixonando por um cara comum – como o eu-lírico da canção. Ele diz que não poderá comprar-lhe pérolas, mas quando ele souber quem ela é, ela ficará com ele, e ele poderá, não sem orgulho, dizer que aquela “uptown girl” lhe pertence. 

An Innocent Man: Amazon.com.br: CD e Vinil
An Innocent man

Pode-se ver, sem muito esforço, que a canção tem por detrás aquela velha história conhecida do cara comum que está encantado com a moça rica, bonita, mas inacessível, e com o sonho de que ela esqueça de seu mundo fútil e venha cair nos seus braços…

O interessante é que essa música tem, na verdade, mais de uma musa inspiradora. Segundo o livro  “Música e Musas”, de Michael Heatley & Frank Hopkinson,  Billy Joel estava de férias no Caribe quando ele conheceu três modelos que estavam no mesmo hotel – Ellen Macpherson, Christie Brinkley e uma jovem e então desconhecida chamada Whitney Houston. Ele estava tocando piano quando as três ficaram maravilhadas vendo-o tocar o instrumento. 

Elle Macpherson | Supermodels, Elle macpherson, 80s swimsuit

Elle Macpherson

Joel conta que conseguiu atrair a atenção das mulheres apenas com o poder da música (embora o fato de ser um popstar deva ter ajudado). Ele disse: “Olhei para cima e havia essas três estonteantes mulheres olhando para mim do outro lado do piano ”

Inicialmente, Billy Joel começou a sair com Macpherson. ele estava recém-divorciado do seu casamento com Elizabeth Weber. Ele diz que eles estavam saindo (“dating”), mas não estavam comprometidos. Depois, quando ela foi para a Europa, ele começou a sair com Christie Brinkley, com a qual acabou se casando. 

Assim a música que originariamente se chamaria “uptown girls”, passou a se chamar “uptown girl”, e a musa inspiradora pouco a pouco passou a ser Christie…

The Dream Tiger — Christie Brinkley, 1983

Christie Brinkley

Joel, que é de Long Island, Nova Iorque, se identificou como o cara comum que conseguia atrair tão belas modelos, a ponto de dizer numa entrevista: 

O fato de que eu possa atrair uma mulher tão linda como Christie deve dar esperança a cada cara feia no mundo!”

A música, como todo o disco “An innocent man” foi uma homenagem à música pop dos anos 60. Divertida, leve e com uma história por trás…

O clipe mostra bem a cena. Se passa numa oficina mecânica, quando chega a “uptown gilrl” (a mulher no clipe é Christie Brinkley, uma das inspiradoras da canção e então já mulher de Billy Joel) com seu motorista particular. Vejam as danças típicas dos anos 80, inclusive o “break”

Fontes:

Música e Musas, de Michael Heatley & Frank Hopkinson. Trad. Christina Bazan e Christiane de Brito Andrei. Gutemberg, 2011

http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-1327163/Billy-Joels-Uptown-Girl-inspired-Elle-Macpherson-Christie-Brinkley.html#ixzz1liP6rNXF